Tumulto em Thais
"Tão grande quanto Carlin" - esse foi meu primeiro pensamento sobre Thais. A rua principal era cheia de mercados. Na verdade, uma cidade me lembrava a outra. Os guardas da entrada olharam para aqueles dois sujeitos: um cavaleiro e um mago, ambos de cabelos longos e nada mais fizeram. Na certa só interrompiam entradas hostis ou qualquer coisa que pretendia eu jamais descobrir.
Nossa caminhada pela cidade estava sendo tranquila, mas nada sabíamos sobre os negócios do centro. Encontramos uma moça muito bonita em uma praça. Ela fitou-nos e começou a chamar:
- Psiu! Psssiu! Preciso de alguém para conversar.
Andrezinho resolveu ir a seu encontro. Eu fui atrás, pensando seriamente que poderia ser uma armadilha.
- Meu nome é Arruda. Vocês conhecem a cidade de Thais?
- É a primeira vez que venho. - Respondeu Andrezinho.
- É uma ótima oportunidade para aprender a dança da cidade! - Exclamou ela com entusiasmo.
- Não temos tempo pra isso! - Interrompi. - Devemos encontrar um amigo nesta cidade.
- Um amigo? Puxa! Eu nem tenho amigos. - Choramingou Arruda.
- Sinto muito por isso. - Interrompi novamente. - Mas precisamos ir. E saímos daquela praça tão logo pude.
Atravessando a praça, passamos pelo depósito central. Estava muito cheio. As pessoas se beneficiavam da lei de proteção dos depósitos centrais, como a que existe em Venore. Parecia que alguns olhavam-nos com alguma admiração por não estarmos sob a proteção daquela lei. Tornamos nossa marcha em direção ao Sul, quando muitos guerreiros de menor porte passaram por nós correndo no sentido leste-oeste aos gritos:
- Ataque da Horda! Salve-se quem puder!
O grito foi o suficiente para me assustar. Andrezinho desembainhou a espada e continuou o passo.
- Horda? Quem serão os guerreiros da Horda? - Indaguei.
- Orcs de todos os tipos. - Respondeu Andrezinho, com um ar quase tranquilo.
- Como você sabe? - Perguntei.
- Estão arrombando o portão leste-sul. Veja.
Então prestei atenção, que estava abatida, no portão. Lá estavam os guardas de Thais fechando o portão principal e preparando flechas de fogo para deter a Horda. Soldados Orcs marchavam num ritmo macabro até o portão. Atrás deles, os Berserkers, Orcs com machados afiadíssimos, mas sem poder de defesa algum, pois acreditam que têm seus corpos fechados. Depois deles, os Orcs Lanceiros, parecidos com os Paladinos empunhando lanças; e os Shamans (druidas Orcs) cercados de cobras; Na última fila, consegui avistar um Orc Lorde de Guerra, um cavaleiro Orc com armas de multilação, uma armadura negra e um grande escudo, e alguns Orcs Cavaleiros Montados, cujas montarias são lobos gigantescos.
Os Orcs são violentos por natureza. Diferentes dos Cyclopes, que lutam contra aquilo que não compreendem, Orcs são famintos por destruição e pânico. Queriam pôr fogo e medo em toda Thais. O tempo parecia escurecer onde eles apareciam em bando. Comecei a suar frio, vendo-os sedentos por sangue. Encará-los parecia suicídio. E, de fato, era, naquela situação.
De repente, um homem veio do norte gritando: "O rei ordena que os mais corajosos espulsem os Orcs!"
- Você perdeu o juízo? - Gritei beirando o desespero. - Tente dizer isso aos Orcs!
- Tom só pode aceitar mandar recados do Rei Tibianus ou para o Rei Tibianus!
- Tom?
- Sim, meu senhor?
- Você é Tom?
- Sim, meu senhor!
- Diga ao rei que você regressou porque sua vida estava em risco.
Tom saiu correndo em direção ao norte. Da mesma direção, outro cavaleiro veio ao nosso encontro.
- Ei, vocês dois! São soldados de Thais?
- Não. Prefiro usar uma coleira do que usar de autoridade... - Divagou Andrezinho.
- Como pode ver, cavaleiro... - tomei a voz - ... a situação requer menos conversa e mais ação. Não somos soldados, somos visitantes.
- Vão esperar esses Orcs nojentos invadirem a cidade?
- Nossos planos são de ir ao Sul, mas temo que os Orcs poderão se dar conta de nosso destino e nos interceptarão.
- O.K. Eu e esse outro cavaleiro... - dizia ele apontando para Andrezinho - ...vamos distrair a Horda. Corra o mais que puder quando isso acontecer. Mas aviso, se isso for um truque, não hesitarei em enfrentá-lo cedo ou tarde.
- É Andrezinho! - gritou o próprio. - Aceito seu plano.
- Mas Andrezinho... - esse era eu, preocupado.
- Um amigo seu precisa de ajuda, Bierum. Sem mais! Abriremos os portões ao mesmo tempo. Vá.
O outro cavaleiro começou a gritar aos soldados de Thais algo que não pude compreender. Andrezinho, com a espada em punho, começou a correr na direção do portão leste-sul. Depois disso, não o vi mais por um longo tempo.
No portão sul, famílias inteiras aguardavam a chance de correr até o Templo da Paz, uma construção onde a violência não pode ser exercida de nenhum modo. Uma espécie de santuário sagrado. Toda a classe de guerreiros mais fracos se empurrava em direção aos portões. Quando o portão leste-sul se abriu, a gritaria no portão sul era geral. Os soldados, temendo que os habitantes matassem uns aos outros, abriram o portão.
Sem olhar para trás, a população corria em direção ao templo, lotando pontes e trilhas numa espécie de peregrinação desesperada. Eu segui para o lado Oeste. No caminho, só pensava no que poderia ter acontecido com Andrezinho e aquele outro cavaleiro. Três frases ecoavam em minha cabeça: "Teriam os guardas de Thais ajudado?" e "Me perdoe, Andrezinho. Eu deveria ter permanecido na luta com vocês."
Meus pés doíam, mas muito antes do que eu imaginava, eu encontrei uma casa em meio às planícies do Sul de Thais. Uma casa humilde, toda feita em madeira. Um rapaz jovem me viu e automaticamente tornou-se invisível. Fingindo que não o havia visto, bati à porta da casa. Uma voz anciã perguntou:
- Quem está aí? É você, meu ajudante?
Eu estava cansado demais para responder alto. Mas respondi. Em propósito a esse fato, você deve estar cansado também. Descanse. Eu contarei o restante de nossa história em nosso próximo encontro.
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