As Crônicas Tibianas - Cap. 50

Sob as lendas de Darashia...

O Sol tibiano mais uma vez iluminava, com sua face de fogo, os quatro guerreiros sorriam. O mar era azul como o céu. Nenhuma nuvem sob os céus. Andrezinho, repentinamente abriu a rampa de descarga de nossa embaração. Chegamos, quem diria? Assim que coloquei o primeiro pé na areia Darashiana, todos estavam à minha volta, como se me esperassem: Mila, Bryan, Sagal, Trin, além dos que já estavam comgo. Fizeram um corredor humano que me guiou direto a um templo.

No templo, uma sacerdotiza vestindo uma toga de um verde muito vivo virou-se para mim:

- Meu nome é Lynda, e este é o dia mais importante de sua vida, Bierum Wizzard!

Lynda me era estranhamente familiar. Ela pôs sua mão na minha e entregou-me um anel. Nele estavam escritas as palavras "Malu e Bierum, para sempre".

Malu veio em minha direção, sorrindo. Eu mal pude acreditar em meus olhos! Ela vestia um lindo vestido branco. Lynda tomou a voz:

- Bierum Wizzard. Diga, diante de todos deste templo: quem é a dona do seu coração?

- Malu Rosa. - Eu disse sem nenhuma hesitação. Foi quando Lynda perguntou:

- Malu Rosa. Diga diante de todos deste templo: quem é o dono do seu coração?

- Bierum Wizzard - ela respondeu.

Coloquei a aliança em seu dedo. Ela colocou outra no meu. Levantei seu véu e toquei sua face. Aproximamos nossos rostos.

- Malu, eu...

- Bierum, saiba... não é porque eu parti que eu nada sinto por você...

Repentinamente, tudo ficou muito escuro. Aqueles que me cercavam haviam virado esqueletos vestindo mantos negros. Ruídos horríveis me cercaram... o tapete do templo virou puro sangue, suas pedras viraram gelo.

- Bierum! Pare!!! - Gritou Andrezinho, da cama de cima.

Acordei suspirando fundo, senti suor em torno de todo meu corpo.

- Bierum, seu sono estava perturbado... - observou Andrezinho.

- Estava?

- Sim, estava tendo um pesadelo?

- Meio...

- Meio?

- É que a outra metade, foi um sonho lindo, meu amigo.

Senti o peso das lágrimas sobre meus olhos. Andrezinho apagou a lamparina de óleo com um sopro. E deitou-se novamente na cama de cima. Fazia uma noite quente. Uma horrível noite quente, que me deixou doente.

A lenda de Andrezinho

Naquela manhã, Andrezinho desembarcava caixas com outros marinheiros, em busca de uns trocados. Eu estava perguntando aos moradores de Darashia sobre o Gênio do deserto, Sam Scott resolveu explorar a área. E Grazi pôs-se a procurar aposentos para nós quatro.

Andrezinho juntou-se a outros sete marinheiros e levantaram juntos uma caixa enorme, que o fundo rompeu, revelando seu conteúdo: uma jaula, agora rompida, com um Dragão. Um problema, pois o cavaleiro dos cabelos longos não trazia sua espada nem seu escudo, ele os largara para concentrar sua força nas cargas.

A fera cuspiu uma onda de fogo em linha reta, na direção dos humanos que, acertados ou não pelo fogo, pularam na água, com exceção Andrezinho, que apenas esquivou-se. Agora o cenário era uma tonelada de madeira, 900 kg de lagarto gigante e um ser humano desarmado. Uma nova onda de fogo botou-se na direção de Andrezinho, que pisou numa tábua que envolvera a jaula e fez-lhe de escudo momentâneo, virando cinzas em seguida. Andrezinho apenas deixou a tábua no chão e correu em direção a outra, com o mesmo resultado, após outra onda de fogo. E a cena se repetiu mais duas vezes, até que o dragão estava envolto de chamas, num grande quadrado, diferente de Andrezinho, que conduziu as chamas a queimarem as tábuas do assoalho em volta da criatura.

Queimadas, as tábuas cederam, e a fera atingiu o porão do barco. Seu peso fez romperem-se as últimas camadas da embracação, que afundou instantaneamente. Marinheiros ajudaram Andrezinho a sair da água com sorte, bem diferente do Dragão, morto sob a água do mar. Comemoravam a valentia do cavaleiro, até seu coro de euforia emudecer-se ante a aparição de um homem gordo, bem vestido, usando turbante:

- Aquele Dragão era meu! Prefereria que morressem todos a perdê-lo! Inúteis! Idiotas! -  Mas seus gritos pararam ao sentir o punho do cavaleiro em seu queixo. O homem desmaiou na hora. E o coro voltou a comemorar.

A lenda de Grazi

Astuta, Grazi procurava aposentos para os quatro recém-chegados. Escolheu um belo conjunto de quartos próximo ao Mercado público de Darashia. Um pouco caro, mas muito cômodo. "30 dias... pobre Bierum. Espero que ele encontre logo o que procura."

Ela fechou a porta de seu quarto e resolveu conhecer o Mercado. Lá, viu uma menina jovem correndo de dois homens fortes. Abriu seu manto e escondeu a pequena ali. Os homens passaram rapidamente por ela.

- Como é seu nome? - Quis saber Grazi.

- Isah.

- Isah, porque eles estavam seguindo você?

- Porque eu apanhei isso. - Respondeu ela, mostrando-lhe um pequeno saco de pão - Para meus irmãos.

- Você roubou?

- Não! Eu jamais roubaria! - Eu criei esses pães com meus poderes de Drúida.

- Eu senti em seu coração, minha querida...

Voltaram então, os homens que procuravam a garota:

- A punição por roubo, nesta cidade, é a perda das mãos!

- Eu não fiz nada! - Gritou a garota.

Os guardas a puxaram e seguraram-na cada um por um braço, fazendo-a soltar seu bastão. Repentinamente, uma sombra cobriu os três. Os guardas olharam para trás e viram um Demônio Gigante. Rapidamente, soltaram a garota, como se jogassem-na para ser devorada e correram em disparada ao centro da cidade. De joelhos, os olhos de Isah brilharam:

- É você, minha salvadora?

E a fumaça se formou e desfez a Transformação Ilusória de Grazi.

- Como você sabia que era eu? - Perguntou Grazi.

- Eu senti em seu coração! - respondeu Isah. E deu-lhe um abraço.

Quando você andar em Darashia, talvez ouvirá histórias como essas... a do homem que venceu um Dragão sem usar armas ou magia... ou a da mulher que ajudou uma desconhecida e transformou-se num demônio, mas que foi reconhecida pela pureza de seu coração... são lendas de Darashia, que não terminam por aqui. Contarei-lhe mais...