Faz realmente muito tempo que ando pensando nessas coisas...
Quero, antes de tudo, deixar muito claro que este post nada tem a ver com política, até porque eu julgo este blog como apartidário e espero que ele seja assim até seu último post.
Vocês viram o filme do Cazuza? Confesso que muitas vezes me faltou estômago: um ídolo do rock nacional, idolatrado, mas sem papas na língua para se drogar e xingar a própria mãe dezenas de vezes ao longo da película. Sério mesmo? Depois de tudo que a mãe do cara faz por ele, o MELHOR que ele pode fazer é mandar ela tomar no cu?
Agora divulgam via Facebook pesquisas um tanto duvidosas:
- Pessoas grosseiras são as mais inteligentes, diz pesquisa;
- Falar palavrão é sintoma de Q.I. elevado, diz pesquisa;
- Pessoas antipáticas e antissociais são intelectuais, segundo pesquisa [...]
Peraí? Não tem alguma coisa errada aí? Parece que estamos glorificando a falta de educação, a falta de empatia, o "foda-se" pelo "foda-se".
Eu penso que a coisa começou mais ou menos ali pela filosofia do Dr. House. (Não me levem a mal, eu particularmente adoro a série, adoro o estilo de vida do Dr., considerando que ele nega a si mesmo a maioria dos próprios sentimentos, mas vamos ao fato...) O caso é que o Dr. House não poupa palavras, é grosseiro e não tem absolutamente nenhuma classe quando trata de seus pacientes, subordinados e superiores. Sua falta se respeito é inspiradora para muitos jovem, e isso é lamentável.
Atualmente, vez que outra eu vejo isso no Facebook, textos grandes de pessoas que venceram na vida sendo audaciosas. Ontem chegou ao meu conhecimento uma história (bastante questionável, diga-se de passagem) sobre um rapaz que foi recrutado em uma empresa, a pedido do próprio pai, como técnico de informática. No primeiro mês de trabalho (ele narra dia após dia), ele conseguiu fazer um funcionário novo se demitir (por pura má vontade, já que ele concedeu o pior computador da empresa para o funcionário, tendo milhares de outras opções), usou os servidores da empresa para benefício próprio, passava horas jogando em emuladores, enrolando colegas com siglas incompreensíveis e sempre reiniciando computadores e instalando Adobe Reader. Sem remorso nenhum, ele comenta sobre as colegas gostosas, sobre como ele consegue ser arrogante com as pessoas "que sabiam menos que ele" e sobre os episódios que pisou em ovos até que conseguiu uma desculpa esfarrapada para se safar. No final, ele praticamente pede aplausos. Porque ele "tocou o foda-se" em todo o mundo na empresa e é considerado o melhor funcionário de T.I. que a empresa já teve.
O texto do cara é bem maior que isso, mesmo assim eu peço que me desculpem pelo tamanho da explanação. Sobre esse texto no Facebook, centenas de comentários do tipo "Kkkkkk! Fulano, olha isso!". Não vi absolutamente NINGUÉM reprovar a atitude do cara, fazendo pouco dos colegas, fazendo pouco das funcionárias e, principalmente, causando uma demissão. Risos, isso sim tinha bastante.
Voltando ao filme do Cazuza, ao final da exibição, as pessoas aplaudiram a tela do "mito". Egocêntrico, o criador de músicas tão sensível, no fim das contas é retratado como uma pessoa cruel e mesquinha, com atitudes egoístas e incapaz de agradecer à própria mãe. Aplausos. Aplausos, para este exemplo de ser humano.
Creio que vocês já entenderam onde eu quero chegar. Estamos vivendo com uma geração que idolatra a malandragem, a completa falta de empatia, a geração de que alguns acham que Hannibal Lecter estava certo e jamais deveria ter sido preso. Inteligência virou sinônimo de falta de educação.
E eu pergunto, e as pessoas educadas e gentis? Serão elas então párias e boçais inseridos na sociedade? Será que a pessoa que pede com licença e por favor e agradece com um "obrigado" está atestando sua falta de Q.I.?
Laerte traduz bem o que estou querendo dizer. |
Como comecei falando em um filme, gostaria de citar outro: Idiocracia. Nosso "herói" é, em nossa época, a pessoa mais medíocre do planeta. 500 anos depois, ele acorda em um novo mundo em que a bestialidade e a sexualidade são a lei... e a educação é vista como sintoma de homossexualidade. E a homossexualidade, por sua vez, uma coisa reprovável, pejorativa, uma coisa nascida para ser desrespeitada.
O que me assusta é que eu não queria que o autor de Idiocracia pudesse estar tão próximo da realidade. O que me assusta, são esses "Kkkkkk! Olha isso, fulano!". O que me assusta, são esses aplausos no cinema para alguém que não estava nem aí para quem daria seu mundo para salvá-lo.
No fim das contas, saí horrorizado e mudo do cinema, ao ver Cazuza. Saí quase chorando do cinema, ao ver Idiocracia. Mas não pude deixar de comentar para meu amiguinho, o "profissional de TI" do Facebook:
"Amigo, use esse salário pra fazer um bom curso técnico, uma faculdade, algo que te torne o que você quer parecer. Não digo isso só pelo seu emprego, digo isso porque você deve tentar ser uma pessoa melhor! Não adianta ficar por aí reclamando da corrupção se você faz parte dela de alguma forma."
"Amigo, use esse salário pra fazer um bom curso técnico, uma faculdade, algo que te torne o que você quer parecer. Não digo isso só pelo seu emprego, digo isso porque você deve tentar ser uma pessoa melhor! Não adianta ficar por aí reclamando da corrupção se você faz parte dela de alguma forma."
Por que se importar tanto com alguém que quer dar o exemplo dessa forma?
É como diz a Filosofia:
"Para que o Mal vença, basta que o Bem se cale."
Dessa forma, espero ter ajudado vocês a pensarem em algo produtivo, em melhor em algo, em ser um pouco mais hoje do que se foi ontem, e um pouco mais amanhã do que se é hoje.
Boa reflexão moço!
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