quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Kubo e Karneades

Está postagem foi tirada da comunidade: Bleach Project, ela mesmo contém alguns spoilers sobre a trama(minimos) e foi escrita pelo membro Aldo Fernando.



Vi membros postarem excelentes análises ultimamente, exaltando o lado subjetivo da obra. No entanto, sempre existem aquele que dizem não crer que o autor tenha pensado em todas essas referências. Bem, eu discordo. E ponho aqui como "prova" o título do capítulo 46 do mangá, intitulado "Karneades~Back to back.

Por que se você põe uma tese filosófica em seu capítulo de mangá e põe o nome do dono do seu maior defensor no título, então você é um fanfarrão. Rs

E aqui vamos nós.





I
O discurso do extermínio






O que leva um país a entrar em guerra, gastando enormes somas de dinheiro público, decretando a morte de centenas de soldados e infligindo quase sempre um duro golpe na economia interna? É o discurso. Discursos sustentam ideologias (e por ela são sustentados). Discursos, que nem sempre podem ser verdadeiros, podem fazer milhares de pessoas marcharem pra morrer ou pra matar. Discursos podem sustentar as ideologias mais repugnantes. Exemplo, nazismo. Exemplo, ditadura. Exemplo, o extermínio dos Quincys no mangá Bleach.

Meus senhores, O extermínio dos quincys foi abordado pela primeira vez em Bleach (me corrijam se eu estiver errado) no capítulo 46, de título "Karneades~Back to back".

Nesse capítulo a Rukia fala do extermínio dos arqueiros espirituais. Revela a Ichigo que foram os shinigamis que os dizimaram. E ela disse que foi...


"Para evitar o fim do mundo"



Isso aí que pus entre aspas foi o discurso. Foi o motivo oficial que o Gotei 13 utilizou para iniciar a matança daquele grupo de seres humanos. Segundo Rukia, os shinigamis mantinham o equilíbrio entre o mundo real e a soul society. Mandavam as almas para a SS e estas poderiam voltar para o mundo real. Os hollows não eram exceção. Ou seja, era um ciclo. E os shinigamis o regulavam muito bem.

Mano Toshi: "Mas aí os manos do arco espiritual chegaram na parada e bagunçaram a porra toda, tá ligado?"


Mano Toshi está certo. Os quincys apareceram e resolveram fazer a mesma coisa dos shinigamis, com a diferença de que eles destruíam os hollows completamente. O que era ruim, pois assim o equilíbrio entre os mundos era seriamente rompido, o que poderia causar o... "fim do mundo."

Depois disso Ichigo corre até Ishida e este dá a sua versão do ocorreu. Ele não chega a tirar a razão dos shinigamis, mas fala sobre "os shinigamis não serem rápidos na resposta aos ataques de hollows." E depois disso eles passam a lutar juntos. Shinigami e quincy, décadas após o extermínio.

Que convenientemente passam a lutar lado a lado.


II
A odisséia dos títulos
(Conhecendo o homem)





Considero o título uma das coisas mais complicadas de um história. O autor logo pensa que não pode ser clichê, não pode ser óbvio e também tem que sintetizar todo o propósito numa só palavra ou frase. O título é a cereja no bolo, o toque final. E o filho da mãe que é o Kubo parece não ter problemas em fazer títulos. Pelo contrário, em todos os seus capítulos a critividade do autor de Bleach para eles é incrível. E o melhor: os títulos tem relação com a história. E são muito "cool", por falta de melhor expressão.

Mano Toshi: "Mas o kubo foi esperto. Botou dois títulos nesse aí. Mais malandro que eu."

É verdade, Mano Toshi. Mas esse é um artifício recorrente na literatura. Contanto que os dois títulos tenham as qualidades que citei no primeiro parágrafo, tudo bem. E pôr "Karneades" no título não foi coincidência.

Antes de continuar, eu gostaria de dizer: Panini eu te amo.

Mano Toshi: "Embonecou agora foi? Sei não, he."
Pra informação do desrespeitoso Mano Toshi, Panini é a editora que publica Bleach no Brasil. A Panini sempre traz ao final de cada volume algumas notas sobre expressões ditas no mangá. Não sei se eles apenas traduzem o a páginas de notas da Viz Media, se sim agradeço à Viz Media. Enfim, na nota de referência é dito o seguinte:

"Karneades, ou Carneades, filósofo nascido em Cirene (atual Líbia) em 214 a.C., ficou famoso por sua oratória e por seu ceticismo. Era capaz de tecer uma longa defesa de uma tese e no dia seguinte, fazer outra defendendo os pontos contrários. Dentre tantas polêmicas, defendeu que os deuses não existiam e que a justiça e a injustiça são questões de conveniência dos envolvidos.”

Fico emocionado toda vez que leio essa referência. Se biografias pudessem se transformar em sinopses, essa viraria a sinopse de Bleach. Kubo faz questão de detonar qualquer um que queria virar um deus e põe as questões entre os "lados" de Bleach também como questões de conveniência. Kubo deve ser um grande admirador da filosofia desse pensador antigo.

Ao ler essa biografia me veio è mente que o Kubo simplesmente estava indicando em quem ele se baseou para fazer o capítulo. Era coincidência demais. E a mensagem do capítulo me ficou mais evidente...


III
Juntando as pontas







Primeiro eu fiz um resumo sobre o que houve no capítulo. Falei também sobre como discursos podem sustentar ideologias, ideologias essas as mais absurdas. Depois falei sobre o filósofo que dá nome ao capítulo: Karneades. Pois bem.
Kubo nos revelou o modo como os quincys morreram, exterminados pelos shinigamis. Depois nos jogou outro fato, de que os shinigamis demoravam a responder aos ataques. Ao mesmo tempo pôs a palavra "Karneades" no título.

Mano Toshi: "Esse miserável tava querendo dizer alguma coisa".

Exato. A questão é que o Kubo queria dizer que, assim como Karneades professava, a verdade é um ponto de vista. Qual dos lados estava certo? Foi justo o extermínio dos quincys? É justo exterminar tanta gente por uma causa maior? Seria o fim do mundo realmente o motivo para a matança?

Mano Toshi: "Essa história não me desceu, cara!"

Nem a mim, mas não posso afirmar nada. Posso apenas supor... E SE esse negócio de "evitar o fim do mundo" fosse apenas uma desculpa? Um modo de chancelar algo absurdo? E SE na verdade o Gotei estivesse procurando uma desculpa para eliminar o que poderia ser um poder rival? Sim, pois do nada aparece uma força militar com chances de rivalizar com os poderes dos shinigamis. Eu não acho que eles deixariam isso passar...

Acho que essa foi a maneira do Kubo dizer "Hey, os shinigamis não são os mocinhos! Desconfiem deles!" Mas em vez de fazer isso de um modo mais explícito (fugir da obviedade é a marca do kubo) ele apenas jogou o nome de um filósofo no título. Para mim pareceu genial. Esse é um dos capítulos mais importantes do mangá. E lança uma pista que se conecta a outra, quando o Aizen, poucos antes de ser selado por Urahara, já no final dos Deicides, fala sobre a tirania do rei da soul society ou algo assim. E o Urahara não parece discordar...


Meus senhores, será que conhecemos mesmo os motivos por trás do Gotei? Quem é esse rei da SS? Ele é justo? O quanto sabemos sobre essas instituições?
Por outro lado, talvez os shinigamis estivessem certos. E se os quincys não estivessem mesmo dando ouvidos? E se não se importassem? Quando nossa vida é ameaçada, podemos agir em legítima defesa. Quando o mundo é ameaçado, medidas drásticas são necessárias.

Neste ponto, como ensinava Karneades, justiça e injustiça é apenas uma questão de conveniência.

Nesse momento percebemos a filosofia por trás do capítulo. Ao nos apresentar esses fatos o Kubo transforma-se ele próprio no Karneades e passa a defender as duas teses. E faz isso com um domínio tão grande que impressiona. Aliás, ele continuou fazendo isso ao longo do mangá. Até hoje não há consenso em se dizer que os hollows são o lado mau da história. Vemos bondade e maldade dos dois lados. E agora a vemos até nos humanos. Nesse momento KT lava as mãos e nos deixa com a escolha nas mãos.


IV
Por fim...





Desse capítulo tirei algumas conclusões:

1 - Kubo tem um grande conhecimento de filosofia e história. Para conhecer tão bem as teses de um filósofo não tão conhecido, ele deve saber alguma coisa do assunto.

2 - Ele aplica o que sabe no mangá. Por isso tem horas que não dá pra entender o real significado por trás de alguns capítulos. E Por isso uma leitura rápida vai dar a sensação de "estou sendo enganado."
3 - Em Bleach não são apenas os diálogos que contam a história. Os títulos também contam. Se ele não tivesse jogado o nome desse filósofo no título poderíamos nunca pensar nesse assunto com a profundidade que ele necessita. E certas coisas não fariam sentido. Você costuma lembrar dos títulos dos mangás que lê? Em Bleach isso é essencial. Ou você pode, novamente, sentir-se com a sensação de "estou sendo enganado".

4 - Pode estar certo de que você NÃO está sendo enganado. Bleach é belo por ter de um tudo, e principalmente por guadar referências e ser objeto de interpretações que te fazem descobrir uma beleza no modo como a história é conduzida que pode, como diria nosso amigo Henrique Santana, "f*der a sua vida". Mas isso no bom sentido.

Não considero que Bleach seja o melhor do mundo. Não acho que todos sejam obrigados a gostar. Sei que tem vários defeitos, o que é comum em qualquer obra feita por mãos humanas. Mas defendo a tese de que Bleach deve ser lido de uma maneira diferente. Não falo de mais trabalhosa. Falo do leitor dar um passo além na interpretação da história. Procurar o que não está lá. Essa é a graça de ler um mangá como esse."







FIM

Link do post da comu: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=3779889&tid=5662517679435472472


Estou colocando no blog por ter uma opnião muito parecida com está da analise feita.
Os links estarão no final.


"Sempre vi o mangá Bleach como uma obra com referências filosóficas profundas. Por isso sempre discordo, embora respeite, a opinião dos que dizem se tratar a obra de apenas mais um shounen superficial sem poesia nem nada de mais. Sem nada além."

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