segunda-feira, 18 de abril de 2011

As Crônicas Tibianas - Cap. 52

A preparação para o deserto

Logo no meu segundo dia, outros sonhos envolvendo Malu deixaram-me desnorteado. Vesti minha túnica de Mago, empunhei meu cajado e meu escudo e rumei ao norte de Darashia. Tinha alguma comida na mochila que eu carregava. Na saída da cidade, contemplei os céus. "Malu sairá das garras da morte!" - era o pensamento que não saía de minha mente.


A mim, naquele momento, não importava se Andrezinho, Grazi ou Sam não estavam comigo. "Que me sigam." Eu pensava. Sim, eu estava realmente entorpecido pelos sonhos, aborrecido, pois Malu não havia voltado a mim, mesmo quando acendi a vela no templo. Pensamentos e sentimentos se misturavam. Vaguei então pelo deserto.

A areia me cercava e meus passos pareciam inúteis. Atravessei lentamente algumas dunas. O Sol Tibiano não parecia ter a menor piedade de meu corpo, que estava muito quente e suado. De repente, me senti cercado por quatro dunas, as quais faziam-me escorregar cada vez mais para o centro entre elas. A areia cedeu e caí no subsolo de um túnel muito escuro. Senti como se elos de uma corrente viessem a prender minhas pernas e mãos de uma maneira nem suave, nem agressiva. Acendi a palma de minha mão e entendi do que se tratava: dezenas de besouros cercavam as paredes do túnel, e agora também meu corpo.

Confesso que gritei quando entendi a situação. E parece que desembestei, também. A luz atraiu os insetos que abriram asas e interromperam a passagem para o outro lado do túnel. Diminuí a luz, e eles pareciam se acalmar. Ajustei, então, a luz do cajado para poder me guiar.

Percebendo que não adiantaria apenas diminuir a luz, pois os besouros não abriam caminho. Uns ainda perseguiam a luz do cajado. Decidi, então, fazer uma Onda de Fogo. Embora o ruído fosse perturbador, o resultado foi satisfatório: eles corriam em direção à morte.

Mais adiante, encontrei uma tumba dourada, mas muito pesada para ser carregada. Já fazia horas que eu estava perdido, e há tempos eu não estava agindo em sã consciência. Abri a tumba imprudentemente.

Cheguei a ver algum reflexo dourado provindo do interior da tumba. Mas o brilho foi coberto por um vulto em forma humana, mas muito pior. Uma mão, aparentemente envolta por um longo tecido branco tocou um de meus ombros. Meus passos foram confusos, para trás, fazendo-me sentar no chão.

A partir daquele instante, percebi o erro que cometi. Uma maldita Múmia se aproximava de mim, e tudo que eu consegui fazer foi tremer, sentado no chão, procurando o cajado. As mãos se aproximavam, e eu as sentia, mesmo no escuro, numa tentativa lenta de me sufocar até uma silenciosa morte.
Seus olhos refletiram a luz do cajado, mas eu estava quase paralizado, não sabia como agir. Quando senti o calor dos panos das mãos da Múmia ante meu rosto, uma grande fogueira parecia ter brotado entre os pés da criatura abominável. Ela abaixou a cabeça para avistar a chama e foi imediatamente consumida pelo fogo, que cresceu repentinamente, transformando-a em um ser agonizante.

Meus olhos se abriram mais que o normal após o fenômeno. Mas sua explicação foi logo iluminada pelo fogo: Grazi segurava uma Pedra Rúnica e Andrezinho sacava sua espada pronto para um golpe após outro contra o que restava da Múmia. Ele decepou seus braços necróticos e arrancou-lhe a cabeça em menos de três segundos.

[B.W.] - Andrezinho... Grazi... como foi que vocês...
[Gra] - O vento nos contou.
[And] - E depois, quantos buracos no deserto soltam fogo?
[B.W.] - Quanto a Sam?
[And] - Seu aprendiz ficou na entrada desta caverna. Vamos embora? - estendendo a mão para que eu levantasse.

Caminhamos por um trajeto diferente do que eu fiz, e nem sequer relevei a possibilidade de conferir o ouro da tumba, deixado para trás. Paramos numa ante-sala. Andrezinho assobiou e um buraco se abriu no teto, à pazadas. Sam Scott estava lá em cima. Ele nos puxou com uma corda. E nós quatro rumamos de volta à Darashia.

No silêncio da volta, refleti sobre meus pensamentos egoístas. Teria sido a falta de sono, ou os sonhos? A falta de Malu? O Sol? Não, antes de pegar o Sol, meus pensamentos já eram vergonhosos. Refleti sobre a sorte que tive em ter bons amigos.

[And] - Foi um bom treino, Bierum. - assustei-me com a iniciativa de Andrezinho - Mas na próxima, não vá sozinho. Todos nós precisamos treinar um pouco antes da travessia do Deserto de Darashia.
[Sam] - É verdade...
[Gra] - É claro que Bierum sabe disso, rapazes. Ele não teria ido ao norte pensando encontrar o gênio lá. Ou teria, bierum?
[B.W.] - Estou cansado demais. Na verdade, eu nem ao menso sei se estava pensando quando entrei naquela caverna desértica. Mas sou-lhes muito grato pelo resgate.
[Sam] - Alguém treinou mais do que a mágica permite. Hahaha...

Porém, Sam riu sozinho. Depois, como se despertasse de um transe, compreendeu que um único sentimento me cegou a ponto de mergulhar no deserto: a tristeza.

Voltamos à Darashia. Tomei um bom banho, tirando a areia de minhas botas. Contemplei os céus da noite do deserto.


Prometi que voltaria lá. E eu o venceria. Com meus amigos. Por Malu.

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