quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um cavalo no sótão

Se vocês sabem um pouco do meu passado, provavelmente sabem que muitas das minhas férias de verão eu passei na fazenda do meu avô (que geralmente ficava sob cuidados do meu pai).

Sobre meu pai, bem... não quero expor muita coisa, mas vocês que leem este blog vão entender que de uma forma ou outra já homenageei aqui, com um ou outro personagem que... ora, vocês um dia o identificarão. Papai era sem paciência. Não gostava de explicações. Nem que ele precisasse prestar, tampouco que ele quisesse receber.

Eu não recordo minha idade na época. É possível que eu estivesse com 11 anos. Não tenho certeza. Mas eu tinha (e ainda tenho) um primo chamado Juca. OK, OK, esse não é o nome dele mesmo. O nome dele é Tiaraju. Mas, possivelmente devido às dificuldades infantis de se pronunciar um nome como esse, ele de alguma forma digi-evoluiu de "Ju" para "Juca". E pegou.


Meu pai gostava muito do Juca. Ele era dois anos mais velho que eu, portanto, tinha mais energia para as atividades do campo. Sem contar que o Juca morava longe da área rural, portanto ele se empolgava facilmente com as tarefas da fazenda, que pra mim eram enfadonhas. Ah, sim... meu pai tinha mais paciência com ele, acho que é porque seus momentos trabalhando juntos eram mais raros... mas aqui apenas divago.

Um dia dessas férias de verão tão chatas, finalmente a família do Juca chegou. Eu estava feliz por isso. Juca poderia até ser um baita puxa-saco do meu pai, mas ele era meu amigo. Houve finalmente um momento em que meu primo vacilou, e foi na frente do meu pai!

Ah, eu estava sedento por tal oportunidade. Mas este não é um conto intangível, eu vou ser bem mais específico. Naquela tarde, meu pai pediu ao Juca que subisse até o sótão do galpão da fazenda, pois era onde estavam armazenadas encilhas e arreios "reservas". Acontecia que, naquela vez, tínhamos visitas e íamos ao campo com mais cavaleiros que o de costume.

E o vacilo do Juca? Ah, sim! ele abriu a porta do "quarto das encilhas" e ficou parado na porta, como se tivesse visto um fantasma. Meu pai não havia visto esse detalhe, mas eu sim. Mas eu não estava entendendo o motivo dele estar ali, parado.

- O que houve? - Perguntou meu pai.
- Te-tem um ca-cavalo aqui dentro! - Surpreendentemente respondeu o Juca.

Permitam-me fazer uma breve pausa para esclarecimentos: nunca fui uma criança cética. Acreditei em E.T.s, fantasmas, lobisomens, chupa-cabras, discos voadores, anjos, demônios, e todas essas riquezas do folclore brasileiro e universal, cujos os contos às vezes me custavam cuecas novas. (Agora que sou adulto, por exemplo, acho desnecessário criarem um filme chamado "Invocação do Mal 2", considerando que já sinto-me bastante perturbado sabendo da existência de um chamado "Coraline e o Mundo Secreto". Me lembrem de jamais fazer um post sobre isso!)

Mas então, onde eu estava?
Ah, sim... Eu não acreditava no que meu primo estava dizendo. Corajosamente empinei o nariz e subi as escadas.
- Sai daí! - Transpirei arrogância e segui em frente. Mas o Juca me advertiu:
- Olha lá!

Entre os espaços das tábuas que constituíam aquele quarto, entrava um pouco de luz daquela tarde ensolarada. E a pouca luz que ali entrava me mostrava a silhueta de um cavalo. Não me perguntem de onde brotou tal coragem...
- Que bobagem! - Eu disse. E fui em direção ao "cavalo", incrédulo da visão amedrontadora do meu primo. Fui com as duas mãos diretamente às "orelhas" do bicho.

Entretanto, meu tato me surpreendera. As orelhas eram mesmo peludas! E assim que a soltei, "a cabeça do cavalo" se abaixou em direção a uma das minhas pernas.

(Só me deixem fazer mais uma pausa. Foi nesse instante em que eu pensei: "PUTAQUIOPARIU! UMALDITOCAVALOVINDODOINFERNOTÁTENTANDOMEDEVORAR!" - Fim da pausa.)

Eu devo ter dado uns dois passos para trás em câmera lenta. Depois disso, corri em direção à porta, onde meu primo parecia estar paralisado.
- Pai, tem mesmo um cavalo aqui em cima! - Foi minha única fala, quase aos gritos.
Meu pai, disse algo como "Que nada!", entrou no quarto indo diretamente à janela. Quando ele abriu, tive a resposta do fenômeno que eu havia presenciado: tratava-se apenas de uma capa de chuva grande, para o cavalo e o cavaleiro. Ela estava pendurada na parede, mas se soltou e caiu, permanecendo no formato bizarro da silhueta de um cavalo. O tecido desse tipo de capa é de certa aspereza, muitas vezes, peludo, que era o caso.

Pegamos as coisas que meu pai solicitou e passei o resto do dia cavalgando, conversando e entendendo que eu não passava de um bobo.

Um comentário:

  1. "...acho desnecessário criarem um filme chamado "Invocação do Mal 2", considerando que já sinto-me bastante perturbado sabendo da existência de um chamado "Coraline e o Mundo Secreto"..."

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!
    Como eu ri!

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