As quatro pilastras (parte 2)

No tão esperado dia, Edward acordou antes de Marla o chamar. Beijou a esposa, beijou a filha e levantou-se. Fez a barba e pôs um blazer após um banho quente. Tomou café com a família, avisou que não almoçaria em casa, nem que levaria a filha à escola. Não pediu motorista. Preferiu ir dirigindo até a Torre. Deu bom-dia ao porteiro, ao recepcionista, à secretária da Torre e, por fim, aguardou a chegada dos outros três vendo como a Corporação funcionava.

Andrew levantou da cama, beijou Helga que ainda dormia. Olhou o retrato do pai, tomou um banho rápido e vestiu um terno. Pediu um motorista para guiar seu carro, ainda enquanto tomava café. Comentou sobre futebol com o motorista. Cumprimentou o porteiro da Torre, perturbando-o a respeito do time de futebol que perdera. Saudou o recepcionista, ainda rindo do porteiro, cumprimentou a secretária da Torre e drigiu-se à sala de reuniões da CT.

Anthony acordou preocupado. Já fazia mais de uma semana que os quatro não se reunião profissionalmente ou não. Hoje era dia de ver resultados, hoje era dia de ver até onde a Torre iria. Dia de corrigir os defeitos e ampliar as possibilidades. Um dia trabalhado era um dia de mais rendimento. Tomou banho às pressas. Colocou seu terno, deu um nó firme na gravata, ajustou a lapela dourada, não tomou café, chamou um motorista. Na Torre, esperou reverências do porteiro, do recepcionista, da secretária e de Andrew, que estava à espera dele e dos outros na sala de reuniões.

John não levantou até a quarta chamada de Marla. Deixou um bilhete para a moça que dormira com ele. Pediu que deixassem café no quarto para ela, com uma toalha, caso quisesse um banho. Tomou o seu, rapidamente. Pediu que lhe trouxessem o carro esporte, enquanto comia um hambúrguer de micro-ondas. Pediu à Marla que parasse de lhe alertar sobre atraso. Correu um pouco, mas chegou a tempo na Torre. Deu um tapinha nas costas do porteiro, outro no ombro do recepcionista e outro no traseiro da secretária. Abriu as duas portas da sala de reuniões e pôs os pês em cima da mesa, olhando para os dois sócios que estavam assustados com uma chegada tão pouco discreta.

Edward chegou logo depois. Anthony reclamou, mas todos fizeram pouco caso.

- A reunião, senhores - dizia Anthony - é prioritária devido ao avanço que a Torre conseguiu com a energia experimental. Hoje, nossos cientistas farão uma  demonstração no subsolo. A ideia é simples: solidificará moléculas de ar. Ainda não acharam consistência em toda ela, mas já pode ser vista e analisada. Vender essa fórmula está fora de questão... ainda.

Edward - Energia experimental é perigosa, não?

John - Pra mim parece divertido e lucrativo,o que dá na mesma... vamos logo com isso.

Andrew - Precisamos focar num objetivo. Essa energia pode ser lucrativa. Se for bem direcionada, claro.

Anthony - É lucrativo e é o que importa. Vamos parar de perder tempo.

E com isso, Anthony chamou o elevador. Seu semblante era sério. John foi o primeiro a entrar, parecia empolgado. Edward estava curioso, mas, ao mesmo tempo, temendo que algo pudesse dar terrivelmente errado. Andrew parecia o mais interessado: esses avanços científicos seriam de maior contribuição às vidas das pessoas, pois se pudesse formar outra matéria, talvez a ecologia teria a ganhar... talvez problemas maiores poderiam ser solucionados através da Corporação. Os lucros eram um benefício secundário.

Alcançaram o 5B, o quinto andar do subsolo.

- Devemos pôr as roupas de proteção? - Quis saber Edward.

- Desnecessário, senhor! - respondeu um dos cientistas - Os senhores estarão atrás do muro de vidro e acompanharão tudo digitalmente.

- Nesse caso, porque a demonstração será feita ao vivo? - Continuou indagando Edward.

- Minhas ordens. Não suporto a possibilidade de sermos enganados. - respondeu Anthony.

O silêncio um pouco constrangedor é interrompido quando um cientista anuncia:

- A sala ao lado tem 4 pequenos geradores. Eles transformarão as moléculas de ar em matéria sólida. Em um elemento que ainda não denominamos.

- A possibilidade de isso ser um novo elemento, inédito na tabela periódica é imensa. - Complementou Anthony.

- Ou uma variante do Oxigênio, não? - Quis saber Andrew.

- Respostas depois. Liguem logo! - Interrompeu John.

A luz da sala diminuiu um pouco. E os quatro geradores criaram quatro pilastras azuis, de uma energia formada por inúmeros pontos azuis pequenos. Com o tempo, maiores. Mas que se apagaram rapidamente. A luz voltou ao normal.

Dois cientistas com roupas de proteção entraram na sala, pediram que os quatro se afastassem da porta e entraram rapidamente. Checaram os dois primeiros geradores. Nada fizeram. O seguinte, nada tinha de errado. O quarto parecia ter um problema. E os dois cientistas demoravam a sanar as avarias.

Impaciente, Anthony começou a esbravejar:

- Idiotas! Para que estamos pagando vocês? -  e se aproximou da porta.

- Eu concordo. - Disse Andrew.

- Vocês três não sejam idiotas também. Vamos lá, para colocarmos ordem na casa! - Dizia Anthony.

Edward e John apenas olharam um para o outro. Anthony abriu a porta quase beirando à selvageria. Andrew foi atrás, mas parecia menos nervoso.

John e Edward foram atrás dos outros dois. Mas a porta pesada se fechou. Algo saiu terrivelmente errado. A luz diminuiu novamente.

(continua)