As luzes da cidade corriam
enquanto minha mente vagava incoerentemente entre sentimentos, sensações,
lembranças que se voltavam incansavelmente a um único ponto “Dante”.
“Afinal quem é você?” –
pensava enquanto o ônibus entrava em outra curva, as luzes meio perdidas na
nevoa leve da manhã causada pela maresia. O cheiro do mar me acalma e a visão
dele dá a paz que a minha mente inquieta teimava em não ter.
Há uma semana eu havia
atravessado aquela porta, há uma semana me perguntava o que aquilo realmente
significava. “Ele não é egoísta”. Essa afirmação que gritava em tudo em mim
tornava ainda mais difícil entender o que havia feito com que agisse como se
fosse.
Nada parecia ter acontecido depois daquela noite, e a vida
parecia ter nublado assim como a cidade que havia mergulhado numa semana
chuvosa, tempo muito odiado por muitos recifenses, a alegria não combina muito
com chuva, muito menos a praia, e a vida não é a mesma coisa sem o mar. É
apenas mais uma folha sem poesia.
Os dias sem o homem que se tornou o meu mar estavam tão
ressecos e áridos que minha alma não conseguia prosseguir sem insistir em
imaginar o porquê de tudo aquilo. Vejo ela entrar, não esperava lhe encontrar
tão cedo, a ruiva de corpo atlético passava pela catraca, a silhueta que já
havia visto tantas vezes em tantas manhãs.
- O que aconteceu? - foi a primeira coisa que Camila disse sentando-se ao meu lado.
- Bom dia- eu disse.
- Que porra de bom dia! Meu irmão está trancado naquele
quarto desde que você saiu. – agora notava as olheiras, a mulher atlética e
fantástica abatida pelo amor a única pessoa que lhe era realmente
insubstituível.
- Ele não sai há uma semana? Foi ele que me mandou embora!
- O que você fez?
Algumas pessoas já nos observavam e eu não desejava mais
plateia para meu triste espetáculo dramático que a uma semana atrás chamava de
amor.
- Não lhe devo satisfações, muito menos satisfações dadas num
ônibus no meio de estranhos intrometidos. - disse pedindo a parada escapando
pelas portas, desci muitas paradas antes do que pretendia. mas não ficaria para
ouvir desaforos, muito menos na frente de estranhos, já bastava todo o resto.
Quando as portas estavam prestes a se fechar ela se esgueirou pela brecha,
debaixo de xingamentos do motorista e de alguns dos passageiros.
- Sim. Você me deve satisfações! Posso não ter nada a ver
com o relacionamento de vocês, mas tenho haver com qualquer coisa que afete
assim o meu irmão. – disse firmemente quando finalmente me toquei que em choque
havia apenas permanecido parada vendo aquela situação se desenrolar.
Agora me situava de onde havia descido estávamos no marco
zero, se fosse caminhando o resto do percurso chegaria em meia hora, desci
longe demais. Tem alguns momentos que definem o que você é e a vida que terá
são poucos que são notados, mas aquele era um desses. Poderia escolher culpá-lo
sem saber o porquê pelo resto da minha vida, ou talvez não me torturar com uma dúvida,
e quem sabe talvez... Só talvez viver o romance que eu havia sonhado durante
algumas noites de solidão.
Marco Zero - Recife |
- Vamos sentar ali- disse apontando para os bancos de
frente para o Capibaribe.
- Amo esse lugar- Camila fala
a história daquele monumento que se confundia com a história de resistências e
revoltas do povo daquela cidade tornava normal amar aquele lugar. A paisagem
pareceu apaziguar seu temperamento por algum tempo, o tempo em que o devaneio
durou. – O que você fez?
- Apenas o que deveria ter feito antes cobrei dele uma
decisão.
Monumento de Brennand - visto do Marco Zero. |
- Como assim decisão? – disse Camila me encarando séria
-Ele ficava me pedindo esse tempo interminável em que não
definíamos o que estávamos tendo, cansei disso Camila, não sou de indecisões.
Não sei lidar com coisas mal definidas, estava começando a ficar paranoica.
- Por que você não pode apenas esperar?
- Você mesmo disse que ele estava demorando muito! Ele
estava sendo egoísta ao me fazer esperar tanto! Não é como se ele estivesse
traumatizado do seu último relacionamento ou coisa do tipo.
Camila começou a dar
uma risada triste e maçante, quando conseguiu parar finalmente disse.
-Mas foi exatamente isso que aconteceu!
-Não foi eu ouvi como tudo acabou eu estava no ônibus
quando eles terminaram.
-Você acha mesmo que sabe de tudo não é?! Sabe nós reles
mortais não enxergamos o quanto você deusa onipotente e onipresente,
conhecedora de todas as verdades. E mesmo com todas essas qualidades você
esteve bem cega.
-Então o que aconteceu?
As cortinas não permitiam que a luz passasse, a escuridão
era mais agradável, não a sentia, porque era ela que encontrava por dentro de
si. O silencio rodeava o quarto enquanto sua mente vagava sem pensamentos
apenas ao observar o teto branco, quase invisível tamanha era escuridão do quarto.
A porta se abriu.
- Por que você não me disse que ela se matou? -falei de
forma tão direta que me arrependi assim que as palavras saíram de minha boca.
Vi o corpo dele retesar com o trauma ainda recente.
- Pensei que você iria de qualquer forma. Nessa cidade
ninguém aceita pessoas quebradas. De qualquer forma não conseguia falar... Não
consigo... – disse ainda encarando o teto. O quarto ainda estava escuro.
- Como eu poderia? - disse ele fitando meu rosto pela
primeira vez desde a nossa última noite.
- Não acha que é muito cedo para filosofar? - falei
sorrindo, deitando-me ao seu lado o rosto de frente ao seu.
- Só se ainda houver tempo para você me amar ? - disse ele com
um sorriso um tanto inseguro.
- Nunca será tarde. – falei ao puxa-lo para um longo beijo
selando um pacto novo de amor.
Que conto forte! Tem mais?
ResponderExcluirEssa é a última parte, dele não, depois tento fazer outros contos de romance. juro juradinho :X
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