Heavy Rain - Artigo

Demorou um bom tempo para que jogos de videogame fossem considerados arte. Eu entendo esse (anterior) impasse. O cinema também demorou para obter esse título, mas hoje é conhecido como "a sétima arte". Isso até a concepção de "Cidadão Kane", o filme que provou que o cinema é uma arte.

Com os videogames, a coisa demorou um pouco mais. Muito mais. Mas nós, gamers, também tivemos nosso próprio Cidadão Kane: "The Last of Us". Desde então, as pessoas começaram a entender que videogames contam uma história, assim como um livro ou filme. Claro, não estou dizendo que Pitfall é melhor que Mogli, nem que Enduro é melhor que Velozes e Furiosos, mas o ramo dos games evoluiu a ponto de ganhar temática, enredo e até moral, portanto sim, games são arte e defenderei isso até o fim de meus dias.

Mas enfim, Heavy Rain. O enredo conta com 4 narrativas:

1 - Ethan Mars, um pai com um sério trauma quanto á morte de um de seus filhos, tendo como sequela perdas de memória involuntárias e repentinas, em uma dessas crises, perde de vista seu outro filho e acredita que esse tenha sido sequestrado;

2 - Scott Shelby, um policial aposentado e detetive particular que procura por um serial killer de crianças e se envolve com a mãe de uma das vítimas;

3 - Norman Jayden, um agente do FBI que está na cidade para ajudar a polícia local a  capturar esse mesmo serial killer; (e)

4 - Madison Paige, uma moça que sofre de insônia e decide abandonar a própria casa, devido a pesadelos macabros que anda tendo.

As quatro narrativas não são paralelas, visto que as histórias se cruzam, os personagens se conhecem por uma ou outra circunstância, já que possuem objetivos em comum. Todos os personagens possuem uma ou mais deficiências: além da Neurose, Ethan desenvolveu síndrome do pânico; Shelby tem asma, obesidade e facilidade em beber (beira o alcoolismo); Norman é usuário de uma droga chamada "triptocaína", mas sabe dos malefícios dela; e Madison tem insônia crônica, por isso vive se hospedando em motéis, já que seus pesadelos "acontecem" em casa.

O serial killer é conhecido com "Assassino do Origami", um homem que mata unicamente crianças em épocas chuvosas, afogando-as em água da chuva. O fato da cidade ser sombria, e ter semanas chuvosas colocam o tom "pesado" no jogo, provavelmente daí o seu nome.

Então, até aqui, temos:

Um pai beirando a esquizofrenia, com o filho sequestrado e um serial killer solto na cidade, em uma semana chuvosa. O Drama está por conta desse personagem.

Um detetive alcoólatra que se mete em lugares diversos (e muitas vezes malvistos) em busca de respostas, o que lhe ocasiona a Ação do jogo.

Um investigador viciado em uma droga, monido de equipamentos de tecnologia de ponta para a investigação, o que lhe faz caber um pouco de Suspense e Ficção Científica;

E uma moça que vive os dramas da ansiedade que a insônia lhe provoca, a ela caberá o Suspense e, por vezes, o Drama.

A bem da verdade, todos os personagens tem um pouco de tudo, estão do mesmo lado na investigação, mas seus caminhos se cruzam, às vezes em lados opostos.

Há quem reclame que o drama é uma das bases do jogo de modo exagerado, mas, considerando o enredo, mesmo com essa variedade de protagonistas, nenhum exagero é suficiente. Eu não sei se eu falo isso porque sou pai, mas eu sinto a agonia desses personagens. Uns mais, outros menos, mas essa é uma das vantagens dos videogames: estamos um passo adiante na questão da empatia, quando controlamos um protagonista e colhemos os frutos de nossas ações.

Ah, sim! Ele é um jogo de PlayStation 3 e 4, com exclusividade. Multi-protagonistas, múltiplos finais. E lá vou eu terminar o jogo mais uma vez. Fontes não confiáveis me disseram que o jogo chega a ter 17 finais diferentes, seria bom ver pelo menos uns... 5?

Obviamente, se você é fã de Fifa ou de God Of War, dificilmente vai gostar de um jogo de investigação, ainda mais quando seu requinte é dotado de drama. Por outro lado, Heavy Rain é como um bom livro. Desafio você a mudar minha opinião!