domingo, 12 de julho de 2015

Mini-Conto: A cafeteria.


São 18:20, esse horario sempre tem pique aqui na cafeteria. Trabalho aqui a uns 6 meses e ainda não peguei o jeito, odeio ser garçom, mas dá para pagar as contas.
Todo dia é a mesma coisa, pastel e café para o senhor de bigode, refri diet e coxinha para a senhora que vive querendo fazer dieta, se eu ganhasse 1 real para cada figura estranha que aparece...é eu ganho um 1 real mesmo para cada figura estranha que aparece aqui...enfim, só que nesse dia, algo diferente aconteceu. Sabe não sou um cara romantico, na verdade namorei umas duas vezes só, acho que sou bom demais, daí já sabem, mas naquele dia, acho que me apaixonei de verdade e o mais estranho ainda é que eu acho que ela também. Eu estava limpando a mesa e quando eu vejo uma moça, alta, acho que maior que eu, madeixas rosas, olhos azuis, não era real, não para mim.
A boca dela, era tão perfeita, que me assustei, pensei que havia morrido, o que não seria ruim.
Ela parou do meu lado e meio timida disse:
-Tem...como me trazer um café bem forte...sem açucar?
-Claro, qual é a sua mesa?
-.....
-?
-É aquela ali...
Ela me aponta a mesa ao lado da janela, os dedos dela eram magros e as unhas grandes, estava pintada de vermelha. Na verdade ela se vestia peculiar, calça jeans, all-stars cada um de uma cor diferente e um abrigo, maior que ela.
-Ok, um instante.
Essa cena se repetiu por alguns dias, semanas, meses, até que um belo dia ela me pergunta algo:
-Qual é o seu nome?
-Virgilio, e o seu?
-Ciel...
-Ciel?
Sei que meu nome era estranho, mas o dela, será que é aqueles apelidos de garotada?
-Sim...diferente né?
-Acho que sim, ou não, não tenho certeza...
Ela olha nos meus olhos, bem fundo, na alma e pergunta novamente:
-O que você faz depois daqui?
-Vou para casa...por?
-Nada...sou curiosa...
-Ok, bom aqui está seu ca...
-Me espera ali fora?!
Ela fala alto, algumas pessoas até olharam assustadas para nós.
-Err...ok então...espero sim...
Ela se levanta, rapido, nem toma o café, apenas deixa o dinheiro e sai andando.
Fiquei um pouco surpreso, mas esperei ela na rua, claro que minhas aulas de karate, iriam me ajudar um pouco, caso ela queresse me matar, rezei que fosse uma faca, não aprendi a segurar balas.
Ela chegou, eram 22:30, um pouco tarde, mas nada demais, a cidade era calma e pequena, mesmo que eu não conhecesse ninguém, a maioria me conhecia.
Ela parou na minha frente e disse um oi muito timido, depois disso me abraçou forte. Me lembrou que eu não levava um abraço há muito tempo, o que é bem ruim. Retribui o abraço e a apertei, ela cheirava bem, perfume docinho. Estava de mochila, acho que acabou de chegar da escola. Ficamos ali abraçados por alguns minutos, na verdade acho que foi o abraço mais longo que eu já tive.
Após isso, ela ficou do meu lado e começamos a conversar, contamos coisas sobre a vida, rimos um pouco, algumas perguntas atrevidas surgiram, mas tudo calmo, até que vem uma questão um pouco impertinente:
-Tem namorada?
-Ha! Só em sonho...
-A...então com licença...
Ela me fitou o olhar e quando eu vi meus lábios e os dela estavam juntos, meus braços envoltos dela e o beijo se estendeu, por momentos que não contei, eu queria isso, mesmo que ela fosse só uma cliente e eu apenas um servo e por um milagre, ela queria também!
Após nós afastarmos, ela pede desculpas e então diz:
-Tenho cuidado de você faz tempo...
-Como assim?
E então ela se afasta alguns metros de mim e para no meio da rua, uma luz gira em torno dela e então ela se transforma em algo angelical e com uma voz que ecoava por aquele beco, onde eu encontrei com ela, escuto:
-Virgilio, eu Ciel, uma das servas de Odin, me apaixonei por sua pessoa, mas infelizmente não sabia como os mortais demonstravam o primeiro amor. Agora eu sei e prometo voltar, assim que puder. Adeus meu amor.
Eu primeiro tentei lembrar, se não estava drogado e graças não estava. Fiquei com a boca aberta e não soube o que dizer, enquanto ela subia aos céus, apenas abanei e depois caí no chão. Acordei em casa, um amigo me achou e me levou. Perguntei o que aconteceu, ele só disse que eu tava fedendo a perfume doce, que tinha algumas penas em mim e que um mendigo roubou meu casaco e cara, eu gostava daquele casaco. Ele também disse que encontrou uma carta, ele me deu ela, a abri e li:
-Não se esqueça de mim meu amor.
Estava escrito em vermelho, parecia sangue, o que me deu calafrios. Faz tempo que eu não a vejo, mas ainda assim todo dia de manhã tem uma pena branca na minha janela...e depois disso tudo, coisas estranhas começaram a acontecer e eu nunca fui capaz de esquecer.
                                

Um comentário:

  1. Muito bom, como sempre, Gabriel. Eu me senti um pouco de cada personagem.
    Jamais imaginei que ia acontecer isso depois do beijo. Ciel... que conto bonito!

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