segunda-feira, 12 de julho de 2021

Red Dead Redemption - um depoimento


Se estão me perguntando o que eu ando fazendo da minha vida e porque eu não atualizo mais essa bagaça, a resposta está nessas palavras: Red Dead Redemption On Line.

Sim, sou um filho da mãe jogador online, mas procuro não ser mesquinho e deixar a mão estendida para quem quiser uma amizade sincera, uma longa cavalgada e uma troca de tiros contra bandidos e até algumas autoridades. NO JOGO, NÉ?

Mas eu tava aqui vendo os fóruns de jogos antigos e reparei que nosso Bando não tem um fórum. Temos comando no Social Club, grupo no Facebook e no Whatsapp.

Mas um lugarzinho pra eu extravasar tudo que tem sido despejado em mim nessa longa jornada pelo Velho Oeste Online... não. Ainda. Mas me toquei que poderia dar uma nova utilidade a esse tão castigado espaço. Vem comigo?

Na hora errada...


Vou confessar hoje pra vocês uma história. Talvez não seja a história mais interessante que eu possa contar a alguém. Talvez seja a história mais chata que você tenha lido. Espero que não se importe. E agradeço pela companhia.

Eu preciso resumir um misto de coisas que esse jogo carrega. O principal: Red Dead Redemption chegou na hora errada! Pelo menos pra mim.

Meu pai era fazendeiro e funcionário público. "Peão" era, de fato, algo que resumia muito bem sua definição. Como homem do campo, ele sempre achava que essas histórias de videogame eram uma grande bobagem. Isso quando ele estava de bom humor.

De fato, meu pai nunca foi um homem violento comigo, mas... ele me dava muito medo de, em um excesso de raiva, ele quebrasse de vez meu pobre Master System, e acabasse com minhas pequenas doses entorpecentes de "não to incomodando ninguém, então tá tudo certo, né?".

Mas perdi meu pai aos 16. Foi um acaso do destino e bem repentino. E foi uma desgraça bem maior que eu consigo colocar em palavras, por isso não vou gastar o tempo de vocês com essa parte, nem com o luto, nem com nada relacionado a isso.

No entanto, papai deixou seu lado da família muito ciente de que videogames era um desperdício de tempo. Muitos dos parentes desse lado me julgaram. Menos duas primas minhas muito queridas... Diferente da mãe delas: a tia Sô.

A tia Sô, nas poucas conversas que tivemos sobre esse tópico (videogames) me pedia encarecidamente pra deixar essa vida. Pouca atividade física, um vício nunca é uma coisa saudável, essas coisas.

E não quero que pensem que ela estava errada. Ela não estava. Ela tinha medo que eu acabasse gordo e careca. Ou pior! Gordo e cabeludo! E ainda pior: eu acabei mesmo me tornando gordo e cabeludo. E ainda jogava videogames.

Sim, sou eu. No início do RDON. Eu fiz uma representação minha. Gordo e cabeludo. Porque sim.

Uma esperança


Tia Sô é muito mais coração do que pessoa. Muitos anos depois dessa conversa catastrófica, ela cuidava da minha irmã mais nova, na minha casa, enquanto eu trabalhava de repositor de caixas em um supermercado.

Às noites, me restava uma partidinha de Zelda 64. E minha irmã mais nova gostava de assistir a partida. Minha tia ficava nas novelas, na sala, enquanto eu tinha uma TV 14" no quarto que dava conta do recado.

Certa noite, tia Sô veio atrás de minha irmã no quarto. Queria saber o que tanto ela assistia. Ela se deparou com uma imagem semelhante a esta:


- O que esse menino está fazendo?  - Perguntou minha tia.
- Está procurando pelas galinhas de uma moça! - Respondeu minha irmã.

E a música da Vila Kakariko enchia nossos ouvidos com uma bela gaita de boca que só o videogame N64 poderia emular, às vezes interrompido pelo "popopopó" das Kukos.

Ali eu corri por toda a vila, joguei galinha no cercadinho e pulei de telhado usando uma das penosas pra planar o voo. Eu estava inspirado. Mas a melhor parte ainda vinha...

Os olhos da tia Sô brilhavam:

- Que coisa mais linda, Roberto! - Ela exclamou.

E eu, exibido que só, ganhei a garrafa da dona do galinheiro. Mais que depressa, fui até a fazenda, pra enchê-la de leite. Veja bem, agora a missão principal havia se tornado secundária. A principal se tornou: mostra tudo de bom que o jogo tinha. Acabei indo pescar, mergulhar em cachoeira, nadar no lago... e apresentei a ela a égua Epona, quando ainda era uma potranquinha...

E eu senti, olhando pra ela... aquela senhora que passou a infância em fazenda, sendo injustamente responsabilizada pela conduta do meu pai... aquela que constantemente foi uma mãe pra mim também... ali, nos fazendo companhia... parece que ela estava voltando no tempo, através daqueles desenhos... e isso estava fazendo bem pra ela.



Eu queria ter chegado na parte em que fico adulto e domo a Epona. Mas, mais importante, minha tia passou a ter outro olhar para meu hobby. E isso me confortou a alma.

Mas voltando...

Esse momento foi marcado em meu coração como se fosse com ferro em brasa. Nunca esqueci disso.

E agora, em pelo 2020-2021, aqui estou eu jogado com minhas coisas em meu apartamento. Uma maldita pandemia lá fora não me deixa chegar perto da minha tia. Pelo menos não fisicamente.

Mas isso justifica muita coisa. Uma delas é: porque diabos o meu personagem PRECISA de pelo menos um traje de Gaúcho.

Aqui estou com um amigo meu, que também é gaúcho.

Porque de alguma forma, todos nós somos a soma de tudo que nos foi dado. Algumas coisas não foram doces, outras foram difíceis de aprender. Mas vida também é isso.

Alguns amigos meus, até não-gaúchos também fizeram esse tipo de traje. E devo dizer, conforta minha alma saber que, por mais difíceis que estejam os nossos cotidianos, não esqueçamos jamais.

Do que somos feitos.

Do que nos tornamos.

E do que queremos nos tornar ainda.

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Aquela das Chiquititas

O Graxa e a copa do mundo 98

O dia em que paguei de Rico




Um comentário:

  1. Eu vim pra saber se encontraria alguma publicação mais recente, e encontro essa de quase 1 ano atrás. Gostei do relato da tua tia, achei muito comovente, que bom que tu tinha um jogo tão especial pra ajudar a quebrar um preconceito tão comum dos mais velhos.
    A propósito, sobre o jogo, obrigado por uma das minhas maiores crises de riso de 2021, foi inesquecível, até hoje é difícil de contar sem rir no processo.

    bom roleplaying pra ti, meu amigo

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