Há meses trás, uma amiga e colega de trabalho minha deixou um
simpático bilhete em minha mesa. Provavelmente, esse bilhete foi fruto do
infeliz desencontro, já que minha assiduidade não anda lá essas coisas. Ainda
assim, voltemos ao bilhete:
“Bom dia, Roberto.
Pensei nisso ontem,
vindo para cá. Decidi dividir com o poeta filósofo.
Você já viu o
impossível acontecer?
Então era impossível?
O que é impossível?
O limite para o
impossível está engessado na mente humana.
M.V.”
A verdade é que esse bilhete foi encravado em minha mesa por
muitos meses (desde a Mostra de Talentos da minha empresa). E sempre pensei em como
eu poderia responder à altura: um questionamento tão filosófico, tão profundo
e, principalmente, tão genialmente simples.
Eu me lembrei de quando eu discutia com meus amigos não só a
filosofia, mas também os limites do impossível. Lembrei-me de alguns desses
amigos levantando teorias das quais eu respeitosamente discordava, ou
simplesmente me negava a acreditar. Como a história dos chuveiros do manicômio
que eram colocados a mais de 3 metros de altura para evitar enforcamentos; ou
da história da babá que por descuido deixou um bebê engatinhando à beira do
penhasco.
Os resultados beiravam o absurdo... mas não o impossível. No
manicômio, reza a lenda urbana, um dos pacientes correu tão rápido contra a
parede que conseguiu segurar-se no cano do chuveiro. Tudo porque um deles não
estava funcionando. No caso da babá descuidada, nada aconteceu ao infante,
possivelmente porque ele não conhecia os riscos do precipício, e essa lenda
termina questionando se ele teria flutuado, pois desconhecia os efeitos da
gravidade ou se ele teria apenas observado a imensidão daquele horizonte.
Voltando ao nosso século, os dias passaram e o bilhete me
levantava mais questionamentos. Seria injusto dizer que perdi noites sem dormir
sobre isso. Mas esses questionamentos me fizeram boa companhia nas noites de
insônia.
Mais uns dias à frente, e finalmente o destino bate à porta.
Era uma daquelas vitórias que pareciam impossíveis para mim. Perdoem-me ser tão
genérico, mas eu não quero adentrar em tópicos da questão que me fez rever
alguns conceitos. Ah, a vitória. Tão distante, tão improvável, tão
impossível... e foi aí que tudo se iluminou prontamente à resposta:
“Querida M.V.
Em primeiro lugar, eu
quero te agradecer por ter encaminhado a mim aquelas perguntas tão filosóficas.
Sabes bem que filosofia significa “amor à sabedoria”, não é mesmo?
Pois bem. Eu quero que
saibas que essas questões que me dirigiste me ajudaram muito. Foi como resolver
um cubo mágico. E hoje eu fico feliz em te contar: creio que encontrei algumas
respostas!
“Você já viu o impossível acontecer?”
Sim, finalmente eu
posso dizer que vi. Eu vi a ignorância ser vencida pela razão, eu vi a justiça
ser servida ao invés da escuridão desonesta. Eu vi o impossível, porque, como
tu mesma disseste, o impossível estava engessado em mim, pois eu o julgava
impossível.
“Então era impossível?”
Sim e não. Existem
dois tipos de impossível:
1 – Aquele que foge da
lógica, como os bebês que brincam na beira do penhasco. As chances de
sobrevivência dependem de outros fatores. Diante da realidade pessimista, seria
impossível, na realidade otimista, o impossível não existe.
2 – Aquele que
julgamos improvável e, por isso, o chamamos de impossível. Mas que,
convenhamos, só julgamos impossível porque nunca vimos alguém com a audácia de
provar o contrário.
“O que é impossível?”
E é aqui que me
orgulho: Impossível, minha querida, quando não foge dos princípios físicos, é
apenas uma condição.
“O limite para o impossível está engessado na mente humana.”
Tudo vai depender do
teu julgamento. Se tu julgas algo impossível, só alguém com audácia poderá provar-te
o contrário, quando não for esse alguém tu mesma!
Ah, sim, preciso te
agradecer por ter tornado esse pensamento tão possível.
Obrigado por ter me
questionado. Eu me sinto muito vivo. Tomei a liberdade de transportar esta
nossa conversa para o blog, sem revelar muito sobre a tua identidade. Espero
que não te importes.
Um abraço!
Seu amigo,
Roberto Bier”
Roberto Bier”
Espero que vocês tenham desfrutado desse momento tanto quanto eu. Deixo nas mãos de vocês a conclusão.
Tenho conversado muito com papis sobre essa história de impossível, vou compartilhar esse texto maravilhoso com ele, tem uma frase de charlie brown Jr que gosto muito sobre isso "o impossível é só questão de opinião". Maravilhoso como sempre amigo.
ResponderExcluirEu gostei muito, Bier! Tua ótica é muito bonita. Tu também fizeste filosofia?
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