segunda-feira, 11 de julho de 2011

As Crônicas Tibianas - Cap. 58

O encontro com o Gênio de Darashia


Senti que mais alguém poderia ter entrado na sala escura comigo. Mas não era hora para averiguar isso. Acendi prontamente a palma de minha mão. Olhei para trás, ali estavam Milla, dava socos na porta de pedra.
- Os outros estão...
- Na batalha. Eles fizeram isso para que nós chegássemos até aqui.
O rosto de Milla entristeceu um pouco. Mas se fechou para que continuássemos o caminho. Era mais um corredor escuro. Felizmente, nos levou a uma sala espaçosa, com pilastras cilíndricas e um altar com um balcão de pedra. Atrás dele estava o misterioso homem do manto azul, novamente.


- Vocês vieram ver o Gênio de Darashia, não é?
- Você sabe a resposta! - Respondi atrevidamente.
- Vocês são Bierum Wizzard e Milla Cartezini. Da moça eu sei os motivos para estar aqui. Mas quanto a você, mago...
- Você é o Gênio, não é?
- Muito bem. Foi muito esperto em deduzir isso.
- Ninguém teria tanto poder...
- Afinal, Bierum Wizzard, o que o trouxe a este lugar?

E foi no momento daquela pergunta em que me ajoelhei em reverência ao Gênio. Coloquei meu cajado no chão, meu escudo ao lado e prostrei minha cabeça com os olhos levemente fechados. Milla estava logo atrás de mim.
- Você é o Gênio Djin, aquele que tem poderes sobre a vida e sobre a morte...
- Não seja exagerado... - ele disse isso e deixou o manto cair no chão, revelando sua forma real. Era semelhante a um homem forte e a presença de seus poderes mágicos enfestaram a sala quando ele se revelou.
- ...eu preciso saber porque Malú Rosa não voltou da morte, mesmo depois de eu ter acendido uma vela para ela no templo de Venore.
- Ora... - disse ele com a mão no queixo - ...é compreensível que ela tenha feito isso...
- Por quê?! - perguntei sem notar que meu tom de voz se alterava.
- Bierum Wizzard... eu vou dar-lhe a chance de que ela mesma explique. Porém, só poderei permitir esse encontro uma única vez... e com tempo limitado.

Meus olhos brilharam no instante em que ele disse aquilo. Levantei minha cabeça virando-a para Milla. Ela ainda tinha tristeza no rosto, mas fez um sinal com a cabeça em tom positivo.

- Agora que sabe que eu cheguei até aqui para isso, realize esse desejo.
- Afirmo, Bierum, que o local para onde irei enviá-lo vai além do plano material. Seja respeitoso e não tente nada com seus poderes mágicos.
- É certo que eu a verei?
- Certamente.
- Então não há risco de que eu seja desrespeitoso.

O Gênio bateu palmas e as luzes apagaram. Repentinamente o céu apareceu sobre mim, azulado. O chão virou grama e o horizonte era imenso. Em minha frente, uma torre vermelha e um vulto feminino na janela me observava lá de cima. "Venha!" -  dizia uma voz que entrava diretamente em minha mente. E eu subi as escadas da torre apressadamente.

A sala que alcancei continha apenas um espelho negro. Quando me aproximei, ao invés de meu reflexo estava ninguém menos que Malu. Tentei abraçá-la, mas o vidro do espelho negro era um obstáculo. Pensei em quebrá-lo, mas a advertência do Gênio me veio em mente. Então eu me ajoelhei. E chorei, com a mão aberta sobre o vidro. Ela se abaixou e sua mão tocou a outra face do espelho.

- Meu querido Bierum...
- Malu, você precisa voltar comigo.
- Oh, Bierum. Eu bem queria voltar com você.
Meus olhos arregalaram-se naquele instante.
- Como?
- Não posso voltar. Eu fiz amigos onde estou. E é um lugar onde todos sempre lutam juntos. É um plano além dos limites do seu mundo, um plano maravilhoso que eu sei que você vai gostar também...
- Se eu ficar...

Quando eu disse isso, o céu escureceu. A torre começou a se desfazer, como se o vento a dissolvesse. Comecei a descer as escadas e, quando toquei o solo, entendi que estava numa ilha flutuante. Apenas uma árvore estava erguida sobre a ilha. Em uma ponta, o espelho negro. No lado oposto, um espelho branco.

- Se você ficar... - disse Malu, dentro do espelho negro - ...terá de esperar aqui por muito tempo para estar ao meu lado. E eu esperarei por você.

Eu estava hesitante com a proposta. Mas, do espelho branco, Milla começou a gritar:
- Bierum!
Levantei-me e virei meu corpo para Milla.
- A decisão que você tomar será respeitada... mas não nos deixe!
- Eu torno minhas as palavras de Milla. - Disse Malu. - Bierum, eu quero que você fique ao meu lado, mas não quero que você sofra me esperando dessa forma.
- Não poderei fazê-la feliz, se eu não puder sê-lo também.  -Concluí.

Caminhei até o espelho branco, que não tinha vidro.  Parei diante dele e me virei de frente para Malu.
- Não quero que pense... - e ela começou a falar as mesmas palavras que eu - ...que o que eu sinto é menos forte. Mas nossos mundos não se pertencem mais. Seguiremos adiante até que nossos caminhos se encontrem.

Adentrei no espelho branco em direção a Milla. Lá fora, sobre o espelho negro, o céu voltou a ser azul. Dentro do espelho branco, tudo ficou escuro. Quando abri meus olhos, eu estava novamente ajoelhado diante do Gênio. Abraçada a mim, estava Milla. Ela me abraçava com tanta força, que tremia.

Agradeci ao Gênio. Assim que olhamos para a porta de saída, Bryan, Sam Scott, Andrezinho e Biertrus nos aguardavam.
- Deve ter sido uma luta horrível... -  eu disse enquanto olhava para meus chamuscados amigos.
- Fomos todos vitoriosos. É o que importa. - Disse Sam Scott.
Lágrimas encheram meus olhos. Não era tristeza pela perda definitiva de Malu. Mas era felicidade de não estar sozinho.

O corredor que serviu de campo de batalha tornou-se de pedra novamente. E assim que tocamos novamente o solo de areia do Deserto de Darashia, ouvi um ruído de metal rompendo. Abri a palma de minha mão e reparei que a aliança que eu tinha com Malú estava se rompendo. Quando eu a tirei, de dentro dela saiu uma outra aliança, um pouco menor. As duas estavam rompidas.

- Mas tem algo errado aí, Bierum! - Alertava Andrezinho.
- Você está falando da...
- Grazi! Não a vemos desde o incidente na montanha.

Campamos no deserto, longe da cavidade da Aranha Gigante, longe da montanha Wyvern. Andrezinho lembrou-nos claramente: a aventura precisava continuar. Por Grazi.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Bryan, que saudade, cara. Eram mesmo bons tempos. Espero que não se importe de levar teu nome adiante nas crônicas.
      Me manda um email: robertobiergmail.com
      Preciso que tu me autorize a usar este nome no livro, ok?

      Excluir

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