quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Digimon e depressão.

Dos animes da epoca de 2000, digimon se demonstrava para os ocidentais como mais um poke clone, no oriente era só um anime para vender os outros produtos, principalmente v-pets, que até hoje é o carro chefe da franquia, o sucesso foi enorme da animação, mesmo que com baixa qualidade e feita com poucos recursos, mudou o mundo e foi uma febre, mas tinha algo de peculiar nele: comparado as animações de 99-00, era um pouco mais adulta. Digimon foi uma franquia criada para garotos, Aki Maita, criou os tamagochis, mas a bandai disse: "Tá na hora dos boys" e com isso juntou aqueles bichinhos que viviam morrendo, com batalhas, onde o seu, não era o unico que morria.

Mas como eu disse ele era para garotos de 9 há 14 anos, porém um dos concepters, bem não pensava assim. Ao criar C'mon digimon, a bandai achou que ele estava um pouco pesado(não foi só esse o motivo de não ter saído do papel), afinal na quinta pagina já deixa explicito que o cachorro do protagonista morreu queimado, que possivelmente o espirito foi parar no v-pet abandonado e que deathmon simplesmente devora os outros bichinhos e pasmém, eles são considerados seres vivos naquela one-shot, algo que não se via tanto em animes infanto juvenis. Então ele foi esperto, vamos colocar sutileza adulta, V-Tamer está cheio de analogias adultas, que os olhos mais puros não notam, porém os mais "espertos" notam, como é a Tamer da Rosemon, que diz explicitamente que o objetivo de vida dela é ter uma vida boa, nem que ela tenha que fazer certas "coisas". Nos jogos é um caso a parte, o primeiro de saturno tem uma historia simples, porém de uma dificuldade exagerada, world tem suas pequenas sutilezas, mas lidar com o impacto que a morte do bicho que você criou e dedicou, não é algo que acostumamos tão facilmente. Veio então Adventure 01, com um plot bobinho, uma quase copia do v-tamer, porém já mantendo algumas questões adultas em destaque: Separação dos pais, algo que quase nunca havia sido usado em um contexto nesse tipo de animação, morte da familia e se adaptar a uma nova familia que ainda tem certos receios com a criança, sacrificio de personagem, sem censurar a cena da morte, abuso tanto fisicos, psicologicos e talvez sexuais, como foi o caso da Tailmon...
02 se distanciou um pouco, dando maturidade para as crianças, que haviam crescido e colocando crianças mais espertas, do que haviam surgido no anterior, além das mortes pesadas e filosofias de vida( o que tri disse: foda-se)
Aí então veio Tamers e meu amigo, esse sim tem muitas analogias, mas a que eu quero puxar em destaque é a depressão infantil, algo que é bem recorrente hoje, porém na epoca, era "mimimi falta de laço".
Juri Katou é uma personagem do nucleo principal, uma secundaria de peso. Tamers com seus 3 principais, já davam personalidades muitos distintas para eles e unicas, principalmente a Ruki, que entrou em role que geralmente é de garotos. Se você ver a Juri, ela é uma guria chata, normie, vive com um boneco na mão, irritante diga-se, mas o jeito dela é na verdade uma valvula de escape para uma vida triste e dolorosa.
Juri perdeu a mãe quando nova, tendo que substituir esse papel na casa, até seu pai se casar com outra, que não há trata bem. O pai da Juri, segundo teorias, era envolvido com a Yakuza, para poder pagar as contas do bar, o que pode também ter causado a morte da mãe da mesma. O pai dela não dá atenção para ela e parece não se importar, lembrando que ele se importa, mas a personagem não sabe isso.
Aos 10 anos, Juri tem que ajudar o pai no trabalho, onde ela deve lidar com bebados, que geralmente devem flertar ou tentar certas coisas com ela, além que foi insinuado que o pai dela é do tipo: "Não foi nada", para não perder clientes. O pouco dinheiro que ela deve ganhar, ela coleciona Digimon Cards porque ela é fã, mesmo se irritando com o que os meninos dizem sobre ser "coisa de garoto". Talvez até ela ser digi-fã de armario, venha de algum trauma que ela recebeu em conta do pai, que provavelmente a censurou por causa disso. O fantoche é o item que mais se nota que ela está sozinha, criou ela uma segunda personalidade no boneco, para agradar a todos e chamar atenção, assim podendo suprir a tristeza e ser a queen b. Quando conheceu Leomon, ela viu nele uma figura paterna, forte, sábio e cheio de orgulho, algo que claramente faltava em seu pai, quase o tornando um sugar daddy, quando dá em cima do digimon. Enquanto estava com Leomon, posso dizer, foi a epoca que ela estava mais feliz, ela podia ter com quem contar, com quem proteger e podia ser forte, como os amigos dela, ela não estava mais sozinha, o vazio existencial havia passado, não era mais uma barman qualquer, assediada por velhos bebados, mas sim uma tamer com um digimon.
Mas alegria de secundario dura pouco e foi aí que Tamers disse: Agora vamos separar os lobos das ovelhas. Beelzemon um bad boy(parecido com um punk japonês, ou até um yakuza não?) vai lá e numa demonstração de crueldade, jamais vista na serie, mata Leomon a sangue frio, na frente de todos, como se fosse algo corriqueiro, matou o leão e matou a tamer. Ela ficou sem chão, Takato quis dar uma de machão, mas não teve sucesso, dor emocional não se cura tão facilmente, ela havia novamente perdido quem ela amava e se tornado inutil, até que o D-reaper, o vilão disse algo: Eles são todos podres...né?
Usando o fantoche, no qual ela relacionava com segunda personalidade, personalidade essa de escape, conseguiu fazer ela crer que destruir a humanidade, era o unico meio do vazio acabar, afinal...não haveria mais nada né? Ela era util de novo, do modo errado, mas era util e foi assim que ela morreu completamente.
Dentro do D-reaper ela remoia cada dor do passado, o reconhecimento do corpo da mãe, os maus tratos da madrasta, o assedio dos bebuns, tornando assim o D-reaper mais forte, o que é uma clara alusão em como a depressão nos destroi por dentro a cada dia que passa e os amigos delas viam apenas a casca, algo que é muito comum em quem tem transtorno depressivo. Porém tamers ensinou que existe um peso. Aquilo de alguma maneira mexeu muito com Beelzemon, a ponto dele sentir um afeto quase que platonico por ela. O sentimento que Beelzemon tinha por ela, que abriu espaço para entrar dentro do D-reaper, o que pecou foi ter o Takato ter saido com ela nos braços e não o Beelzemon, enfim...
Ao tentar salvar ela, Beelzemon falhou, pelo medo, o que muita gente critica é: A mas ela poderia fugir, não foi pq é chata.
Ela é uma criança de 10 anos, o maior assassino da vida dela estava ali na frente dela e pior ainda, quando se está na depressão, é impossivel fugir da barriga do monstro.
Daqui para frente todo mundo sabe o que aconteceu, porém o importante é: Ela saiu da barriga de um monstro, por um cavaleiro com armadura rubra com asas de anjos, uma clara analogia ao amor, ao menos ao meu ver e depois que ela saiu de lá ela notou, ela não estava sozinha, até mesmo o pior dos seres, que na visão dela era o Beelzemon, queria ela por perto e foi aí que ela melhorou, pois mesmo com a vida fudida, ela tinha com quem contar.
Como talvez foi o futuro dela? O cd drama indica que ela superou as dores do passado(o que é muito para uma garota de 10 anos), que também sentiu algo platonico pelo beelzemon e que agora iria se focar em ter uma vida melhor...se ela conseguiu, bem talvez, o mundo de tamers é o mais real e cruel de todos os outros, acho que ela se casou com o Takato, ajuda ele com a padaria, janta na casa do Ryo e da Ruki toda a quinta e é feliz...ao lado de quem ama ela.
Mas aonde eu quis chegar com isso? Digimon não é só mais um animezinho infantil como muita gente julga, mas sim uma obra bem estabelecida, com muita coisa profunda que merece ser analisada e não só os bichinhos, mas também os protagonistas.
Ter falado de depressão e tanto outros casos que naquela epoca era quase que desconhecidos e ignorados, ainda mais com tamanha sutileza a ponto de não incomodar crianças e passar pela censura da saban, mostra que a serie foi muito bem escrita e que difere de muita coisa que tem no mercado, se mantendo fortemente, sem perder as raizes. Além que conseguiu dar um inicio, meio e fim a um caso de depressão, de maneira maestrosa e que se mostra muito util hoje em dia.
Fim.

Um comentário:

  1. Nossa, Gabriel! Muito boa a análise, cara. Digimon não é uma coisa que me atrai, mas eu li calmamente esse teu artigo e gostei muito do que li.
    Parabéns pela ótica. Espero que tu aplique mais vezes esse formato, ele amadureceu muito bem no teu argumento.
    Um abraço!

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