segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As Crônicas Tibianas - Cap. 59

Nas profundezas da caverna Wyvern

Embora cansados, aproveitamos a noite para seguir em peregrinação, já que o calor do deserto seria insuportável durante a tarde. Fazia uma noite fria, a areia desértica conduz muito facilmente as temperaturas dos céus. Sam Scott acendeu a palma de sua mão e foi nos guiando. Eu estava, desta vez, preocupado com Grazi. No entanto, Biertrus estava conosco, e eu não poderia perder a oportunidade de conversar com ele.

- Por onde você andou esse tempo todo, Biertrus?
- Estive no auxílio de nosso irmão Bierdus.
- Ele está no continente?
- Está. E confesso que nunca vi um homem tão despreocupado quanto ele...
- Por que diz isso?
- Ora, mano... Não é mais facil o trabalho de um cavaleiro? Veja bem: não se ocupa com magias, não se preocupa com munições...
- Mas preocupa-se com a defesa de seu grupo. E carrega sempre grande quantidade de armas.
- Vida fácil.
- Vida fácil? - eu indaguei irritado - E quantos Dragões sentiram a lâmina da espada em uma luta corpo-a-corpo? E os Minotauros Arqueiros que já imobilizaram Andrezinho, o exemplo máximo de cavaleiro que conheci? Parece fácil pra você, mas parece que você não vê que atrás daquelas armaduras há um coração... e ele é apto a sentir dor.
- Está bem, está bem...
- Talvez Bierdus tenha dado-lhe essa impressão. Mas cavaleiros sempre serão a coragem do grupo. O escudo de Andrezinho já se desgastou de tanto proteger um ou outro corpo alheio. Lembre-se disso.

O Sol Tibiano estava renascendo. Nossa caminhada continuava. Andrezinho fingia não ter ouvido nossa conversa, de horas atrás. Finalmente abriu sua boca:
- Bierum... Sobre a Grazi, estou preocupado. O Vento não lhe diz nada.
- Nada. - Respondi.
- E isso pode significar...
- O pior, meu amigo. Pode significar o pior.
- E se Sagal descobrir?
- Ele entenderá. Não é a coisa mais incomum do mundo você cair em meio a uma missão. E nós dois já vimos a morte de perto. Grazi é astuta. Se algo aconteceu a ela, então também teremos problemas.

Chegamos à montanha Wyvern novamente. Para abranger maior área de busca, Sam Scott partiu com Biertrus, enquanto Andrezinho e eu subíamos pelo outro lado da montanha. Milla e Bryan decidiram contornar o perímetro da montanha. Encontramos uma entrada na ninhada das Wyverns. Não havia ovos, mas um buraco no chão rochoso. Como tínhamos o material para escalada, desci primeiro, com minha palma de luz.

Vi um pequeno ponto com uma luz vermelha, quase na encosta da montanha, só que por dentro. Quando nos aproximamos, a magia de luz já não era necessária: havia um rio de lava iluminando tudo. Andrezinho e eu vimos um Dragão morto. À volta do corpo, filhotes de Dragão pareciam estar lamentando a morte do maior. Avistaram-nos e prepararam um ataque.

Não esperava que já filhotes teriam tanta coragem. Parece que Dragões estão prontos para a luta desde sempre. Deve ser por isso que, quando encontramos um corajoso, o chamamos de "Coração de Dragão". Os grandes guerreiros também são chamados de Dragões... mas é uma cultura antiga e longínqua ...

Não tivemos grandes dificuldades em vencer os filhotes. Lutavam até a morte, coisa que aconteceu na lâmina da espada de Andrezinho e nas Pedras Rúnicas de Gelo que eu lia. Após termos esvaziado aquele espaço vimos pegadas na parte em que o solo era arenoso. Seguimos.

Adiante, havia um homem vestindo um manto roxo, com uma corda imersa em um buraco, para um piso mais baixo. Ele fazia muita força, não falava nossa língua, e parecia precisar de ajuda. Nos posicionamos, pegamos a corda e ajudamos a puxá-la. Ele ficou na ponta da corda, e o objeto era mesmo pesado. Quando o objeto tocou a base do buraco, uma pata vermelha deu um passo acima: na corda havia um Dragão Lorde, um Dragão mais evoluto.

O Dragão Lorde já havia nos visto e estava enfurecido. Ele jogou uma Onda de Fogo tão intensa, que meu escudo ficou quente no lado em que eu o segurava. A parte dos pés do meu manto já havia virado cinzas. Andrezinho também havia se protegido com seu escudo. O homem com o manto roxo se escondeu atrás de um rochedo. Pude ver nos olhos dele a esperança de que o Dragão Lorde nos matasse e voltasse para o subsolo, ou seja, havíamos sido enganados por aquele homem, e agora ele apenas esperava por nossas mortes.

Entendida a situação, o pânico começou a me tomar conta. Andrezinho o atacou com sua espada, mas a pele do adversário escamosa e vermelha apenas se arranhou. Andrezinho caiu, com uma cabeçada do Dragão Lorde. Fiz a volta entre os dois, por vezes, confesso: eu estava tremendo. A criatura abriu a boca para devorá-lo. Quando isso aconteceu, li uma Pedra Rúnica de Gelo e apontei-a para a boca. O disparo acertou-lhe a cabeça. Ela se virou a mim e veio em disparada, mas havia despercebido que o buraco de onde saíra ainda estava aberto e caiu de volta.

Andrezinho tirava chamuscos do rosto. Apontei meu cajado para ele. Andrezinho se abaixou e uma descarga de meu Cajado de Energia Cósmica acertou o misterioso homem de roxo. Ele nos jogou uma Onda de Gelo, mas escapamos com nossos escudos. Andrezinho se aproximou dele e desferiu um golpe que acertou  o escudo do adversário, um escudo que me era familiar. Ele tocou uma das mãos no chão, e um chicote de terra se formou em nossa direção. Desse, Andrezinho e eu sentimos a dor, como um punho de um Cyclope. Levantamo-nos, enquanto o homem fugia.

Ele chegou à beira do rio de lava, jogou sua corda no buraco de onde antes viéramos. E começou a subir rapidamente. Do buraco por onde o homem passava, sangue caiu.

Andrezinho e eu nos entreolhamos e resolvemos subir com cautela. Lá em cima, Biertrus e Sam Scott já estavam examinando o corpo. Comecei minha análise e descobri a causa rapidamente: Biertrus acertou-lhe uma Flecha de Raio na cabeça. Sua morte foi rápida, mas muito dolorida.

- Por que fizeram isso? - Perguntei.
- Eu vi o que ele fez. - Disse Biertrus. - Já vi gente assim antes. Jogam a criatura contra você e depois recolhem seus pertences sem sentir culpa nenhuma.
Eu não soube o que dizer, mas até hoje acredito que Biertrus tinha razão. Aquele homem fingiu precisar ajuda e nos deixou à sorte, eu havia visto em seus olhos.

Voltei a olhar o corpo e reconheci o escudo. Era o de Grazi. Aquele miserável havia aplicado um golpe semelhante nela, se aproveitou de seu coração puro e bondoso. Eu mesmo o mataria se soubesse... maldito rato do deserto!

Restou-nos voltar para a cidade de Darashia. E tentar revivê-la com uma vela dentro do templo. Mas o que faremos lá, meu amigo, só poderei contar-
lhe em nosso próximo encontro.

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