quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cumplicidade (2ª parte)

- Mas que diabo... que tu qué, rapá?
- Você não viu o noticiário?
- Cara, passam das três da manhã! Por que eu estaria assistindo tevê a essa hora? Se liga!
- É que eu pensei ter visto no noticiário o Fernando...
- Hoje em dia qualquer idiota pode estar na tevê. Me deixa dormir?
- É que ele tá morto!
- Quê? Porra, cara! Ta me gozando?
- Foi você ou não foi?
- Roger, cê tá maluco? Fumou orégano? To dizendo, cara! Não sei do que você anda falando!
- Sério? É que é muita coicidência... alô?
-...
(O telefone desligara antes.)

Na escola, Eduardo não falava com Roger, embora Roger falasse com Eduardo. Eduardo evitava. Emudecia. Mostrava rugas sempre que ouvia a voz de Roger dirigida a ele.

Fernando não havia ido à escola. A notícia da madrugada foi se espalhando aos poucos. Confirmou-se como verdade. Finalmente a diretora tomou conhecimento do ocorrido. Mas absolutamente nenhuma suspeita, entre nenhum dos alunos.

A polícia mandou apenas um inspetor na escola. Maicon. Olhou a fixa dos amigos de Fernando. Nada que ajudasse. Fernando era um daqueles chatos, valentões e implicantes, mas ele tinha amigos. Poucos. Daqueles que não sabem o significado de amizade, mas como andavam em grupo (de valentões) então consideremos os termos "grupo" e "amizade" como se fossem o que deveriam ser neste caso. O inspetor leu até acabar o café da secretaria. Leu até o sono voltar. Leu até os que ele poderia considerar supeitos tivessem sua relativa privacidade revelada. Mas não entrevistou ninguém. E foi embora, não prometendo voltar, nem não voltar.

Nada de luto na escola. Na saída, Roger alcança Eduardo.
- Pô, Edu!
- ...
- Velhinho, cê vai mesmo me culpar por aquilo? O que você queria que eu pensasse?
- Eu te falei que era só um teste. Tá certo que eu não gostava do cara. Mas você me imaginou segurando aquela arma e sendo covardemente cruel?
- Cara, é que... Ei! Você tá falando comigo!
- É tudo que você tem pra me dizer?
- Não... é que... tipo... sei lá, foi mal, cara!
- Tá...
- Olha só, cara! Eu vou na loja de revistas, ver se tem algo novo pro meu PC. Pensei em um jogo. Vem comigo pra estreiar.
- Não agora. Mas mais tarde. Eu preciso dar um tempo na minha cabeça.
- Por causa da minha desconfiança, né?
- Cara... faz favor de não falar mais nisso? E me deixa. Mais tarde eu passo lá.
- Tá. Mas toca aqui!

"E daí que mataram o Fernando? Um filho da mãe desses tinha mais é que se ferrar mesmo! No mínimo, chamou alguém para a briga e o cara tava armado." - Esse foi último pensamento de Roger sobre o assunto que todos na escola comentavam.

Separaram-se. Roger encontrou um CD na loja de revistas com um bom jogo. Robôs se destruiam no espaço, na tela do computador dele, uma hora depois. Finalmente chegou Eduardo. Olhou o jogo, se agradou, leu a revista com as regras, aprendeu a jogar com Roger. Algumas horas depois, os rapazes se despediram.

Desta vez sozinho, Roger voltou ao jogo. Jogou até ficar tarde, afinal, não era uma época difícil dentro do período de aulas. Muitas lições de casa ficavam mais para o final da semana do que para o meio. As partidas duraram até as 2 horas da noite. Ele estava acostumado a dormir tarde. Quando chutou os próprios tênis para baixo da cama ouviu um som diferente do habitual. Mas isso não lhe chamou a atenção.

Na manhã seguinte, Roger "mergulhou" embaixo da cama, em busca do par de "pisantes". E encontrou junto ao par, surpreso, um revólver. Escondeu a arma em uma das gavetas do guarda-roupas. A do pijama, que não era aberta devido ao calor da estação.

E foi a escola. Porque diabos Eduardo estava fazendo isso?

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