segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

As Crônicas Tibianas - Cap. 78

Uma missão cumprida, novos caminhos pela frente...


Na manhã seguinte, meus irmãos e eu preparamos um banquete para nossos amigos. Fomos até a taverna e enchemos nossos copos esculpidos em madeira. Havíamos tirado o dia para comemorar. Havíamos recolhido muito dinheiro, havíamos provado nossos valores e sobrevivemos graças a esses sagrados companheiros.

As imagens dessa festa jamais me sairão da mente. Mesmo que este velho a quem você chama de Bierum Wizzard convalesça em uma cama, agonizando de dor e confundido pela esclerose, nada tirará da memória deste a satisfação daquele dia. Tratamos de dar muito trabalho aos taverneiros, além de nossos copos, enchemos a mesa com pães, carnes, mel, leite, frutas...

Druidas, por serem amantes da natureza, evitam comida de origem animal. Mas às vezes você encontra um ou outro que aceita certos presentes da natureza. Meu irmão Bierfur era um desses que abominava esse tipo de comida, Andrezinho optava por não comer carne, Sam comeu com moderação. Já, nas bebidas, Furius, Grazi e meu irmão Bierdus tomavam uma cerveja atrás da outra. Faziam comentários sobre outras tavernas e sobre os estoques de outros reinos. Eu nunca gostei de bebidas alcoólicas, mas ponderei um bom vinho. Sam, Milla e Bryan me acompanharam. Nada em exagero.

Depois, em um determinado momento, Sam Scott tirou de sua mochila uma lira, e a dedilhou suavemente. Biertrus foi até meu alojamento, passou em uma loja e voltou com uma cítara. Ele disse algo como: "Sam, me acompanhe aqui, esta melodia aprendi com os elfos..." - Ah, meus amigos, se eu pudesse descrever a suavidade que saía daqueles instrumentos.Bierdus, Furius e Andrezinho agruparam-se e falavam de técnicas de espada. Bierfur subiu "ao palco improvisado", tirou da manga uma flauta. E logo as melodias suaves tornaram-se mais alegres...
Sentei-me ao lado de Grazi e começamos a conversar:
- Acho que eu lhe devo desculpas, Grazi.
- Se me desculpar primeiro, Bierum.
- Eu sinto muito ter lhe negado ajuda.
- Eu não quis admitir, mas você tinha mais chances de estar certo. A verdade é que eu encontrei Sagal e ele me disse que sua vida precisava de mais aventuras, caravanas e emoções e por isso me livrava do compromisso que tínhamos, pois não seria justo comigo.
- Então vocês dois...
- Isso, rompemos... - ela abriu a mão e me mostrou a aliança partida. - Mas quando os deuses nos negam uma porta, abrem uma janela.
- Então você tem outro alguém?
- Isso. Furius me acompanhou nesse tempo longo que tive pra pensar. Sagal partiu, não sem a minha dor, mas a vida ensina. Eu não sou outra pessoa, diferente daquela que você conheceu. Mas construí eu mesma meu caminho para a vitória. Somente depois que aceitei tudo que sou e que represento foi que um amor verdadeiro se revelou para mim.
- Fantástico! - Exclamei e a abracei.

Ao fundo, Bryan reverenciou Milla e segurou-lhe pela mão para uma dança. Confesso que a imagem deixou meus nervos aflorados... eu havia ajudado Milla a crescer e ela sempre expressou gratidão, eu esperava que ela viesse falar comigo. Minutos depois, voltei à razão... Bryan fora seu aprendiz, e os dois eram bem mais jovens que eu, seria óbvio que os dois tivessem maiores afinidades, afinal, eu a deixei livre para seguir o seu caminho.

Mais pessoas entraram na taverna, repentinamente. Um casal foi ao encontro de Andrezinho. Uma moça vestindo um vestido roxo, com os cabelos coloridos, junto a um rapaz com preto e branco em sua toga, esse parecia ser um mago. Andrezinho os cumprimentou, então parei de observar, pareciam amigos.

Ao lado de minha mesa, uma moça com um livro de magia. Não consegui identificar se era uma maga ou druida. Um outro membro sentou-se perto da porta, esse tinha uma toga verde e escondia o rosto no capuz. Apenas vi sua barba longa. "Provavelmente um druida" - pensei.

Grazi se despediu indo falar com Furius. Eu fiquei sozinho ouvindo a música de meus amigos (e irmão), quando a moça com o livro se aproximou.
- Eu posso me sentar aqui?
- Claro, senhorita. - respondi.
- Se eu estou certa, você é Bierum Wizzard...
- Isso! - confirmei. - Mas quem quer saber?
- Foi você quem matou A Fera de Rookgard?
- Sim, com ajuda de Andrezinho. Mas ela renasceu em menos de dez dias...
- Sua irmã Alys manda-lhe cartas periodicamente, não é? E aprendizes também, para que você os ensine sobre a vida no continente, certo?
- Muito bem, senhorita. Até agora, parece saber muito sobre mim. Posso saber quem é você? Outra aprendiz enviada por Alys?
- Fui amiga de Alys, mas a conheci depois que você chegou a Venore, Bierum.

A maga prosseguiu:
- Eu segui as lendas, cavalguei vastos campos, naveguei imensos mares, subi montanhas e conheci as criações dos deuses... e tudo isso porque eu segui as lendas...
- Que lendas? - perguntei.
- As suas, seu mago hesitante... eu precisava conhecer o mago que ajudou tantas pessoas, foi traído por algumas e fez muitas amizades ao longo de sua vida por aqui.
- Você veio aprender algo comigo?
- Não posso dizer que não. Mas eu já sou uma maga criada. Visitei muitos templos, persegui as religiões deste mundo, aprendi a magia, assim como você. Eu gostaria de me juntar a sua caravana.
- Na verdade, nós não temos uma caravana... somos amigos e irmãos que viajam juntos.

- Eu ouvi muito a seu respeito, Bierum. Li também. Fiz várias de suas rotas e fiz anotações suficientes para uma biografia.
- Por quê?
- Sua irmã me encantou primeiramente, na promessa que você estaria aqui. As histórias que levam o seu nome me fascinam... e eu quero fazer parte disso. Não quero um mestre, não quero um guia... eu quero a lenda!
- Sua ambição é grande demais perante minha humildade... mas eu aceito sua proposta.
- Respondendo à sua pergunta, Bierum... meu nome é Laíla.

Assim que aquela moça pronunciou o seu nome, sua cabeça ergueu-se um pouco, o capuz de sua toga soltou-se e pude contemplar seus olhos. Sua figura por inteiro me chamou a atenção também, uma figura dominante da magia, aparentando serenidade, mas também poder... Não posso negar, eu achei a visão muito bela. Mas minha contemplação foi logo interrompida. Andrezinho se aproximava.

- Quero uma parte da conta, Bierum.
- O quê? Não, não mesmo. É nosso agradecimento por terem nos ajudado. Além disso, meus irmãos e eu conseguimos uma quantia abundante, podemos pagar sem sofrimento algum.
- Acontece que eu também tenho motivos para festejar. Quero assumir parte dessa responsabilidade.
- O que está acontecendo? Porque depois de ver esses seus dois amigos, você está falando desse jeito?
- Bierum, preciso falar com você em particular.
- Aceito isso, desde que você deixe essa bobagem pra lá. Você quer outra festa? Faremos. Mas seja claro comigo.

A tarde ainda tinha forças, saí com Andrezinho por um dos corredores suspensos de Venore. Atrás de nós, vinham aquelas duas figuras que antes estiveram com meu amigo.
- Como foi a aventura, Bierum? - Perguntou Andrezinho.
- Foi como deveria ter sido. Reforçamos laços, meus irmãos e eu.
- Bem, eu gostaria de ter feito parte disso, mas respeito a sua escolha...
- Me desculpe, eu...
- Agora eu preciso que você respeite a minha.
- Você tem um novo grupo?
- Mais ou menos. Eu encontrei alguém para que faça comigo o Ritual da Vocação, assim como você o fez.
- Eu não posso argumentar contra isso.

- Sei que não foi egoísmo seu, mas acredito que agora é minha vez de andar com minhas próprias pernas. Eu o acompanhei por muito tempo...
- E eu lhe sou grato por isso! E, sim, você tem o direito de escolher com quem andar. E pra onde andar. E todo o resto.
- Vê esses dois? São meus amigos, Rosa, a Druida e Kiryon, o mago. Nós vamos percorrer pelo mundo atrás de um paladino que nos aceite como companheiros. Fiz amizade com eles há algum tempo. E agora já sabemos quais trilhas percorrer.
- Vamos descer até a taverna, então. Vamos preparar você para a despedida. Vamos encher suas mochilas.
- Bierum, pare! Isso não será necessário. E vamos aproveitar o sol dessa tarde para partir. Primeiro, vamos à Catedral Negra. Meus companheiros e eu temos assuntos para acertar...
- Não pode ficar mais?
- Não, receio que não. - E entregou me uma chave. - Esta é a chave do meu alojamento no subsolo do Palácio de Papel. Eu não vou mais morar lá, mas o aluguel está pago. Faça um favor pra mim e passe isso adiante, sim?
- É muito generoso, obrigado. E para onde vai?
- Agora serei um nômade, junto com meus companheiros. O mundo será o meu lar!

Andrezinho e eu apertamos nossas mãos e nos despedimos. Desci as escadas até a taverna novamente. Estranharam a ausência de Andrezinho. Fui muito direto e pedi pra não me fazerem pensar muito nisso. A noite começou a cair. Chegava a hora de me aproximar do misterioso homem que chegara antes da despedida de Andrezinho.

Uma nova aventura estava prestes a começar. Perdi um companheiro, mas ganhei uma companheira. Agora, meu amigo, seria interessante que descansássemos um pouco. Eu tenho ainda muito a lhe contar!

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 Notas:
Tibia é um MMRPG da Cipsoft©.
As Crônicas Tibianas são um conjunto de contos autorizados pela Cipsoft©. 

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