A verdade é que nós não acreditávamos em nada. Bíblico, satânico, nórdico... Nós éramos a UNExS, é preciso ter mais do que estudo para se chegar até aqui. Mas agora, após os anos 2000, posso dizer pra você: é fato! O apocalipse será distribuído por quatro cavaleiros.
Não era isso que o Superintendente queria. Ele preferia céticos nas tropas. Penso até que ele nem ao menos queria ser líder da UNExS, porque, pode apostar, meu amigo, quando nós colocamos uma só das botas no território, é porque a situação não é boa.
Tivemos de interferir com um negociador em Burquina Fasso. Esse país minúsculo da África, os nativos menos colonizados veneravam uma jovem que vestia um túnica branca. A aldeia não tinha armas, mas as aldeias vizinhas diziam que era a invencível.
Estávamos a cerca de 16 km da aldeia. Nosso guia, Monsenior Desfar, um francês naturalizado, recebeu um bom pagamento para servir de intérprete. E no início, achávamos que ele estava mentindo. Os depoimentos dos nativos vizinhos eram impressionantes e sensacionalistas.
"Ele diz que a dama negra não gostou da ideia dos invasores. E num instante, todos que estavam à sua frente caíram mortos. Foi a extinção completa de um povo inimigo. Os devotos de Kali nunca usaram uma única arma, mas venceram todas as guerras."
Desfar olhava-nos com um sorriso estranho. Ele sabia que estávamos ali para buscá-la. Poucos homens, um único jipe. Nosso intérprete, um negociador, um motorista e Desfar. Saudamos os sentinelas da aldeia com a mão aberta sobre a cabeça. O país era bastante civilizado, mas a área selvagem era mais bonita. E mais perigosa. Mas já estávamos entrando na aldeia onde a dama negra nos esperava.
Desfar cumprimentou o líder em sua língua nativa. Logo, um dos líderes apontou para uma cabana. Nosso guia avisou que havia uma senhora idosa com uma doença infecciosa. Mas lá estava a nossa dama. Sem medo de ficar doente.
Aproximamo-nos cuidadosamente. Podíamos ouvir as duas conversando. Pareciam calmas. A conversa se encerrou quando a jovem fechou os olhos da idosa e assoprou suavemente sua testa. A velhinha parecia dormir profunda e tranquilamente.
Desfar então se aproximou, fazendo sinais para nós três segui-lo. Ela olhou-nos um pouco assustada. Tinha um pé recuado. Ele começou a dizer longas frases. Ela repetiu a última palavra dele e logo estávamos todos sentados ao chão. Dois outros nativos apareceram, foram dar um fim no corpo da idosa.
Nosso intérprete ouviu Desfar e perguntou ao negociador sobre a proposta. A dama branca fez uma pausa e depois uma pergunta. Desfar falou com o intérprete, em francês. Nosso intérprete disse que nosso guia estava sendo um tanto grosseiro com relação aos valores.
Começamos a discutir. Desfar disse que ela estava irredutível, mas percebemos que ela só estava preocupada. Nosso intérprete estava cansando. Desfar, irritado, começou a gritar, em inglês pobre:
- É insuficiente! E ela quer que eu vá com vocês, já que não a entendem!
Nosso negociador desafiou Desfar a não entrar no jipe e ver se ela apelaria pela presença dele.
Ela levantou-se. E perguntou, em francês, se ia ajudar mais pessoas do que a vila oferecia. Desfar ficou surpreso e furioso. Começou a discutir com ela, elevou o tom de voz até que sua argumentação silenciou. Ela olhava nos olhos dele.
<Sim eu sei francês. E sei bem que um verme como você jamais usará o dinheiro para o benefício maior do que o seu próprio!> Traduziu nosso intérprete, minutos depois de dois nativos recolherem o corpo de Desfar. Pouco antes, os olhos da garota acenderam em um branco profundo e assustador. Desfar caiu como se tivesse sido atingido por um raio. Ela, por outro lado, virou-se subiu no jipe sem o menor remorso.
Nosso tradutor perguntou se ela queria aprender inglês. Ela disse que sim e terminou dizendo: "Appelez-moi Kali".
Fim do relatório.
Seis meses depois, terroristas sequestravam um avião no Zâmbia. Tivemos de provocar algum tumulto e inserir Kali entre os reféns. Esse foi o maior azar deles.
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Conheça o episódio Zero desta saga.
Ou vc pode querer ler:
Rúbia
Cinza
Crônicas Tibianas Cap. 1
Outros contos do blog
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Essa sua série é um tanto macabra, Bier. Cadê o romance?
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