quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Lá vem história...


Quem paga a conta?

Quando minha família mudou de São Francisco de Paula para Taquara, eu pensava que estava passando para a famosa “cidade grande”. Pensem numa pessoa inocente, esse era eu... auge dos 17 aninhos, achando que tinha trocado a cidadela quase 100% rural por uma metrópole. Taquara, uma metrópole? Sonha, Robertinho. Eu tava trocando o fiofó do mundo pela bolsa escrotal do mesmo... E digo isso, embora ainda tenha simpatia pelas duas cidades... enfim, eu mal fazia ideia de onde estava me enfiando.

Eu estava no 3º ano do Ensino Médio, conheci muita gente nova, especialmente na escola. Dali, pouca gente marcou presença em minha história. Desses eu destaco o Warg e o Fernando Mazeh. Os dois tinham muito em comum comigo, especialmente o gosto por videogames. O Warg merece um baita texto, mas hoje eu puxo a brasa pro assado do Mazeh.


O Mazeh era ligado em King of Fighters, Street Fighter e outras barbaridades videomaníacas como FinalFantasy e Super Metroid. Épocas atrás, ele me emprestou o SuperNintendo dele para que eu pudesse terminar o Metroid, o Megaman X... tempos depois ele me emprestou o PSOne com diversos Cds, tudo na base da confiança, sem muito grilo. [E eu quase chorei quando devolvi.] A vida era boa... videogames, Offspring e Green Day nas caixas de som... e a vida noturna.

Ah, a vida noturna... Embora eu até tivesse uma desde meus 16, era parca em comparação ao leque de opções que o Mazeh abrira. Ele me levou a um bar com sinuca da cidade, onde já tinha uma galera esperando. Depois à casa de um dos companheiros de boteco, e por fim a um Drinkbar... Dos melhores, o que tinha bons preços e até alguma classe era o Saturno.

Logo na primeira noite em que Mazeh adentramos ao local, houve um blackout no bairro todo. A música cessou, a iluminação recorreu-se apenas às luzes de saída, caso de noite arruinada. Porém, o dono do saudoso estabelecimento teve uma ideia: encheu o local de velas, chegando a pendurar algumas na decoração (que eu lembre, havia uma moto em uma parede, uma guitarra em outra e diversos outros objetos rockers).

Mas essa era outra noite... e à mais de 1h da noite, a casa estava esvaziando. O Mazeh reparou num maluco folgado que se escorou no balcão e chamava a gente com um dedo. Eu tava ignorando, mas o Mazeh viu que poderia dar bode. Já cada vez menos pessoas no bar. O balcão estava ficando vazio também. Mazeh pediu uns minutos para “fazer um esquema ali e já volto”. E eu, que não era a mãe dele, deixei. Fiquei olhando enquanto pensava na vida. Os dois conversavam e riam. E absolutamente do nada o Mazeh veio até a minha mesa:

- Tá com grana aí, Bier? – ele me pergunta.
- Dez pila. – respondi.
- Seguinte, pega mais uma dessas aí... a que tu quiser. – Aconselhou ele, se referindo à bebida.
- Cara, eu não sei...
- Vai tranquilo. Se precisar, eu te carrego pra casa!

Pra não gerar nenhum tipo de discussão com ele, eu decidi pegar logo outra bebida. Deixo bem claro que não éramos alcoólatras nem nada do tipo. E o comentário dele sobre me carregar para casa era zoação, porque esse era o jeito do Mazeh mesmo. Saíamos para beber e lamentar a falta de sorte na vida. Mesmo assim, não dava pra reclamar de muita coisa. Fiquei ali, bebendo. O Mazeh some de novo. Logo mais ele volta.

- Vamo vazá?
- Comequié? – perguntei.
- Vamo ali na rua terminar uma conversa com o cara.
Dei de ombros naquele instante:
- Fazer o quê, né? Vamo.

O Mazeh disse ao segurança que nós não passaríamos da esquina. Como o cara ficava do lado de fora do bar, disse que tava tudo bem, mas que ele tava no nosso bico. Eu sabia que nós voltaríamos, não me preocupei. O Mazeh tava ainda mais calmo, só Deus explicaria o porquê.

- De onde tu veio? – me perguntou o tal do cara que antes estava no balcão com o Mazeh.
- Do outro lado do Rio Grande do Sul – menti.
- Eu reparei que vocês dois beberam umas bebidas coloridas... deixa eu sacar esses nomes. – disse ele tentando pegar minha comanda.
Então olhei (provavelmente visivelmente chocado) para o Mazeh, que apenas confirmou com a cabeça.
Aí o maluco ficou com a minha comanda olhando com olhos apertados.
- Ah! Nunca bebi dessas coisas. Uísque, vodka... eu tomo é cerveja.
- Mas porque tu me pediu pra... – e o Mazeh me interrompeu.
- Psiu! Deixa o cara. – ele me disse e se voltou para o outro. – Tu viu... eu vivo convidando esse amigo pra beber cerva. Ele fica aí inventando moda.

Eu nunca fui bom em sacar brincadeiras, mas achei que Mazeh tava enchendo a bola do cara. Reparei que, enquanto conversávamos ele mexia na minha comanda muito rápido. E num desses movimentos ele colocou a comanda dele no lugar da minha. Aí o Mazeh disse:

- Fiquei de levar meu amigo em casa... Falou aí! – e pegou a comanda (errada) da mão do cara e me trouxe.
- Mazeh! O cara trocou as comandas...
- Fica quieto! Quer deixar o cara zangado?
- Mas Mazeh! Esse cara deve ter enchido essa porra dessa conta... dá pra ver que ele tá tri bêbado.
- E dá pra ver que ele te desmonta. Ainda mais bêbado. Vamo entrar, pagar e vazar.

Aceitei a derrota, não nego a vontade que tive de enfiar a mão na cara do sujeito. O Mazeh só pediu os totais e relaxou.
- Deu três reais. – disse o caixa.
Peguei o dinheiro e aí me deu um estalo: as bebidas que tomei custavam 4 reais cada. Olhei a comanda que dizia “Cervejas: 1” e mais nada.

Foi aí que entendi o lance: o Mazeh tinha falado com o cara, ele já havia bebido em outros lugares até chegar ali.
Quando ele viu que o cara tinha a intenção de trocar as comandas, deixou rolar.
Quando saímos do bar, Mazeh ainda deu um tapinha no ombro do cara.
- Esse aí é parceiro!
E nos botamos a voltar pra casa. Não faço ideia de como o sujeito reagiu quando pagou os 8 reais pela única cerveja que tomou lá. Talvez o segurança tenha ficado sabendo...

Um comentário:

  1. mas neeeeeeeem que eu me lembro disso, foi puro Jarbas nessa época :PPPP

    ResponderExcluir

Vai comentar? (Faça login no Google antes.)
Com a palavra, o mais importante membro deste blog: você!