quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Rúbia (parte 2/5)

Emocionado, eu a abracei com firmeza. Ela me abraçou também. E as primeiras palavras delas foram "O Alexandre...", pouco antes de cair em um choro desesperado.

Ainda abraçado a ela, eu a conduzi devagar até a sala. Fiz com que ela deitasse no sofá. Coloquei uma almofada em meu colo e sua cabeça por cima. Ela segurou minha mão e falou durante horas. Eu, mesmo tendo de trabalhar cedo na manhã seguinte, não me preocupei com o tempo. Queria que a noite durasse muito.

O assunto de Rúbia, no entanto, era Alexandre. Ele simplesmente parou de dar atenção a ela. Convidava nossos amigos para sair, ainda que sem dinheiro, e a deixava em casa, esperando por ele. Isso perpetuou por muitas noites. Na noite em questão, ele a expulsou de casa. O que eu poderia fazer? Eu me perguntava sobre o que dizer naquele momento. Ela estava em minhas mãos, frágil, desprotegida. Olhei a mim mesmo como um lobo sedento por um pedaço de um cordeiro. E, envergonhado, deixei ela falar tudo o que precisava pôr para fora.

Depois disso, eu fiz com que ela respirasse fundo. E, certo de que ela tinha acabado, aconselhei-lhe ser paciente com ele, pois ele sempre era impulsivo a ponto de curtir apenas o momento, sem se preocupar com o futuro. Era quase de manhã, quando ela saiu de minha casa. Me agradeceu, beijou-me o rosto e sorriu. E eu, sustentando a consciência plena, com a certeza de que fiz o certo. Deitei-me em minha cama, rezei por eles. E adormeci feliz.

Duas noites depois, Rúbia estava de volta à minha porta. Ela tinha lágrimas nos olhos. "O Alexandre..." foram suas primeiras palavras antes de cair no choro. E pus-me a ouvir novamente. Dessa vez, ele soube da visita que ela havia me feito noites atrás. E agora "sabia" que eu era um crápula: havia persoadido ela a ficar contra ele, já que eu gostava dela. Aquelas palavras doeram muito, não só por serem mentiras, mas por terem saído da boca de Alexandre.

Naquela mesma noite chutei a porta da garagem da casa dele, que era o quarto onde ele dormia, quando ele abriu a porta, enchi-lhe de socos e pontapés. E acordei sentado na cama. Não dormi mais, devido ao nível de adrenalina em atividade. Talvez eu tivesse outros pesadelos como esse. Rúbia já estava em casa. Eu já havia dito a ela que era tudo um mal entendido. Ela já havia me beijado o rosto, sorrido e agradecido. Eu rezei por eles. E havia ido dormir preocupado. Talvez fosse esse o meu problema.

O trabalho me ocupava a cabeça. A insônia era uma visita não muito frequente. Eu havia conseguido uma promoção no meu emprego. Sonhei com Elizabeth. Nesse sonho, eu a enchi de pontapés e socos. E ela bem que merecia, mas é melhor que tenha mesmo sido só sonho.

Rúbia começou a visitar meu apartamento com mais frequência. E, aos poucos, a saber mais sobre mim. De repente, não tínhamos mais segredos. Falávamos sobre tudo. Exceto sobre o pacto. Todas as noites em que ela me visitava, me relatava mais um ato de Alexandre: uma mentira, uma indiferença, uma briga. Eu ouvia. Mas a encorajava a continuar lutando por ele. Porque era ele quem ela queria.

Meu emprego me deu a oportunidade de conhecer uma colega: Cássia. Ela era muito bonita. E deixou um bilhete marcando um encontro comigo em uma noite de uma quarta-feira. Eu fui. Não havia a menor esperança que Rúbia gostasse de mim. Não havia a quem esperar. Cássia estava disposta a absolutamente qualquer coisa por mim. Me possuiu.

As visitas de Rúbia continuaram. Contei a ela sobre Cássia. Ela aprovou. Promovi um encontro com as duas. As duas reprovaram uma a outra. Cássia me dizia que Rúbia estava se aproveitando de mim. Que deveria resolver o problema com Alexandre ela mesma. E que era melhor que Rúbia respeitasse nosso namoro, preferivelmente sumindo da minha vida.

Eu achei isso um horror. É claro que eu não me desfiz de Rúbia, ela já havia se tornado minha melhor amiga. E, naquela altura dos acontecimentos, jamais aconteceria nada entre Rúbia e eu: meus sentimentos por ela já estavam congelados. Cássia me forçou a pedir a Rúbia que não me visitasse mais.

Rúbia ficou triste, é claro. Mas consentiu. Ainda reprovava meu namoro com Cássia, ainda assim não queria me atrapalhar. E eu entristeci. Amigos são para sempre. Lembrei-me que Rúbia, mesmo sendo proibida de falar comigo, por Alexandre, ainda ia até mim. E eu deveria pensar em fazer o mesmo.

E em uma noite, Rúbia bateu à minha porta novamente. Eu abri e ela estava sorrindo. "Eu..." foi sua primeira palavra antes de entrar...

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