domingo, 6 de setembro de 2015

Além do jardim.




A
cordou do que parecia ser um sonho, Wirt olha para os lados e vê seu meio-irmão e seus amigos, em sua volta, esperando,olhando preocupados, porém aliviados. O que ele havia vivido anteriormente era demais para os outros acreditarem ou para ser real, mas enquanto ria, com as bobagens de Greg, acabou realizando que ele havia passado por algo mais do que real.
Após os amigos deixarem o quarto, Wirt chamou seu irmão e falando em seu ouvido, disse:
-Olha, melhor manter o que passamos naquele lugar em segredo...
Greg apenas concordou com a cabeça, mesmo sendo pequeno e bobo, ele sabia que ninguém iria acreditar naquilo.

Após um tempo no hospital, estava na hora de partir. Mesmo assim, aquilo que eles passaram, não saía da mente do jovem Wirt, algo o incomodava, cada um que ele conheceu naquele mundo, mexeu muito em seu ser. Estava inquieto, então resolveu dar uma volta no hospital antes, para agradecer aos médicos e até pegar inspiração para o seu próximo poema.

Passando pelos quartos, ele vê uma porta entre-aberta, algo chamou sua atenção, parecia que a sombra, a mesma sombra que o perseguiu naquela floresta amaldiçoada estava ali. Abrindo lentamente, ele vê uma face conhecida, deitada numa cama. Parecia uma bela adormecida, com uma beleza tão grande, que ficava dificil de descrever.
Chegando perto, ele nota que é uma garota que conheceu naquele mundo, seu nome era Lorna. Uma garota, cujo um demônio a incomodava e, que, graças a Wirt, ela se livrou do mesmo. Era alguém que ele se interessou profundamente, talvez até mais que a própria Sara. Estava ali, deitada, fria como gelo, branca como a neve, num sono profundo e calmo. O garoto se apavora  e tenta procurar uma enfermeira, para que a mesma explique o que aconteceu com ela.

- Essa garota... Bem, ela foi vítima daquele assassino, foi a única que sobreviveu e desconfiam que ela conseguiu dar um jeito nele também. O cara era maluco, meio canibal, sei lá, coisa pesada. - Disse a enfermeira, fazendo cara de assustada. Porém Wirt estava mais preocupado em saber o estado dela.

- Foi uma pancada na cabeça, batida de carro, chegou aqui em coma, a coitadinha, a única familiar é uma tia, que é dona de um pet shop.

A enfermeira olha uns papeis e então volta a responder ao garoto.
- Faz um bom tempo que ela está aqui, nenhuma melhora, infelizmente. Me desculpe garoto, mas apenas posso te falar isso.

Wirt abaixa a cabeça e volta para o quarto, enquanto fica olhando para ela. Um turbilhão de pensamentos passam por sua cabeça, mas mesmo assim, ele se mantém em silêncio.

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Se passou um mês após os eventos do desconhecido. Greg anda animado, porém Wirt anda cada vez mais pensativo. Ele e Sara começaram a sair, mesmo assim, seus poemas mais sombrios e os pesadelos com a Fera e Lorna cada vez mais pesados. Todo dia, após as aulas, Wirt visita a garota no hospital e conta para ela seus poemas, claro começou tímido, porém foi se abrindo, os enfermeiros já faziam mais vista grossa para o jovem, deixando ele entrar tranquilamente, sem uma grande vistoria.

- E fim. - O garoto termina de ler o ultimo parágrafo de um dos seus livros favoritos. Fechando o livro, observa Lorna, sem pestanejar e por um impulso, dá um pequeno beijo na testa dela, depois se afasta lentamente, guarda suas coisas e se despede da menina.

- Oi Wirt! 
Wirt indo para casa se depara com Sara, os dois resolvem conversar e ele a acompanha até sua casa. No caminho ela o pergunta sobre quem ele visita no hospital.
- Err...quem você visita todos os dias?
- É uma amiga...é...
- Quem é?
- Essa você não conhece.
- Pensei que conhecesse todas suas amigas, afinal cidade pequena é assim...
Wirt fica em silêncio e abaixa a cabeça, não estava com saco para responder perguntas, sendo que ele tinha tantas outras na cabeça.

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Seis meses após tudo aquilo e as perguntas ainda continuavam, o sapo de Greg, já havia há muito tempo expelido o sininho magico, o que provou ainda mais que aquilo tudo era real.

As visitas continuavam, a amizade com Sara acabou virando um namoro, muito bonito, diga-se de passagem. Com apenas um empecilho, porém: a garota do hospital, a garota do desconhecido, Lorna. 

Wirt cada vez mais escrevia poemas para ela, na esperança de ela retornar, de ela ouvir sua voz, de ela acordar, de ela e ele ficarem juntos, mesmo estando com a garota que foi uma das causas dele ter ido para aquele mundo bizarro e terrível. Sentia-se culpado por estar pensando em outra, por sonhar, por imaginar, por gritar o nome de Lorna, nos momentos mais pessoais, no escuro de seu quarto.

Naquele dia, o sol de verão estava diferente, não estava quente como é o normal, porém algo no ar incomodava o garoto. Ele escreveu um poema, um poema simples, porém falando tudo que ele pensava, mesmo que Lorna talvez não escutasse, havia uma fé infantil de que ela escutaria e retribuiria os sentimentos.

Chegando no hospital ele começou a ler, não havia mais timidez no seu jeito de ser. Ele lia e logo olhava para o rosto da menina, esperando talvez, ela responder. O poema foi lido logo, após isso, um longo silencio se instalou no ar, apenas o som da cigarra, no fundo. Wirt olhou para os lados, se certificando de que ninguém estava olhando, tomando coragem, se aproximou do rosto de Lorna e então tocou suavemente os lábios da mesma, num ato que se parece com fábulas que liam para ele, quando o mesmo tinha a idade de seu meio-irmão.

Ficou exatamente um minuto, os lábios dela estavam gelados, porém parecia que se aqueceram depois do toque delicado de Wirt. Vendo que ela não se levantou ou acordou, o jovem guarda suas coisas e vai embora, se despedindo dela.

26 de junho, o dia após o beijo, Sara e Wirt fariam 6 meses juntos e então resolveram comemorar, naquele dia ele não foi visitar sua amiga no hospital. Mesmo com a consciência estar cutucando, dizendo que ele havia traído sua namorada com a Lorna,  não quis dar ouvidos a isso e continuou a aproveitar o dia, sabendo que sua amiga também queria isso dele e em seu coração, sabia que ela estaria no mesmo lugar amanhã.

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Dia 27 de junho, o tempo estava fechando, talvez numa tempestade, mas como Wirt não visitou Lorna no dia anterior, o mesmo não se importou com o clima e foi vê-la. Chegando lá, o quarto estava vazio, apenas uma enfermeira ajeitando os lençóis. O garoto se desesperou, não sabia o que estava acontecendo. "Será que ela havia morrido?" era o único pensamento que vinha em sua mente. 

Perguntando a enfermeira, ela apenas respondeu, com um tom triste no rosto:
- A pessoa que estava neste quarto veio a falecer...
Em sua mente, escutou a risada maligna da Fera, a fera que ronda a floresta atrás de suas almas, sentia no fundo, que ela havia ganhado a batalha.

Wirt saiu desesperado, chorando, correndo, não olhando para trás. Horas se passaram, a chuva não parava de cair, os pais e Greg foram procurar o garoto e o encontraram no barranco, chorando, sentado, olhando fixamente para o rio que os levou a aquele mundo hediondo, sussurrando baixo: ela se foi, ela se foi...

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- Que sapo chato!
- Qualé Wirt, temos que comprar uma casa nova pra ele!
- Mas porque eu tenho de ir? Vai você!
- Porque eu sou pequeno e tenho que ficar cuidando dele oras...
- Ok, ok... eu vou...

Wirt pegou sua bicicleta e foi até o antigo pet shop da cidade, era o lugar mais barato da cidade, então foi a primeira escolha para comprar um aquário para o sapinho.

Chegando lá, o lugar dava-lhe calafrios, entrando ouviu uma voz grossa, de uma senhora, que parecia mais antiga que o tempo.
- Em que posso lhe ajudar meu jovem?
- Err...estou atrás de um aquário para o meu sapo...
- Ah sim! Já irei trazer, espere um pouco...

A velha entra para de trás de uma cortina velha. Enquanto isso, Wirt olha os bichinhos que tinham lá, todos pareciam bem cuidados, até demais, realmente não se deve julgar um livro pela capa. Enquanto a senhora não aparecia, o garoto notou algo peculiar, um aquário, com algumas tartarugas pretas, quando viu aquilo, um frio percorreu sua espinha, ele já havia visto aquilo em algum lugar e não era do poster do seu quarto e nem de sua banda preferida. Aquele tipo de tartaruga ele havia visto apenas naquela terra amaldiçoada, enquanto se aproximava lentamente das tartarugas, com medo, uma voz gentil e doce ecoou pelo lugar, soltando uma pergunta simples e calma:

- Já foi atendido moço?
Jogando o rosto para a direção da voz, o que Wirt vê o deixa assustado, paralisado, ele vê Lorna parada ali, sorrindo para ele. Num estalo ele corre em direção a ela, pulando o balcão e a abraçando. A garota sem entender nada, acaba se assustando no momento e o empurra de leve.
- Me desculpe mas...

Ela analisa a figura dele e nota quem é. Ele estava em sua frente, o único que ela sentiu que se importou com ela genuinamente naquele lugar maldito, a presença que ela sentia enquanto estava no hospital. Sem hesito algum, os dois se beijaram, até terem que parar por causa da senhora, com o aquário.

Após resolver a situação, ela pediu para fazer um breve intervalo, com permissão da senhora, ela e Wirt vão para o parque conversar. Algumas horas depois, ela explica o que aconteceu no hospital:
- Então eu acordei, logo após você ter saído e então me trocaram de quarto, fui para outro, enquanto uma mulher, com uma situação terrível ficou ali no meu lugar, acho que a enfermeira era nova e não percebeu a mudança e te disse a informação errada...

Eles acabam rindo e aproveitando o dia. Perto do por do sol, Wirt olha fundo nos olhos dela e então diz:
- Eu achava que amava alguém, mas nesses 7 meses, com tudo que aconteceu, saindo daquele inferno, passando por tudo isso. Escrevi vários poemas, mas realizei, que todos que escrevi até agora, mesmo não te conhecendo, eram só para você. Lorna, sei que na realidade a gente só se conhece faz 4 horas, mesmo, mas desdo dia em que te vi naquela cabana, até agora, percebi que não vou ser feliz com mais ninguém....
-Eu também,Wirt...

O sol desce devagar, o crepúsculo permeia todo o local. A brisa do vento, o olhar desajeitado, os lábios inocentes se juntam mais uma vez, os lábios dela continuam frios, mas se aquecem com os dele.

Depois disso, muitas coisas aconteceram, muitas perguntas ficaram sem resposta. Mas quando aquele pequeno passarinho azul, pousou sobre o braço do banco, ele teve certeza de que jamais iria se separar dela e posso dizer, foi o que aconteceu.

Tudo acabou bem, para aqueles garotos, que um dia se aventuraram no desconhecido e mudou suas vidas para sempre, estranhamente não para pior, mas sim, para melhor.

Bom... agora devo ir, outros me esperam na floresta, onde a nevoa nunca tem fim.

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