A peregrinação de Milla.
Nossas vidas em Venore não estavam se saindo mal. Através dos livros de magia, comecei a estudar a arte da invocação, com a finalidade de ganhar mais experiência em magia. Grazi havia feito uma viagem até a cidade de Carlin. Andrezinho havia partido rumo ao lendário Forte dos Elfos. Nosso dinheiro estava dentro de nossas necessidades, não esbanjávamos, não desperdiçávamos: gastávamos com sabedoria, enfim.
Aquele era o grande dia de Milla. Seus patamares de magia seriam elevados após a peregrinação. Ah, sim.... todo o tibiano caminha bastante por este mundo. Milla queria ampliar o seu poder chegando às pirâmides de Darashia. É claro que eu não deixaria que ela partisse sozinha. O mundo é perigoso. E uma maga tão jovem sozinha? Não pude permitir tal fado.
Saímos de Venore. Depois de meia hora pela estrada principal, atravessamos o desfiladeiro de Kazordoon (em seu subterrâneo, há uma cidade construída apenas por anões). Fazia sol, e o calor nos era pertinente, mas sempre andamos adiante, até pararmos para descansar em Carlin.
Confesso que Carlin sempre me impôs receios. Assaltos acontecem o tempo todo, e os guerreiros mais fracos são a carne para os mais fortes. Nossa entrada na cidade foi bastante assustadora. Ao lado dos portões de Carlin havia um homem moribundo, murmurando palavras impronunciáveis. Como Milla não pareceu inabalada, continuamos.
Chegamos ao centro de Carlin, onde almoçamos. De lá, levaríamos mais vinte minutos até o porto do continente (onde a viagem é desconfortável, mas menos custosa em comparação às dos portos de Carlin ou Venore). Nosso almoço foi terminado, então sugeri a Milla que passássemos na residência de Sagal. Ela aceitou.
A casa de Sagal era grande: dois andares, uma bela sacada. Bati à porta e tive uma surpresa:
- Bierum!
- Grazi?
- Oh, sim... Sagal foi atrás de um dragão. Você já comeu um bife de dragão? Existem alguns nos arredores da Montanha Femor. E ele foi até lá. Como magos são menos indicados para este tipo de caça, eu preferi não atrapalhar. Mas estou autorizada a receber amigos. Entre!
Aceitamos seu convite. Grazi mostrou-nos um bouquet de flores cor-de-rosa dadas a ela pelo próprio Sagal. Milla e eu sentamos em um confortável sofá. Pouco tempo depois, Sagal abriu a porta da frente.
- Bierum! Que satisfação vê-lo.
- A satisfação é minha, amigo.
- Então fique para o banquete! Teremos bife de dragão!
- Não posso aceitar, pois já tive a refeição. Além disso, tenho de levar minha ajudante até as pirâmides de Darashia.
- Oh, a peregrinação dela é até lá? Sendo assim... - e virou o rosto - Grazi, separe alguns bifes para eles, por favor. - e voltou até nós - A viagem até lá deve levar mais de um dia, vão precisar de comida. Um bife de dragão equivale a alimentação de uma hora!
- Aceito sua oferta, Sagal.
- Você sentirá a força de 10 homens, após comer um desses!
- Muito obrigado!
E após fecharmos as mochilas, fomos andando até o porto do continente, em companhia de Sagal e de Grazi. Chegando lá, ela nos abraçou:
- Cuidem-se.
- Obrigado, Grazi.
Sagal apertou minha mão:
- Boa sorte, Bierum. Contate-nos com sua telepatia se tiver problemas.
- Você foi muito generoso, meu amigo. Obrigado.
O porto do continente tinha pequenos barcos. Não foi difícil, por um pequeno punhado de ouro, partirmos os dois em direção a Port Hope, uma cidade portuária. No caminho, procuramos dormir, mas acordávamos com o barulho de canhões piratas enfrentando serpentes marinhas, sem contar que nossa embarcação era pequena e sofria muito com a flexibilidade da água.
Port Hope é uma cidade diferente de muitas outras: não possuem governantes, praticam comércio em casas suspensas, semelhante à estrutura de Venore, mas usando apenas madeira como alicerce. As vozes lembravam-me o barulho do mercado de Venore, mas nossa estadia ali foi pequena. Milla comprou uma mochila camuflada, típica da região. Como a minha mochila de couro estava bastante usada, comprei uma para mim e uma como lembrança para Andrezinho, que a essa altura já havia retornado para casa com muito ouro dos elfos.
Após isso, tocamos no solo de Port Hope. Parecia um mar verde: muita grama e árvores na linha do horizonte. Foi na direção dessas árvores que andamos, pois pegadas apontavam àquela direção. O céu, lentamente, foi perdendo seu tom azul, e esverdeava, não por qualquer fenômeno, mas quando dei conta do que fazia, estávamos dentro de uma imensa floresta.
Depois disso... veja só, que distração! Reparei que as pegadas que seguíamos eram bem maiores que as nossas. Mas tentei não parecer preocupado. O céu continuava cada vez mais verde...
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