Eram sócios de uma corporação grande. Faltava pouco para estarem entre as 100 maiores do mundo. Dinheiro, muito dinheiro estava sempre na pauta. O trabalho era constante, quase 16 horas por dia, mas os quatro estavam felizes como estavam.
Compraram um casarão com nada menos que oito quartos. Tinham direitos iguais sobre os quartos que restavam.
John gostava da grana que ganhava. Estava sempre andando de carro quando tinha folga. Procurava garotas bonitas e jamais tinha um relacionamento sério. Sabia como ganhar dinheiro, mas detestava stress, ficar muito tempo no escritório (que era no casarão, vezes na Torre da Corporação).
Anthony sabia que, para se viver bem, era preciso ter dinheiro. Tornou isso seu trabalho e também sua diversão. Tinha paixão por reuniões, ações e novas formas de ganhar dinheiro. Excluiu sua vida social. Tinha um divórcio, uma filha a quem via muito pouco, odiava comemorações e, por ser o mais velho da corporação, via a si mesmo com "o homem um passo a frente de todos".
Edward era mais compreensivo. Casado, e com uma filha, vivia no casarão, com dinheiro o bastante para mudar de casa, mas por questões contratuais (e de amizade) ainda dividia o teto com os outros três sócios.
Andrew era mais calado. Era inteligente, havia se formado na faculdade com distinção. Marido de Helga, mas triste porque o médico havia concluído que não poderiam ter filhos, dados problemas na esposa. Ainda assim, Andrew a amava e acreditava em um amanhã. Órfão de pai, trabalhador, criativo, engenhoso e, muitas vezes, com problemas ao se relacionar com outras pessoas por ser tímido.
Cada um deles continha 20% das ações da Corporação, sendo que outros 20 faziam parte dos trabalhadores e colaboradores. Até que uma parte foi vendida, exato 1%, pelos que mais necessitavam de dinheiro. E Anthony a comprou.
E aí, as coisas mudaram. Mas não tanto quanto ainda iriam...
Marla era o cérebro eletrônico da casa. Uma secretária-robô, ou melhor, um programa de agenda eletrônica com voz feminina. Batizada pelos seus quatro donos, Marla tinha caixas de som por toda a casa e falava com cada um deles, mesmo que simultaneamente sobre assuntos diferentes. Marla também cuidava de assuntos familiares, quando eles envolviam um de seus patrões.
John - Marla, agende para mim a festa dos Gilbert, neste sábado, às 9 da noite. Quero estar lá após as 11.
Marla - Sr. John, o próximo sábado está reservado para a reunião anual de sua família.
John - Cancele. Eu não irei.
Marla - Na ocasião, o Sr. solicitou prioridade 1 para a reunião anual.
John - Cancele. Odeio meu pai e minha família não passa de um grupo de parasitas querendo que eu contribua. Prefiro mil vezes a festa.
Marla - Cancelando reunião anual. Devo avisar algum membro da família?
[...]
Andrew - Marla, pode detectar as chaves do meu carro?
Marla - Consta nas últimas gravações que o senhor possa as ter deixado dentro dele. Sem sons ou citações anteriores sobre o uso da chave.
Andrew - Certo. Obrigado, Marla.
Marla - Às suas ordens, meu senhor. Em tempo: A senhora Helga pediu que o senhor esperasse alguns minutos a mais para o jantar de hoje.
Andrew - Obrigado pelo aviso. E quanto à reunião na Torre?
Marla - A reunião ocorrerá na tarde de amanhã. Alguma observação a adicionar?
Andrew - Avise com duas horas de antecedência e marque como prioridade 1.
Marla - Solicitação atendida.
Anthony - Meus sócios sabem da reunião na Torre?
Marla - O Sr. Andrew a marcou como sua prioridade 1.
Anthony - Marque como prioridade 1 para todos.
Marla - Lamento, senhor. Posso apenas marcar prioridade 1 para o senhor. Aos outros, posso sugerir isso em seu nome.
Anthony - Que seja. Lembre-os também que sou o sócio majoritário.
[...]
Edward - Marla, revise minha lista de prioridades, por favor.
Marla - Nenhuma prioridade para hoje, senhor Edward. Consta apenas a reunião amanhã, sugerida como prioridade 1 pelo senhor Anthony. Aceitar?
Edward - Hmmm... sim! Pode priorizar. Avise-me com duas horas de antecedência. Me acorde às 7 horas da manhã.
Marla - Solicitação atendida.
E o dia nasceu...
(continua)
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