terça-feira, 11 de maio de 2010

A torre de Marfim (1ª parte)

- As boas vindas -

Fazia um belo verão na região que um dia fora chamada França. Mas devemos lembrar que estamos em outros tempos. A combinação química dos céus europeus fazem com que o astro maior pareça uma esfera cinza luminosa. Sua luz, agora acizentada, iluminava as vidraças blindadas da "Torre de Marfim", lar dos estudiosos do mundo todo. Pelo menos um deles. O Dr. Aki, grande reitor da torre recebe em seu escritório uma mensagem sobre o carregamento que estava atrasado. Sobe as escadas até o porto, o campo aberto sobre a torre. Dali, avista o veículo de navegação aérea, referido na mensagem.

O veículo larga delicadamente, por cabos, uma caixa grande, metálica, com um símbolo amarelo e uma figura caricata com forma humana. Dr. Aki coloca o cartão no identificador da caixa. Os "carregadores" abrem as portas e começam a abrir as cápsulas. Nelas estavam os sonolentos "novos estudantes".

- Para a câmara de temperatura, rápido. - gritou o doutor. E todos seguiram para a câmera.

Ali estavam 16 jovens. A câmara já havia os escanerizado. Estavam limpos. Eram humanos, não sub-raça. Dentre os jovens que ali estavam, o doutor centrou os olhos em um certo Chris. Chega, finalmente a parte da entrevista particular. Após a identificação de cada membro do grupo, Dr. Aki faz questão de entrevistar o jovem primeiro.

- Bem, meu jovem - inicia o Dr. - de onde veio mesmo seu carregamento?

- Dr. Aki, não é? Imaginei que a Torre soubesse de onde eles vêm.

- Desculpe... é da Torre de Bronze, não? Você sabe como era o nome do país onde hoje está a Torre de Bronze?

- Eu até gosto de estudar história, doutor... Mas pra falar a verdade, não tenho certeza. Me disseram que era um tal "Brasil"... ou "Peru"... eu simplesmente não sei. Não devo ser tão inteligente quanto pareço.

- Me conte mais uma coisa... e isso é sério! Você sabe porque uma região como aquela precisou de uma Torre? Será que foi o mesmo motivo desta região?

- Doutor, decerto todas foram. O que eu sei é que os museus viraram ruínas. As escolas viraram presídios para menores. Nossas músicas, nossa arte, nossa cultura... tudo foi destruído pelos... pelos...

- "Primatas"? - arriscou completar o doutor.

- Serve. E, pra fugir desse sistema, o Professor Arquimedes usou uma outra Torre como base. Eu tive de passar no exame de aptidão para ser aceito. Mas sabe que não havia muita concorrência? Fiz o exame certo de que passaria.

- Ótimo, meu jovem. Me fale sobre as coisas que gostava de fazer lá.

- Rock, doutor. Nunca me vendi ao controle da mídia no meu país. Eu vi aqueles primatas se armando... todos tinham televisão na cabeça. Bisbilhotavam a vida dos outros pela televisão. deixavam de viver suas vidas por isso. Eu nunca fui assim. Ouvia meu rock sozinho... ou com uma garota que eu simplesmente adorava. Nós falávamos de arte, de poesia, das coisas que sentíamos.

- Isso antes da Torre?

- Não... ela já estava construída.

- E as coisas fugiram do controle?

- Como em todo o mundo, doutor. Eu cheguei em casa e não havia ninguém... ela estava destruída por dentro. Nem minha mãe, nem minha irmã... Papai já estava na Torre do norte e não havia previsão de retornar. Foi aí que cheguei à conclusão... elas foram levadas por aqueles animais!

- Você não precisa falar disso se não quiser. Se preferir, pode me contar o que pretende fazer aqui. Tem algo especial que gostaria de aprender? Sabe de quantas academias estou falando, não?

- Eu queria aprender esgrima.

- Esgrima? Mas eu pensava que você era um admirador das artes...? Você sabe que para isso terá de tentar o alistamento?

- Tem que haver outro jeito, doutor. Sem alistamento. Na Torre de onde vim, não havia esgrima. Aqui não é onde um dia foi a França? Eu quero aprender a lutar isso.

- Não pretende um tipo de arte marcial? Temos bons professores...

- Sem ofensa, mas o doutor me ouviu muito bem. Nunca se sabe quando vou precisar lutar.

- Oh, não, não fique preocupado. Este Torre é muito segura. Bem, o tempo que eu tinha para entrevistá-lo acabou. Suas aulas começam amanhã. Espero que goste da Torre de Marfim.

- Está certo, doutor. Vou tentar dormir.

Chris levantou-se, apertou a mão do Dr. Aki com firmeza e dirigiu-se ao alojamento masculino para alunos. A próxima nova aluna era Julia. Ela passou com a cabeça baixa por Chris. Ele gostou do que viu: uma moça morena, de cabelos longos e lisos. Seus olhos eram de um castanho muito claro. A porta da sala do Dr. Aki abriu. Ela entrou sem olhar para trás, bem diferente do jovem, que quase tocava com o nariz na parede final do corredor. Desajeitado, mas sem perder a pose, ele se recompõe e continua seu caminho para o alojamento. Olhou por uma das janelas do corredor e sentiu saudades do Sol vermelho. Ali, ele era cinza.

(Continua, é claro.)

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