Lá
estava eu no bar novamente, bebendo sozinho pela terceira vez aquela
semana. Havia aquela garota, olhar felino, longos cabelos castanhos e
encaracolados. A vi dançar e rir com os amigos nas últimas duas noites,
hoje ela estava ali, cabisbaixa, sentada no balcão com um copo de
Whisky. Eu bebia chopp. Como as coisas mudam, não é? Enquanto eu
refletia sobre isso, olhando o meu copo percebi que ela já não estava
mais lá. Eu poderia ter puxado conversa, estava se tornando corriqueiro
perder sem ao menos tentar.
Segundos depois lá estava ela, sentada ao meu lado e pedindo o mesmo que eu. Levou o copo à boca e por fim disse que eu tinha bom gosto para bebidas, andou me observando e gostava do meu estilo. Eu disse que algumas vezes, sentamos esperando com o copo na mão que aconteça algo que nos tire da velha rotina, mas que não nos mobilizamos para fazer acontecer. Ela sorriu, era este o ponto. Ela disse que estava cansada de sair com as mesmas pessoas, fazer as mesmas coisas, rir das mesmas piadas e fingir estar feliz.
Quando
esvaziamos os copos ela pediu uma garrafa de vinho barato e me
perguntou se eu havia algo melhor para fazer, respondi que não e ela me
convidou para caminhar um pouco. Aceitei. Caía uma garoa fina, daquelas
que se acumulam em gotículas nas roupas e nos cabelos. Caminhamos algum
tempo, bebendo e rindo como duas crianças, ela saltava pela calçada
pisando apenas nos azulejos de uma determinada cor, como fazíamos quando
criança.
Depois
sentamos no chão, exaustos, então percebemos que a garrafa estava
vazia. A este ponto, a garoa havia se transformado em chuva, ela disse
que seu apartamento ficava há uma quadra dali, então nos dirigimos para
lá. Não era muito grande, mas havia uma grande estante de livros, parei
para olhar enquanto ela ia buscar uma toalha. eram muitos livros, novos,
pareciam intocados, virgens. Ela me entregou a toalha e perguntou:
Gosta de livros? Não esperou resposta, me levou pela mão para a cozinha.
O que eu não daria por uma boa xícara de café? Ao invés disso ela me
fez uma caneca de chocolate quente.
Nunca
entendi por que as pessoas gostam de mostrar suas casas, cômodo por
cômodo, detalhando de por que assim, por que assado. Ela era uma dessas
pessoas. Acabamos sentados em sua cama. Ela deitou e apoiou sua cabeça
sobre a minha perna, assim ficamos algum tempo em silêncio. Depois do
que me pareceu uma eternidade, ela disse que estava no bar esperando
alguém que não apareceu. Eu detesto este tipo de coisa, quer fazer um
inimigo, deixe-me esperando. Eu estava no bar tentando esquecer algumas
coisas, dizia para ela até perceber que ela havia adormecido. Coloquei
sua cabeça sobre os travesseiros, desliguei as luzes, fechei a porta e
fui embora pensando que nem ao menos sei como ela se chama...
Ai, Henrique... essa história tem continuação? Parece um romance tão bonito nascendo aí...
ResponderExcluirEu acho que já fui essa garota.
Bah, estou trabalhando nela neste momento. Acho todos passamos por algo assim alguma vez, não concorda?
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