sexta-feira, 9 de abril de 2010

Cumplicidade (1ª parte)

- O quê??? O que você está me dizendo?
- Está certo. Eu vou repetir. Se eu matasse o Fernando, você esconderia a arma?
- Cara, que conversa é essa?
- Olha só... eu não tenho irmãos. Eu tenho você como amigo... melhor amigo. Não posso ter esse tipo de assunto com meus pais.
- Olha, cara... para com isso. Eu sei que você odeia o cara tanto quanto eu, mas...
- Isso! Você sabe do que eu to falando! Não acha que é hora de parar de apanhar só porque ele implica? De sair da escola sem ter medo? De ir jogar bola com os outros, sair pelas ruas...
- Parou, parou! Eu entendi a sua ideia, mas para de pensar nisso! A vida é assim mesmo. Você acha que ele é feliz nos infernizando? Cara, eu sei o que ele merece, mas não podemos.

A cabeça de Eduardo baixa.
- Ta achando que eu to aguentando isso?
- Cara, a gente tá no shopping... uma porção de gente pode nos ouvir.
Eduardo contém as lágrimas.
- Ta bom, cara... esquece. Ia ser loucura, mesmo.
Roger coloca as mãos nos ombros de Eduardo.
- Matar não é a saída. Nós fomos condenados a isso... então vamos aguentar heroicamente isso.
- É coisa de herói passar por isso? As garotas não olham pra nós... e nossos colegas, quando não estão no chão com a gente, estão rindo de nós!
- Essa não é a saída! Nós vamos provar pra todo o mundo que nós somos os melhores... mas sem isso.
- Cara... eu tava só te testando.
- Como é que é?
- Eu só queria saber até aonde você iria comigo, defendendo a minha causa.
- Não acredito!
- Pois é. Mas fica frio. Você passou.
- Peraí... jura que tava encenando?
- Por mais que eu odeie o Fernando... onde eu ia parar depois que ele fosse morto? Eu ia me ferrar, cara! Pra cada ação, uma consequência.

Roger suspira aliviado. Ele sentiu o coração voltar ao velho ritmo.
- Mas nessa... - despedia-se Eduardo.
- Já?
- É. Tenho mais uns troços pra fazer.
- Também já vou.
Apertaram as mãos e saíram de perto um do outro. Moravam em bairros não muito próximos. Cada qual seguiu seu rumo.

Tarde da noite, Roger ainda não tem sono. Ele se revolta. resolve deitar no sofá. Liga o televisor. Ele está cansado. De repente, seus olhos se abrem mais. Ele ouve o noticiário. A âncora anuncia o encontro de um corpo de um jovem estudante. Ele foi encontrado num beco, com um tiro no pescoço.

Na casa de Eduardo, o telefone toca. Eduardo mesmo atende, como se estivesse dormindo ao lado do aparelho.
- Eduardo? - falou a voz, do outro lado da linha.

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