sexta-feira, 15 de junho de 2018

Cronicas de Nashtar - 3

- Quando você se tornou real?- foi a primeira coisa que lhe ouvi falar após sairmos da cela, já estávamos no túnel.
       
             Não sabia se era minha ânsia por tê-lo ou a emoção da fuga inusitada que de alguma forma tornou tudo um pouco semelhante demais a um delírio. Não respondi, mesmo que tudo fosse um grande absurdo aquilo já era um pouco demais.

Estávamos no meio do túnel, a sirene tocou em algum lugar na prisão.

- Eles vão perder um pouco de tempo revirando na prisão, mas não temos muito tempo a perder. - disse tentando me manter focada - Conhece alguém que poderia me ceder um barco?

-Não.

"Certo, lá vamos nós de novo à pirataria. Merda!"  pensei, avançando rapidamente para o fim do túnel.

           Uma alavanca na parte interior do túnel me permitiu abrir a passagem em frente a estatua, Heitor ficou um tanto pasmo quando viu onde saímos.

- Em frente ao governador?!- perguntou num tom de surpresa irônica.

- A principal regra para fazer passagens secretas é sempre fazê-las num lugar fácil de lembrar. Vamos!- disse apagando a lamparina, aquela luz poderia ser vista por um guarda mais atento na torre de vigia. E a sirene deve ter acordado qualquer espirito no subterrâneo, não podia contar que não acordasse um guarda.

          O caminho pela costa era íngreme, o escuro da noite tornava ainda mais complicada a caminhada, meus pés foram castigados pelas pedras e não era difícil acabarmos topando com arbustos, apesar da luminosidade da lua. Eramos uma dupla atrapalhada numa situação complicada. Hector segurava minha mão com força, parecia acreditar que eu poderia sumir na escuridão a qualquer momento, como uma miragem vista na neblina da noite escura. Em 20 minutos descemos a encosta, os guardas na cidade estavam em polvorosa.

-Precisamos chegar no porto! - disse reflexiva, ninguém esperaria o roubo de um navio no meio de uma fuga, a cidade não possuía tantos guardas assim para continuar a defender o porto.

-Sei de uma caverna a poucos minutos daqui que sai no mar próximo ao porto, você consegue ficar submersa por 5 minutos?

-Não

- Você vai precisar evitar se mexer, assim seu pulmão vai ficar com ar por mais tempo, Vou te puxando.

- Tudo bem.

           Chegamos na caverna no tempo estimado, já podíamos ver o lanternas se aproximando, seguindo nossos rastros ainda um pouco próximos da estatua do governador.


-Vamos! - Disse Hector apressado.

             A caverna era estreita, uma fissura numa elevação da encosta, tornava impossível que das pessoas andassem lado a lado. caminhamos por 15 minutos, Hector em minha frente segurava minha mão com força. Até que a caverna se ampliou e nos encontramos numa parte com o teto alto, e uma lagoa profunda de um azul intenso, a água dava uma luz bruxuleante ao teto com o mais suave movimento.

Estava congelante.

           Foi a primeira coisa que pensei antes de ficar submersa, meus dentes chacoalhavam com vida própria, nos encaramos tomando coragem um do outro, e assim ele me deu uma das mãos e me levou para o fundo. A água era tão escura quanto a caverna, mas envolta pelo mistério que envolve toda a profundeza submarina preferi me manter no visível ao invés das sombras, existia uma luz azulada em nossa frente, que cada vez ficava maior, meu pulmão reclamava por ar, mas ele estava certo, não me mover ajudava. Apesar de me sentir levemente sufocada e cada vez mais sentir essa falta de ar. Estava consciente. e se tratando de um mergulho tão longo aquilo era muito, mas meus olhos estavam cada vez mais pesados, e me sentia esmagada pela falta de ar. A luz estava mais próxima.


            Meus pulmões doíam e buscavam desesperadamente o ar. então, finalmente emergimos da água, arfei em busca de ar por alguns minutos, até que finalmente minha respiração relaxou e pude ver onde tínhamos saído. 
            Era uma gruta a beira mar, apesar do porto ser visível da gruta, eles não possuíam uma boa visão devido a uma grande rocha de um cinza pálido, na lateral que a escondia.

- Está melhor?- disse Hector, me encarando com uma certa preocupação, seus olhos brilhavam com a luz da lua.

-Sim, vamos- disse, enquanto levantava do chão da gruta.

          O porto estava mal iluminado, exceto pelo farol de sinalização e as lamparinas carregadas pelos vigias, não existia nada de realmente preocupante.

- Como você pretende roubar um navio? - Perguntou ele meio absorto, a Frota era conhecida por sua rapidez, se simplesmente roubássemos logo seriamos pegos.

- Não se preocupe com isso, preciso que fique de vigia.
créditos: http://naviosenavegadores.blogspot.com/2017/08/

disse subindo no primeiro navio, um lindo bergantim, logo, soltei o controlador do leme, agachada atras da amurada da popa, a escuridão era uma boa aliada apesar de traiçoeira, era dificil soltar os parafusos apenas com uma faca.

             Foi mais simples tirar o timão, o encaixe de madeira era quase primitivo.

            Desci pela corda que amarrava o navio ao pier, com o timão pendurado no braço e um sorriso irônico a minha espera.

- Você não pode estar falando sério...

-Sim, estou. o plano é fazer isso com os navios mais rápidos da frota, exceto o Henry Morgan. Vamos nele.


- Vamos roubar o Henry Morgan?! - disse Heitor incrédulo com um sorriso nervoso.

              Conseguia entender sua incredulidade, o Henry Morgan, debaixo do luar mostrava ainda mais a sua imponência, nem a mais escura noite poderia esconder a obra prima da frota de Almíscar. O motivo de todo o tesão do sádico governador Timote III. 

- Sim, agora pare de falar e me ajude.

              E assim sabotamos um a um os três navios mais rápidos da frota, os únicos que talvez pudessem nos alcançar, se o Henry Morgan não fosse a joia que era. Os guardas estavam começando a intensificar a guarda do ´porto, a escuridão deixava aos poucos o céu, enquanto chegava a penumbra, a sombra do que era a noite.Embarcamos no Henry Morgan, um lindo galeão com o casco modificado para ser mais leve, mais rápido. Sem o véu negro da noite, o sono e pouco movimento do porto, logo fomos identificados.

- Invasores! No Henry! Rápido! - gritou um dos vigias, enquanto marinheiros apressados embarcavam o Anne Bony, outros lhes atiravam com as pistolas.

Logo que começaram a içar as velas e tira-lo do pier, descobriram a falta do timão.

- Sua filha da ****!!!! Porcos imundos!!!- e mais tantos outros carinhosos elogios foram ditos pela tripulação.

              Com o tempo que gastaram a organizar o Anne para a saída, nosso henry já estava tão afastado da costa que ela começava a ficar diminuta, estávamos entrando em alto mar. E o sabor da gloria e das promessas de luxuria me deixavam com água na boca. Enquanto guiava o timão observava Heitor na amurada da proa.

-Vou checar o que temos de estoque- disse ele largando sua divagações enquanto aproximava-se da entrada para a os aposentos do capitão.

                 Não demorou muito, o som de porcelana quebrando veio aos meus ouvidos, junto com o som do aço batendo contra aço. Lentamente, saiu com as mãos levantadas, a ponta de um mosquete pressionada levemente na garganta.

-Obrigada por roubar o Henry Morgan por mim... - disse  a Imperatriz.