quinta-feira, 3 de março de 2011

Rúbia (parte 4/5)

Não sei dizer o que se passou na cabeça dela. Mas ela me disse que precisava ficar soznha por um tempo. E eu respeitei isso. Eu também me sentia estranho, mas não queria que ela se preocupasse. Meu estômago parecia rasgar de dentro para fora, como se fosse até a minha boca. Isso, minutos antes de ela me pedir... para ficar longe dela.

Como as férias tinham acabado, tratei de cuidar do meu trabalho. "Faça a lição de casa e tudo dará certo." - eu dizia a mim mesmo. O tempo avançou... e não vi mais Rúbia. Nenhuma chamada no telefone. Nenhuma festa em que eu esperava encontrá-la deu resultado. Mas eu não poderia estar em todas as festas.

A campainha não tocava. Já fazia mais de uma semana. De repente, um amigo em comum me encontrou na rua e me contou que Rúbia estava bem. Que saía com o grupo normalmente. E isso me deixou muito zangado, porque eu sabia quem estava no grupo. E que eu não era um deles, desde que Alexandre disse aquelas mentiras e eles acreditaram. E ela estava com eles. E ela estava com ele!

Um dia se passou e minha campainha tocou novamente. Era Rúbia. Deixei que ela me abraçasse, sem retribuir. deixei que ela falasse, sem permitir que ela entrasse. Saí de casa, deixando que ela me seguisse. Ela começou com uma avalanche de sentimentos, dizendo que estava confusa, que os anos passaram e ela não via certas coisas... eu não prestava mais atenção. Esperei apenas ela perder o fôlego. Ela não havia confessado nada ainda. Eu estava segurando um grito na garganta. Finalmente as palavras sairam.

"Eu sei de tudo. Sei porque você estava lá. Sei com quem você esteve. Sei porque você está aqui..." - eu disse, sentindo dor em minha voz. "Descarte a ideia..." - continuei - "...de que seremos amigos. Descarte a ideia de que posso esquecer qulaquer coisa do que se passou."

Lágrimas em nossos olhos. "Quero te dar um último conselho de amiga." - ela pediu. Eu não respondi. Ela me abraçou e disse "Ela não é uma garota que valha a pena." - depois disso foi embora. E eu fiquei sozinho, parado na calçada. Sentei no cordão. E anoiteceu. Quando a chuva começou, voltei para casa.

Minha energia ficou baixa por muito tempo. Eu recusava a luz. Recusava comida. Recusava sair de casa. Mas pensava seriamente em dar um passo após a janela. Senti meus olhos vermelhos e úmidos. Senti fraqueza que me pregava na cama. Comecei a me arrumar unicamente para o trabalho. Cássia percebeu que algo estava errado, mas ignorou. Eu também a ignorei. Se ela realmente me amasse, se importaria. Mas eu não a amava, porque eu me importaria?

O tempo passou e eu tive de encarar o fato de que a pessoa que mais conhecia meus segredos não estava mais ao meu lado. Algumas vezes, ela telefonava para mim nas madrugadas... havia saído com o grupo e estava bêbada... em todas as vezes. Ligava para conversar, mas não sabia o que dizer. Eu não a desculpava por aquilo... apenas esperava ela falar o que quisesse e esperava que ela se despedisse e desligasse.

Um ano havia se passado dessa forma. Eu não quis mais saber dela, eu a evitava. Nesse tempo, formei-me na faculdade e alcancei uma promoção. Mamãe estava orgulhosa. Minha família estava feliz comigo. Foi numa noite comum em que encontrei em meu celular uma chamada perdida... era de Rúbia. Eu estava cansado do marasmo. E curioso. Temendo me arrepender, telefonei a ela. Era tarde.

"Nós deveríamos conversar." - foram as primeiras palavras dela. Eu consenti. E acabei estacionando o carro em frente a casa dela. Era o mesmo bairro ainda, o mesmo em que brincávamso de esconde-esconde... a mesma rua em que a carreguei nas costas quando ela torceu o pé. A mesma rua em que andávamos nas noites boêmias. E agora estávamos ali.

Não dissemos nada dentro do carro. Comecei a guiar. Lembrei de uma pizzaria nos limites da cidade. Discreto. Não queria que nos vissem. E não estranharia se ela sentisse o mesmo. Fomos como dois velhos amigos se encontrando. E, de fato, éramos. Ela me contou que não queria mais continuar com Alexandre. Ele havia mudado, estava trabalhando, mas não oferecia nenhuma segurança futura. Com medo de perdê-la novamente, ele a pediu em casamento. Ela mesma achou a idéia ridícula.

O centro todo estava fechado. A cidade dormia. Parei meu carro novamente na frente da casa dela. Descemos. Ela me abraçou. Eu a abracei. E pensei que jamais a veria novamente.

Em outra noite, batidas angustiadas à minha porta. Eu abri. Rúbia estava ali, eu nem havia verificado quem era. Ela tinha lágrimas nos olhos. "O Alexandre..." ela me disse. E me abraçou...

2 comentários:

  1. Por favor, poste logo o fim! Quero saber afinal com que Rúbia vai ficar!!

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  2. Cara tá dando muita raiva da Rúbia!!!!!!!!!!!!!

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