segunda-feira, 9 de julho de 2018

A primeira vez que a SNK foi vendida

O ano é 2000. No fliperama, alguns de nós debatíamos o futuro da SNK, já que o rumor dizia que a SNK havia agendado o fechamento de portas. Entre esses jovens, este que vos narra.

Eu estava aborrecido com a notícia. Logo a SNK? Ela, que me divertiu tanto com a série The King of Fighters? Claro, eu adorava as outras séries, mas KOF estava acima de tudo.

Enquanto revesávamos rounds no KOF 98, Cid e Warg conversavam comigo sobre as possibilidades. Havia alguns contras a esse rumor: CAPCOM vs SNK por exemplo. O jogo marcava uma realidade onde lutadores dos dois universos se conheceram, como se fosse um único universo. Ryu, Ken, Chun Li e companhia trocavam golpes com Kyo, Iori, Mai e outros, com direito a aberturas especiais, referenciando supostas amizades e inimizades entre lutadores das duas franquias.

CAPCOM vs SNK era um sonho se tornando realidade. Certamente envolvia questões como direitos autorais, o que implica em lucros, verdinhas, tutu, faz-me-rir, cifras e cifrões. Logo agora, a SNK estaria falida? A CAPCOM ficou com uma fatia muito maior desses lucros?

Nessas épocas, o Orkut estava em alta. Me lembro de mergulhar as possibilidades nas comunidades. Inclusive levantando a possibilidade de a CAPCOM também estar mal das pernas. O resultado disso foi engraçado. 


Na comunidade da CAPCOM, o pessoal discordou respeitosamente. "Não pode ser, Bier! Resident Evil [franquia da CAPCOM] vendeu horrores!", "Entendi sua preocupação, mas se a Capcom fez jogos em cooperação com a Marvel 3 vezes [X-men vs Street Fighter, Marvel Super Heroes vs Street Fighter e Marvel vs CAPCOM], dificilmente cairia em falência tão rápido, eles nem contaram quanto dinheiro receberam dessas ideias."


Já na comunidade sobre a SNK, ninguém tinha certeza de nada. Apenas uma pessoa alegava estar segura sobre o fechamento da empresa japonesa, mas o disse de modo extremamente desagradável, culpando em especial a série de jogos de The King Of Fighters. Disse inclusive que "todos os jogos da SNK eram bons, até a ideia estapafúrdia de juntar Art of Fighting e Fatal Fury em um só jogo e arruinar a empresa inteira". Confesso que não entendo muito de mercado, mas se KOF tivesse sido uma má ideia, não estaria funcionando até hoje, em sua 14ª edição, ou estou enganado?


Ainda na comunidade da SNK, alguns foram bastante respeitosos sobre alguns dos possíveis rumos da empresa, mas ninguém tinha certeza de nada. Na verdade, em maioria torcíamos para que fosse um grande engano, que a saúde financeira da SNK estivesse a plenos pulmões, firme e forte.

Agora, voltando aquela noite em que Warg, Cid e eu conversávamos, diante da máquina de KOF 98. Minhas definições sobre empatia estavam 100% atualizadas.

Um de nós havia ouvido sobre a possibilidade de uma empresa chinesa comprar a SNK, com todos os direitos sobre os personagens. Essa possibilidade, em um futuro próximo àquele momento nosso assombrou, pois KOF começou a ser pirateado por uma (ou mais) empresas chinesas. Eram jogos que funcionavam ao estilo MUGEN, com mais de uma versão do mesmo lutador disponível na tela de seleção de personagens. Me lembro, inclusive, de uma clara alusão à 3 versões de Takuma Sakazaki.


Tela de personagens de KOF Special Edition
- KOF de rodoviária, para os íntimos -
Depois, lembro que o Warg apostava na possibilidade de a CAPCOM adquirir a SNK, com direito a pacote completo.
- E os próximos KOFs? - Perguntei.
- Ah, vocês não imaginam? - Questionou Warg. - Pois imaginem que Ryu e Ken irão atrás de outros adversários, poderiam formar um time... com a Chun Li ou...
- E o revezamento? Por turnos ou como em X-men vs SF? - Perguntei, agora sabendo que tudo era uma possibilidade...
- Não sei. Mas pra mim, só essa ideia já estraga a ideia de KOF. - Respondeu Warg.
-  Pode ser. - Concordou Cid. - Mas só o nome KOF já garante que vou botar mais umas fichas na máquina. - completou ele.

KOF 2003 usa revezamento durante a luta,
como em X-men vs SF.
Cid ganhou mais do meu respeito depois daquela. E a teoria maluca de revezamento no decorrer da luta? Não é que em 2003, tornou-se realidade? Com a diferença que só um personagem poderia executar o SDM (Super Desesperation Move).

Mas os rumos da SNK eram, na verdade, imprevisíveis. Em 2001, declarou abertamente o encerramento de suas atividades, não sem agradecer aos jogadores do mundo todo. Mas, no mesmo ano, a empresa Sul-Coreana Eolith cuidou do lançamento de KOF 2001 e 2002, como, digamos, uma tentativa de reverter um pouco do prejuízo pendente da SNK.


Nesse mesmo período, a Playmore havia obtido licença para produzir os títulos da SNK para os consoles PS2, Xbox e Dream Cast, como Metal Slug e KOF. A parcela de direito da Playmore também poderia trabalhar/interferir nas próximas versões de KOF, como em KOF XI, que tem clara inspiração no KOF 97 e tentou trazer esses tempos mais áureos de volta.
Já, KOF XII foi uma grande brincadeira de mal gosto, sem grandes novidades, historyline ou elenco notável. Se eu pudesse, eu desveria essa edição.


Depois disso, a Playmore ainda publicou uma das melhores versões de KOF: The King of Fighters XIII, que encerrou a saga de Ash com um final inesperado, na minha humilde opinião, adequado. Belíssimo, KOF XIII colocou diálogos entre todos os lutadores, muitos que se conheciam em torneios anteriores, rivais, inimigos e companheiros interagiram entre si, às vezes separados por décadas sem se ver, outros inseparáveis até o presente torneio. KOF é uma das maiores séries de jogos de luta do mundo e a SNK Playmore deixou sua marca na 13ª edição. Música, enredo, elenco e gráficos praticamente impecáveis.


A SNK Playmore, disposta a reviver novamente os tempos áureos, volta a se chamar SNK, com ajuda a Atlus (empresa famosa por RPGs japoneses e gráficos virtuais competentes) lança a (atualmente) última versão: KOF XIV, aderindo à tecnologia 3D, mas sem comprometer a jogabilidade, o KOF que promete ser o mais fácil de jogar entre iniciantes e oldgamers.


Embora as opiniões sejam divididas, acredito que a nova SNK cumpriu muito bem o que prometeu, embora os combates online de KOF XIV sejam muito desleais e pouco divertidos, especialmente pelo balanceamento pendente no jogo. A historyline inicia um novo arco na série, a interação entre muitos personagens (não todos, como no XIII), as novidades entre figurinos e movimentos novos... volta a ser muito do que era, a tal saga do KOF.

E, finalizando... Cid, Warg... caso vocês tenham arranjado um tempinho pra chegar até esta linha, fiquem à vontade para espinafrar as últimas sagas. Pra mim, sempre valeu a pena, antes de tudo porque, como você mesmo disse, Cid: "Só o nome King of Fighters já me faria colocar uma ficha na máquina". Você estava certo, cara. Você também, Warg. Nós só erramos a época, mas muita coisa do que estava previsto realmente aconteceu. Não literalmente, mas aconteceu.

Abraços!
E... BE THE FIGHTER!

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