Atenção: O conto a seguir tem teores de choque com a realidade.
Esteja ciente de sua responsabilidade quando continuar lendo.
(16 anos)
O estômago se torcendo de fome foi a primeira coisa que sentiu, a segunda coisa foi o retorno da consciência antes de abrir os olhos, e era isso o que sua consciência lhe dizia:
"Sou Adriana, 16 anos, estou na minha cama, essa não é a minha casa, estou só, não vou cair."
Levantou-se e fez o que todos fazem ao se levantar: o café amargo tinha a mesma cor; o pão, o mesmo gosto; e o dia, as mesmas limitações. "Apenas mais um dia de mais uma formiga insignificante." pensou ela ao esperar o ônibus de sempre para sua vida de sempre.
Os olhos se fecharam por um momento do agora, sonhando com o que haviam lhe ensinado por toda a vida, o jogo da linda família sorridente de comercial de margarina lhe veio a mente: seu futuro marido lindo, gentil, carinhoso, que chegava do trabalho querendo apenas uma xícara de café o jantar e um beijo; tão perfeito e obsoleto. Logo despertou, ao lembrar o quanto a sua família quebrada era diferente daquilo: sua mãe dopada, com seus comprimidos anti-depressivos; seu pai assassinado em uma assalto, vitima de mais um lixo da sociedade; seu irmão preso por ter se tornado exatamente o que a sociedade queria fazer dele: um lixo, como o lixo que assassinou seu pai; e seus pulsos quase cicatrizados, lembrança constante de que não deveria cair novamente.
As pessoas eram conduzidas através das filas no pasto que era o centro da cidade. Mansas como gado, todos estão bem até a hora do abate. Os olhos viram as migalhas que iria ganhar por mais aquele trabalho, poucas migalhas, verdade, mas necessárias se queria continuar, com o que ela não sabia.
Seus olhos apenas capitavam que devia haver algo que valesse naquilo que compensasse tudo, algo mais do que aquelas miseráveis migalhas. Mas não enxergava. Era apenas um borrão sem forma, apenas o sentimento devastador que chamam de esperança.
Sorriu ao pensar: "É amigo... ainda não acabou, não enquanto ainda puderem me fazer sangrar!"
Foi ao seu trabalho, mais um ponto de prostituição podre feito pela necessidades primitivas da besta que existia em todo homem. Vestiu sua máscara, e foi prostituída, usada, manipulada e abusada pela sociedade, suas pernas tremiam no final do dia, doíam, havia ganhado novas marcas no seu corpo, e novas cicatrizes na sua alma.
Foi ao seu trabalho, mais um ponto de prostituição podre feito pela necessidades primitivas da besta que existia em todo homem. Vestiu sua máscara, e foi prostituída, usada, manipulada e abusada pela sociedade, suas pernas tremiam no final do dia, doíam, havia ganhado novas marcas no seu corpo, e novas cicatrizes na sua alma.
"Vejam o que fizeram de mim!" - pensou ao entrar no ônibus de sempre. "Contentes com seu brinquedo garotos? Então porque não os vejo sorrir?".
Entrou na casa, não se surpreendeu ao ver sua mãe inconsciente na poltrona velha e a TV ligada, seus dedos segurando ainda o pote de comprimidos alguns haviam caído no tapete imundo. "Pelo menos ela ainda pode se permitir isso.", colocou suas chaves na mesa, o sorriso triste no rosto quando deixou novamente a sacola com os pães ali.
Foi para o que deveria ser seu quarto, mas era apenas uma gaiola, no fundo a cama, o seu único descanso, ou talvez o único momento em que se permitia iludir.
"Sou Adriana, 16 anos, estou na minha cama, essa não é a minha casa, estou só, não vou cair nunca mais, por que vou despencar".
Foi o que pensou antes de cortar os pulsos e dormir, dessa vez para sempre.
Sombrio, mas é algo que posso imaginar acontecendo. Só me pergunto quem vai cuidar da mãe dela.
ResponderExcluirO que mostra um pouco do egoismo humano, ela em nenhum momento pensou nisso. valeu pelo comentário cara!
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