quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Cronicas de Nashtar - O inicio 01

Ela caminhou em direção a porta, uma luz azul fantasmagórica a banhava, e em mais uma vida havia conseguido atingir o seu objetivo, era isso o que Lisbeth Bolguer pensava ao abrir a porta e morrer novamente. Ao vislumbrar seu destino de novo.

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Era meio dia quando Lisbeth chegou a Almíscar, disfarçada de marujo. Não havia sido fácil passar aquele mês tendo apenas a si como companhia, mas em quem mais se pode confiar quando se é capaz de lembrar de todas suas outras vidas?

Hector a esperava em Almíscar, sabia disso porque a verdade é que em todas as suas reencarnações muitas coisas mudavam isso era fato. Mas existia algo que nunca mudaria, Hector sempre iria lhe esperar na cidade do anis mesmo que não soubesse o que lhe segurava aquela cidade, o que esperava que as correntezas e o vento lhe trouxessem.

Permitiu-se admirar o surgimento da cidade que ganhava contornos através da neblina, chegariam na surdina, ela sabia que Mary Head possuía um esconderijo próximo a cidade, por isso havia entrado na tripulação. E isso era algo que não lhe causava arrependimentos outra coisa que sabia era que Mary Head era justa com seus marujos, e a prova disso era sua bolsa cheia de ouro no bolso interno da casaca roubada de um marinheiro de Tayrin. Afinal existia honra na pirataria, ao menos enquanto a ganancia e os anseios que perturbavam todos os homens não estivessem em jogo.


Atrás de si o convés começava a se agitar, não havia conseguido dormir, como não conseguira dormir em todas as vezes que fora encontrar Hector, o imediato estava no timão e havia lhe observado durante parte da madrugada, fingira-se de mudo o que havia lhe feito evitar conversas, o imediato havia lhe matado algumas vidas atras e a raiva que possuía ainda estava quente no pulso.

- Ah se você lembra-se! - pensou ela lhe vendo pelo canto dos olhos - Faria com você o pior do que tive em todas essas miseráveis vidas.

Precisava de mais rum, desceu a dispensa e furtou o rum escondido pelo imediato, assim como alguns biscoitos saboreou sua sutil vingança, estava chegando em terra e logo não precisaria mais comer aquela massa dura como pedra que chamavam de biscoito, sentia falta dos biscoitos e de sua vida de Tayrin. antes de toda aquela maldição, ainda conseguia ouvir a risada dos gêmeos bastardos ecoando em seu cérebro.

"Dessa vez eles me pagam", pensava ela todas as vezes que via os rostos esbranquiçados de forma doentia, antisséptica, inumana. E os olhos negros como a mais profunda escuridão dos confins da terra.

O Galeão foi ancorado, e o movimento pelos botes começava, o chamado para descarregar o lucro da viagem, venderiam parte da mercadoria em Almíscar, o governador perdera a lealdade a coroa a um bom tempo, e a promessa de não saquear a cidade assumida por todos os tripulantes dos "Olhos de Helena" era mais eficaz do que a marinha do porto.

A tarefa era pesada, mas trabalhos braçais não lhe incomodavam, eram um momento que lhe permitia sentir-se simples, como qualquer humano, e devido a seu passado violento seu corpo era mais condicionado que o das mulheres daquela época, havia tempos que deixara de ser uma donzela delicada, e em alguns momentos desconfiava se algum dia havia realmente sido.

Após a venda da seda pegou sua parte e encaminhou-se para o centro da cidade, as ruas sinuosas haviam mudado consideravelmente desde sua ultima estada ali, em sua ultima vida quando lhe chamavam de Alessa, naquele tempo era uma ferreira oficio aprendido por conta de seu pai naquela vida, conseguiu depois de muito custo livrar-se de um casamento arranjado e roubou os lucros de uma espada vendida há um Lord de outra cidade.

Naquele tempo Almíscar começava a destacar-se pela produção do anis estrelado, que era muito utilizado na produção de perfumes, na culinária e em remédios, as más línguas falavam que o fato da cidade ser dificilmente atacada mesmo com tanta prosperidade era devido aos campos de anis, que na sabedoria popular era reconhecido como erva de boa sorte. Não costumava acreditar no sobrenatural, para era mais confortável acreditar nas politicas de "apaziguamento" do governador, mas com toda a coisa da maldição, com o tempo era consideravelmente difícil continuar descrente. O fato é que a produção do Anis havia tornado a cidade pobre que vivia da pesca, em uma capital portuária, era difícil achar-me nessa cidade, principalmente na busca de algo tão especifico quanto a "la fontanella di legami", mas logo peguei-me observando os laços de fita amarrados ao redor da fonte. A fonte era uma estatua da Deusa Yana, seu corpo nu estático permitia que seus cabelos longos fossem até o o fundo da fonte e lhe rodeassem como um véu, de alguns de seus fios jorravam linhas d'água. Era o resquício da velha aldeia de pescadores que havia conhecido tempos atrás. Os laços promessas de amor eterno, como o amor do casal primordial que ela havia unido com um de seus laços de fita e assim acabado com  guerra entre os Deuses e o Povo livre.

E ele não estava ali.

Um menino que observava as fitas amarradas nos fios mais baixo notou meu espanto.

-Você procura pelo moço que vem aqui todos os dias? - disse ainda um tanto triste, os cabelos nos ombros eram castanhos não parecia ter mais que 6 anos, seu rosto tinha os traços de uma criança travessa e aquele comportamento dele com toda certeza era tão anormal quanto a falta de Hector na fonte.

-Sim, procuro por ele.

- Eu conheço ele, ele costuma brincar comigo aqui na fonte enquanto espera alguém, Ele me disse que não sabe porque acredita nisso, mas a pessoa de quem sente falta viria a essa fonte. Não sabe como sabe disso. Faz uns dias que a filha do governador acusou ele de fazer coisas feias com ela, minha mãe não quer que eu saiba que coisas feias são essas e diz que eu não deveria gostar dele, porque ele é um homem mau que fez coisas feias. Mas eu não quero que ele seja enforcado. Você acha que sou mau por isso?- O menino disse tudo muito rápido era visível como todos aqueles sentimentos e pensamentos atormentavam sua cabecinha preocupada que ainda conhecia tão pouco da culpa e maldade. De seus olhos começaram a brotar lagrimas que brilhavam por um momento como cristais de sua pureza e inocência até se perderem na água da fonte.

- Não acho que você seja um garoto mau. Também não acho que o moço da fonte tenha feito algo feio.

-Ele não faria coisas feias... - disse o menino limpando as lagrimas, sentei-me ao seu lado e apoiei minha mão em seu ombro.

- Sabe o moço da fonte não estava errado. Ele não estava esperando sem motivo, ele me esperava.

-Então é você a moça bonita dos sonhos dele?

Eu não sabia que Hector estava tendo sonhos comigo, aquilo não costumava acontecer, não tão cedo.

-Sim, sou eu. E vou salvar ele, não se preocupe.- disse soltando os cabelos e amarrando o meu 33° laço na fonte, a fita vermelha tremulou com o movimento da água. - Vou salva-lo, te prometo.


E mais uma vez seria necessário empunhar minha espada e todas as armas que só são permitidas as mulheres... Mas isso é uma historia para outro momento... Agora descanse querido leitor, e deixe-me com meus planos e tramoias.



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