segunda-feira, 8 de junho de 2015

11h00 da noite, BR 116. O Pneu fura em pleno KM158 (cerca de 200m do parque da Expointer). Sem iluminação. Apenas fluxo dos carros fazendo sentido interior-capital.

Meu FIAT Uno 2007, surradinho de tantas lutas, começa a apresentar problemas maiores que os habituais: Triângulo de segurança quebrado, peças de manutenção soltas no porta-malas e, finalmente, capô que não abre. Esse último impossibilita meu acesso ao estepe.

Está ficando tarde, há cada vez menos carros no fluxo. Dou alguns telefonemas: Posto de pedágio, Polícia Rodoviária, Tele-guincho. Passaram a responsabilidade para o Guincho, que me pediu duas horas para vir ao meu encontro.

Aí meu cunhado Leonardo, o Leo, me deu a dica: "A roda do teu carro aguenta mais uns quilômetros. Vai na manha e se precisar, me liga. Vou pesquisar um socorro pra ti."

Respirei fundo e, tomado de uma coragem desesperada, me boto a andar pelo acostamento. No caminho, carros buzinam "avisando sobre o pneu furado". Ligo o pisca-alerta, os avisos diminuem.

Achei um posto na entrada de Canoas. Fechado. Mas o Biermóvel ficará bem, protegido e menos desamparado. Caminho mais uns metros... finalmente um posto aberto. Só com dois frentistas e o vigia. Um mendigo fica na volta, ele não me pede nada, mas dá pra saber o que ele quer. Um dos frentistas diz ao vigia: "Chama aquele cara que faz a mão pra ajudar o rapaz aí!"
O vigia liga. Me diz pra aguardar. Depois me avisa: "Meu amigo vem aí. Ele te ajuda com a mão toda." Eis que vem pela esquina um rapaz negro, magrinho, ouvindo rap em um celularzinho pequeno. Apertou minha mão e disse "Não tem problema!". Me pediu pra mostrar o carro. "Ah, meu velho!" - disse ele - "Eu tava vendo tevê de barriga pra cima quando o telefone tocou. Queria ter uma borracharia 24 horas, aí não tinha problema pra neguinho nenhum."

Abriu o capô, com alguma dificuldade inicial, mas logo, num estalo, estava já tirando o estepe. Elogiou as condições das peças de manutenção. Elogiou o estado do estepe. "Maninho... esse teu pneu vai pra lixeira, ninguém vai consertar isso. Tu malhou ele demais até chegar aqui." Minutos depois ele retoma a palavra: "Já a tua troca... tá feita!"

Agradeci a ele (e a Deus) pela presteza. Não é sempre que alguém tem boa vontade com algum estranho. Perguntei quanto ele queria. "Não senhor, não cobro não." - Mas entreguei-lhe os únicos 10 reais que tinha comigo - "Puxa, amigão, obrigado mesmo!" - ele disse sorrindo. Ainda propus de levá-lo em casa, ele disse que preferia andar à noite, disse que estava em casa.

Eu ainda estava envergonhado de ter feito tão pouco por ele. Dei-lhe meu nome e telefone. Expliquei pra ele onde trabalhava e que poderia ajudar no que ele precisasse. Colocou tudo no celularzinho, apertou minha mão e ele (quem diria) me agradeceu. Desejou-me que Deus me acompanhasse no fim da viagem e disse que tudo vai dar certo.

Eu sei que você não vai ler isso, cara. Mas eu não esqueço. Cedo ou tarde, eu volto no posto. Peço para o vigia te chamar de novo. E aí pretendo te deixar uma recompensa. Pode ser que demore até um pouco. Mas eu não esqueço.

Já teve quem reclamasse de que exagero quando sou grato por algo. Não ligo. Pra mim, o importante é fazer alguém se sentir bem, da mesma forma como eu me senti, quando aquele carinha magrelo, ouvindo seu rap, olhou pra mim, sorriu e disse "Não tem problema!"

Obrigado, de novo, cara! Bebês não dormem tão bem quanto eu dormirei hoje. Fé na humanidade restaurada. Ah, eu liguei pro Leo e avisei que deu certo. Obrigadão, Leo!

2 comentários:

  1. "Pra mim, o importante é fazer alguém se sentir bem, da mesma forma como eu me senti" - nobreza da sua parte, Bier. Que bom!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Déia.
      Eu ainda pretendo voltar lá para agradecer ao carinha que me ajudou de novo.E volto aqui pra contar.

      Excluir

Vai comentar? (Faça login no Google antes.)
Com a palavra, o mais importante membro deste blog: você!