segunda-feira, 17 de setembro de 2012

As Crônicas Tibianas - Cap. 65

Colocando as coisas no lugar

Leo, Raphaela e Isaah acompanharam-me na jornada até Venore. Nesse caminho, Leo e Raphaela pareciam fascinados com minhas histórias, observavam com respeito meu cajado e meu escudo. Alguns Ciclopes interromperam nossa caminhada, mas éramos quatro e estávamos prontos para eles. O Sol da tarde estava enfraquecendo, a ponte não tinha mais sinais daqueles vândalos da noite anterior.

- Estavam tentando matar quem quer que passasse pela ponte. - Comentou Isaah. - E essa é a parte ruim de ser Amazona: Eu só poderia lutar com eles de muito perto. Eram muitos, e lutavam de perto e de longe.
- Você conhecia alguém daquele grupo? - Perguntei inocentemente.
- Não... - respondeu Leo - ...o que acontece é que ela viu o que eles faziam, assim como nós também vimos.

- Viram? - Perguntei.
- É! - Continuou Raphaela. - Eles jogavam raios, fogo, gelo, dardos, flechas, lanças e invocaram demônios. Além de matar inocentes, atacavam às vezes uns aos outros. Eram bárbaros.
- Você não havia percebido? - Devolveu-me com outra pergunta, Isaah.
- Vi. Mas nessas horas... - divaguei - ...melhor é correr do que conhecer. Creio que entrei em pânico. Que vergonha.
- Não é vergonha! Digamos que mais inteligente viver para o amanhã do que morrer para o hoje. -  Concluiu Leo. E rompemos em risadas.

Assim que chegamos em Venore me despedi dos três companheiros.
- Muito em breve vou precisar de companheiros para caça. - Comentei.
- É bom saber. Poderemos trocar algumas dicas. - Disse Leo.
- Ouvi dizer coisas sobre o Forte dos Elfos... pretendo ir até lá para treinar minhas habilidades com Pedras Rúnicas de Gelo. - Adicionou Raphaela.
- Certo... irei até lá. Mas hoje quero resolver algumas coisas aqui na cidade.
E assim, meu grupo se desfez.

Voltando ao alojamento, minha cabeça doía. Eu sabia que havia errado. Havia outra saída com relação a Grazi. E quanto a Andrezinho? Sam? Mila? E Bryan? Eu os larguei em Carlin como se nada mais importasse. E isso, logo quando eles tanto haviam me ajudado. Quão amigo eu sou?

A poeira havia tomado conta de meu aposento. Percebi, inclusive que havia uma carta embaixo da porta, que parou na parede de apoio. "Depois,..." - pensei. "...pois agora preciso pensar.

Andrezinho, pelo que bem me lembrava, nunca havia me pedido um favor. Sam era um seguidor meu. Eu simplesmente o deixei? Mila, uma amiga minha que andava com Bryan e os dois me respeitavam como um mestre. E Grazi simplesmente me pediu para retribuir um favor. No final, eu a ataquei covardemente. Aquela cicatriz de uma caveira branca saiu em alguns minutos, mas assim que refleti sobre tudo que aconteceu, cheguei à conclusão de que ela deveria ser eternamente estampada no meu braço. Se agora eu não tinha ninguém, a culpa era unicamente minha, pois eu sou o responsável pelo que eu interpreto.

Deitei em minha cama. A noite começava a cair e eu estava, apesar de ter encontrado novos companheiros, preocupado com todos aqueles fatos, todos ao mesmo tempo. Desejava que houvesse uma magia que me permitisse "apagar" como a chama de uma vela... e me reacender quando as coisas se resolvessem. Acabei dormindo com essas utopias na mente.

Tão logo o dia raiou, ouvi movimentação no alojamento ao lado. Certamente Andrezinho teria voltado. Scott também, provavelmente. Não tardou muito para que Andrezinho batesse à minha porta.
- Andrezinho, que surpresa! Acho que devemos mesmo conversar. Entre.
Andrezinho estava com roupas comuns e a mochila nas costas, sem armas, como havia de se esperar. Apenas disse "Bom dia!" e "Com sua licença." Sentou-se à mesa comigo. Coloquei um bife vermelho em seu prato.
- Se não se importa,... - dizia ele - ...eu não quero comer carne.
- Hum? - estranhei.
- Bierum, o mundo está cheio de variedades e sabores, oferecidos pela natureza. Eu prefiro evitar matar para viver, mesmo que sejam apenas animais.
- Eu entendo, mas você condenaria quem...
- Ah, não... os outros são os outros.
Repentinamente, Andrezinho retirou de sua mochila uma garrafa de leite.
- Comprei hoje cedo na Hard Rock Tavern.Vamos incrementar esse café da manhã?
- Sim! - respondi - Apenas me dê um momento, acho que tenho algumas frutas em algum lugar.
Começamos a comer, quando Andrezinho avistou a carta pelo chão.
- Viu isso, Bierum?
- Oh, eu já havia me esquecido. Deixe-me ver isso com cuidado.

Com o envelope nas mãos é que pude perceber que chegara há dias. Talvez  um antes de termos saído na última jornada. E perdi a conta de quanto tempo fazia isso. Abri o envelope já preocupado.

Andrezinho se mantinha impassível perante a situação. Provavelmente a minha organização, ou melhor, a falta dela perturbava meu colega.

Por fim, li atentamente a mensagem:

Querido Irmão Bierum, não consegui contato com nenhum de nossos irmãos. Enviei um aprendiz novo para a Ilha do Destino, para que você possa doutriná-lo. Ele disse, pouco antes de deixar a ilha, que se tornaria um Drúida. Mandou-me uma carta dizendo que terminou seu treino e irá procurar por você em Venore. Ele chegará em poucos dias. Me escreva assim que puder.

                            Sua irmã, Alys


- Andrezinho, há quanto tempo acha que essa carta...
- Pelo amarelado do papel... acho que se passou um mês.
- E ele...
- Acalme-se. Ele sabe o seu nome. Embora Alys não tenha mencionado o dele, se ele for esperto, virá ao seu encontro.

Batidas à porta. Era Scott.
- Bom dia, mestre!
- Entre, Sam. Gostaria de tomar café conosco? Estamos terminando, mas você pode ficar à vontade. Temos frutas e carne que não estragaram. Andrezinho não se importará de dividir o leite.
- Já tomei café, obrigado. A você também, Andrezinho.
- Temos uma novidade também. O grupo poderá ganhar outro Drúida.
- Outro Drúida?! Isso é bom, mas onde ele está?
- Isso descobriremos. Em breve.

O dia estava apenas começando. Quanto a você, meu amigo... creio que precisa descansar. Temos um longo dia pela frente.

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