- ...talvez você esteja exagerando... - Olhe Grazi nos olhos. Mas ela passou por mim, como se o grupo ainda estivesse com ela. Ficamos de costas um para o outro.
- E o que você acha que foi aquilo, então?
- Eu não sei... talvez seja só um mal-entendido.
- Não! Não foi isso! - a voz de Grazi se alterava. - Deixe-me chamar pelo nome dele no vento.
Sem que eu respondesse, ela emanou a magia dos ventos fechando os olhos com força.
- Edron! - Exclamou ela. - Ele está em Edron! E nós vamos para lá, também.- E se virou para começar a andar em direção ao porto.
No entanto, alinhei meu corpo com as pedras em que ela pisava, ficando em seu caminho.
- Não. Não vamos. - Com seriedade na voz.
- Bierum, como você pôde? Como pôde me dizer isso? Acabamos de voltar pra salvar sua amada Malu. Ou você...
- No que está pensando, Grazi?
- Bierum! Você acha que... só porque você perdeu alguém, ninguém mais pode...
- Grazi, não se atreva a terminar esse pensamento!
- A gente te ajudou!
- Grazi, eu sou grato por isso. Mas Sagal está vivo e não está nem ao menos em perigo. Se ele está em Edron, apenas vale a pena esperar por ele.
Ela emudeceu. Olhou para o chão e voltou a me encarar.
- Nós vamos lá agora.
- Isso não faria sentido. Sagal é forte e sabe se virar. E você não deve ir atrás dele pra não se machucar. Todos nós estamos cansados...
Grazi colocou uma das mãos dentro de sua mochila. E retirou uma pedra branca como gelo de neve. Posicionou-a em frente ao peito. Ela tinha lágrimas nos olhos. Senti minha boca abrindo lentamente, pois eu não acreditava no que estava vendo.
- Se você continuar no meu caminho, Bierum, eu vou machucar você.
Senti a noite impregnada de um ar úmido e triste. Segurei com firmeza meu Cajado. Embora eu soubesse que Gelo é a maior fraqueza de um mago, e que Grazi estava preparando uma magia como aquela em minha direção, o frio que eu sentia não era a certeza de dor, mas meus olhos só poderiam estar me enganando...
A Luz da Energia Cósmica se acendeu no topo de meu Cajado. Lágrimas encheram meus olhos. As pedras das ruas começaram a esbranquiçar em torno de Grazi, enquanto ela começava a ler a pedra rúnica. À minha volta, luz azul se emanava, tornando a calçada azulada também.
Eu nunca havia hesitado tanto em atacar antes. Grazi lia lentamente, acredito que era porque ela também estava hesitante. Já não estávamos mais contendo as forças que estavam direcionadas uma ao outro. Finalmente, o cajado disparou um raio azulado, firme na direção de Grazi. Da Pedra Rúnica dela, um brilho branco avançou em minha direção. E, por fim, um clarão forte emanou, azul, vindo dela, e um branco me cegou instantaneamente.
Caí sentado. Não senti dor, mas calor no braço esquerdo. Isso me causou alguma estranheza. Abri meus olhos e vi Bryan segurando um escudo praticamente congelado. Levantei-me e vi, por cima de Bryan Grazi também se levantando. À frente dela estava Andrezinho, também segurando o escudo. Andrezinho parecia estar com o braço fumegando. Grazi colocou a mão direita no braço esquerdo, assim como eu.
- Vocês dois deveriam ter vergonha! - Disse Andrezinho.
- Milla, eu consegui... - Disse Bryan, suando. - Você não vai precisar se arriscar.
Milla também estava vendo tudo, e eu jamais soube a quanto tempo.
Ficamos em silêncio. O calor no braço beirou a sensação de dor. Rasguei a manga de meu manto. Grazi fez o mesmo. Em nossos braços, ambos esquerdos, estava uma imagem de uma caveira branca.
- A marca dos traidores! - Exclamou Bryan.
- Quieto, Bryan! - disse Milla.
- Vocês dois me ouviram? - Disse Andrezinho. - Bierum, eu jamais pensei que você fosse capaz disso. Grazi é sua amiga e você jamais deveria ter apontado uma arma para ela.
Depois, levantando, Andrezinho virou-se para Grazi:
- E quanto a você, Grazi... eu não a entendo! Um amor pode valer mais que as nossas amizades?
- Eu não apontei minhas runas pra você, Andrezinho.
- Mas foi como se fosse. Contra mim e contra qualquer outro amigo seu.
- Eu não tenho de ouvir esse sermão!
Milla os interrompeu:
- Escondam essa marca no braço! As pessoas vão querer matá-los se virem isso.
Grazi começou a andar, de volta para casa. Eu também comecei a andar. Ia para Venore. Deixamos Andrezinho, Bryan e Milla para trás. Tive a impressão de Andrezinho ter dito a eles para ficarem com Grazi, como também de Milla recusando. Não era importante no momento. Eu já estava passando os portões de Carlin. A noite era longa.
Descanse, meu amigo. Prometo dar-lhe a continuação de minha história muito em breve.
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