quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Rúbia (parte 3/5)

Ela, mais que depressa, me abraçou. "Você nem imagina! Nem imagina o que eu tenho pra contar!" - dizia empolgada. E é claro que eu deixei ela entrar.


Ela me contou que estava muito cansada do relacionamento que tinha com Alexandre. Que ele a controlava e persuadia todos à sua volta. E que, entre as coisas que dizia, destacava minha manipulação à mente dela. Eu era seu inimigo. Ele pregou isso a todos os meus amigos.

Isso teria me enlouquecido. Olhei-me novamente como um lobo... mas um lobo querendo o sangue daquele maldito roedor. Mas minha mente voltou a calma quando ela me contou que havia desistido dele. E sem lágrimas.

Não pude deixar Cássia saber disso. Seria o fim. Ela já era ciumenta antes. Meus encontros secretos com Rúbia seriam motivo de sobra para uma briga, imaginava o que não me aconteceria se ela soubesse que Rúbia, após longos anos, estava solteira.

Cássia, no entanto, continuava brigando comigo. E, injustiça após injustiça, eu me vi na pele de Rúbia e vi as mãos de Alexandre nas mãos de Cássia. É óbvio que meu namoro acabou. Eu estava exausto de tanto controle e tanto ciúme.

Uma semana depois, Rúbia apareceu. Fomos ao cinema. "Algo de novo?" - ela me pergunta. E só aí eu contei a ela que estava solteiro. Ela me abraçou. E me confessou: "Eu olhava para ela e via o Alexandre. Eu olhava pra você e me via. Que bom que sobrevivemos!"

Levei-a em casa. No caminho, ela me pergunta se é possível voltar a gostar de alguém pelo qual se é apaixonado. Eu não sabia do que se tratava, mas temendo que ela voltasse a sofrer nas mãos de Alexandre, disse a ela que, quando se aprende quem é a pessoa, temos o controle para não se apaixonar de novo.

E um mês depois, ela apareceu em meu apartamento... numa noite de sexta. Em meio às nossas confissões ela me perguntou do pacto. Eu já não tinha nada a perder. E não me importava com o que ela pensava a meu respeito, pois amizade é para sempre. A partir dali, não tínhamos mais segredos. E dormimos juntos, um ao lado do outro. De mãos dadas, como os amigos que éramos.

Na saída de uma festa, eu a levava em casa, em meu carro. "Lembra das acusações da Cássia a meu respeito?" - ela perguntou rindo. "Lembro..." respondi pronto para rir, enquanto Beatles tocavam no cd-player do carro. "É verdade!" - ela disse. Parei o carro de maneira quase brutal, provando que cintos de segurança funcionam. "Você enlouqueceu?"

"Eu não queria nada disso... mas eu pretendia aproveitar a solidão... a solteirice, como dizem... e passar meu tempo com você, solteiro também." - confessou ela. "Um ótimo plano!" - respondi. E voltei para casa sem saber o que fazer.

Uma semana se passou e, como costume, Rubia foi me visitar. Mostrei a ela que tinha "dever de casa", ou seja, tinha de trabalhar em casa para continuar no trabalho. Ela se sentou ao meu lado e esperou horas. Quando terminei, conversamos até tarde. E fomos dormir. Mas um momento de luz me veio tão claro à mente que entendi que acontecesse o que acontecesse, ela estaria ali. E nessa noite nos beijamos. E dormimos abraçados.

As férias começaram e fizemos as malas. Fomos para todos os cantos do país. Para onde quiséssemos. Passamos noites e dias na estrada. E as férias acabaram. Rúbia estava cansada...

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