terça-feira, 8 de março de 2011

Ferro e sangue

Estávamos em plena era do Edo... E éramos uma família feliz.
Papai era pouco letrado, mas de alguma habilidade com a espada. Na verdade, talvez ele não fosse realmente bom em nem uma coisa, nem em outra, mesmo assim, era um homem honrado e seguia os ensinamentos de meu avô.

Mamãe era uma mulher forte, muito quieta, muitas vezes. Nunca se permitia chorar com relação às reações que meu pai tinha com relação à política, à lavoura, à comida, ao nosso abandonado dojo... Mas eu a vi chorar, só que ela não percebeu, quando ela ficava sozinha, quando papai estava longe.
Minha irmã mais velha parecia não gostar de mim. Ela seria a número um do nosso dojo, se ela não fosse uma garota e se eu não tivesse nascido menino. Na verdade, ela sempre lutou melhor do que eu. Ela só tinha dois anos a mais que eu, mas tinha os pulsos e quadris fortes como um homem. Nunca me permiti treinar com ela com uma espada de verdade.

Papai me via como "o futuro do dojo". Me obrigava a comer muito, e seu treinamento era incrivelmente rigoroso. Ele acabou por me fazer odiar o caminho da espada. O treino que ele destinava para mim era demorado e doloroso. Acabei desmaiando algumas vezes, durante esse processo. Na primeira vez, mamãe havia resgatado meu corpo desacordado. Nas outras vezes, eu acordei no chão do dojo ou no campo de treino, ou urinado, ou completamente sujo, ou ainda soterrado em bambus, madeira, terra ou pedras. Após meu banho, mamãe me ajudava a secar meu corpo, sempre me cobrindo de elogios... dizendo que eu era o garoto mais bonito do mundo... que seria um grande pai de família... e que não precisaria ser samurai, porque os tempos de paz estavam por vir.

Minha irmã mais nova era como a flor da montanha mais pura. Era ingênua e inocente. Ria de tudo. E tinha um sorriso muito doce. Para fazê-la dormir, eu mesmo contava histórias para ela, as quais ela jamais ouviu um final. Delas, algumas eu mesmo não lembrava do final, de tantas noites sem final... Susto mesmo, eu levei quando papai me ordenou executar duas mil vezes o movimento básico "Do", e paralelamente ao meu lado, minha irmazinha começou a acompanhar os movimentos com sua vassourinha, que era um de seus brinquedos favoritos.

Papai e mamãe me culparam pelo interesse dela em kendô, mas papai houvera me advertido que eu deveria fazer os dois mil ataques repetidamente, não importando o que acontecesse. Ela só saiu de lá quando a chuva começou. Eu continuei. Em casa, ela contou aos nosso pais o que fazia. E eu fui severamente punido, amarrado em uma sakura que ficava perto de nossa casa, até o fim da chuva, que durou a noite toda. Mamãe foi contra, mas não se permitiu chorar.

O tempo foi passando. Papai ficava a cada dia mais quieto em relação ao rumo do dojo. Minha irmã mais velha estava distante, também. Parecia que os dois não a perdoavam pelo corpo feminino. Mamãe sofria em silêncio. Minha irmãzinha sorria para todos. E eu aprendi com minha mãe... a chorar escondido.

[...]

3 comentários:

  1. Bier vc é foda!! Ta apaixonante!

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  2. eu aprendi isso qndo minha mae foi embora de casa...ta lindo obrigada por escrever essas palavras tão emocionantes...

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  3. muito bom!!! gostei pra caramba abrass...

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