Alguém pode ajudar
Meu corpo estava repleto de energia. Fisicamente. No dia anterior, eu havia deitado em meus aposentos antes mesmo do Sol se pôr. A batalha contra Meio-Morto não havia me cansado tanto. Mas a sensação de ter perdido Malu, sim. E essa sensação esgotava-me sempre.
"Eu perdi um amor. Não sei se quero acordar em um mundo onde a solidão será meu destino." - Esse era o principal pensamento em minha cabeça. Foi então que lembrei-me dos templos. No mundo tibiano, os templos são valorosos, pois servem para zelar por toda a vida digna. Se você morre e alguma pessoa quer que você reviva, ela acenderá uma vela em um templo e você sairá de lá vivo, com a mesma idade que tinha antes.
E essa ideia me fez levantar da cama. Eu havia dormido mais do que o tempo de uma noite. Cheio de esperança, comprei uma vela em uma loja de artefatos caseiros. Depois, pus-me a andar até o templo. Desci suas escadas e lá estava um monge.
- Precisa de ajuda? - ele perguntou.
- Apenas quero a ressurreição de uma pessoa querida. - Respondi. Já imaginando os cabelos de Malu tocando-me, como na noite em que ficamos a sós.
- Então acenda a vela. Eu só posso ajudar a quem estiver ferido por um Elemento da Criação, como o Fogo ou o Gelo... Posso tirar o veneno do seu corpo, ou a tontura de sua cabeça. Mas devolver vida às pessoas ou animais não cabe a mim.
Toquei o cordão da vela com dois dedos e pequenas partículas de fogo começaram a se exibie entre eles. A vela acendeu, uma chama fina e dourada emanava um fino fio de fumaça azulada. Concentrei todo o meu desejo de ver Malu mais uma vez. Um pequeno portal azul-escuro se abriu no centro do templo. Um vulto negro parou em seu centro.
Caminhei em sua direção respeitosamente.Quando me aproximei mais, o vulto recuou, ainda dentro do portal. E esse se fechou lentamente. De joelhos no chão e com as mãos sobre a nuca eu me perguntei o que e porque teriam acontecido as coisas dessa forma.
O monge me disse que algo muito sério teria bloqueado o renascer da minha "amiga". E que, se eu realmente quisesse revê-la, deveria me apressar para encontrar Djin, um poderoso gênio que tinha conhecimentos do além-vida. Eu tinha apenas 30 dias para encontrá-lo e ter meu pedido realizado... por um preço.
Corri até meus aposentos e escrevi uma série de cartas: para Sagal, para Milla, para Bryan, para Zago, para Trin Galord. Nessas cartas, pedi que respondessem-me endereçando à cidade de Darashia, onde eu estaria hospedado.
Após, passei pelos aposentos de Andrezinho e contei-lhe pessoalmente o que aconteceu. Ele aceitou a idéia de fazermos a viagem. Passei também pelos aposentos de Sam Scott, que também se prontificou a me ajudar. De mochilas prontas, estávamos rumando às areias escaldantes de Darashia, encontrar o Gênio do Deserto, que me passaria as informações sobre a vida e sobre a morte. Eu não me importaria com o preço, desde que soubesse o que traria Malu de volta até mim.
O Sol Tibiano do meio-dia era refletido nas águas do oceano que banha o norte de Venore. Subíamos ao barco: Andrezinho, Scott e eu. Fiquei no topo da rampa de acesso até o último viajante, nutrido pela esperança de que mais alguém embracaria. E imaginei que estava errado em esperar, até que Grazi também subiu a bordo. E nosso barco zarpou.
Chegaríamos nas areias escaldantes de Darashia apenas no outro dia. Mas essa parte de minha história, meu amigo, será contada logo mais. Apenas descanse seus ouvidos de minha voz. E seus olhos de minhas letras.
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