terça-feira, 24 de março de 2009

A história sem começo...

- Fiquei sabendo, meu bom amigo, fiquei sabendo.

- De quê? Do que foi que ficou sabendo?

- Como se não bastasse você ter ganhado o cargo de sargento da tropa, sei que você queria esse cargo por causa dela.

- Está certo, eu adimito...

- Como você acha que os outros soldados, da mesma patente que ela, vão reagir ao saberem?

- Eu não disse que o que eu sinto será concretizado.

- Eu sei, mas você vai sonhar e não vai tentar?

- Eu não sei. Conte-me, como foi que você descobriu?

- Percebi pela maneira que você a olhava. Você queria ser superior a ela, eu pude sentir. Ou isso... ou você queria algum destaque para que ela soubesse da sua existência.

- Vou ficar com a segunda opção, ok?

- Certo. Se você diz...

- Já que não é segredo pra você, eu queria dizer algo.

- Pois diga. [acendendo um cigarro]

- Não vejo a hora dessa guerra acabar. Queria poder me declarar a ela, levá-la para casa e ter filhos gordinhos com ela.

- Hahahaha... é um grande cara-de-pau! Mas insisto na pergunta: e se a corporação descobrir que é ela o seu... objeto de afeição?

- Dane-se toda a corporação. O mundo inteiro está tentando reagir a essa praga de invasão... não há nação, não há raça, não há religião...todos somos um, enquanto eles estão mais fortemente armados do que nós. E em maior número. Eu queria ser feliz, pelo menos antes do fim do mundo.

- Você já teve contato com ela após a promoção?

- Sim... ela me chamou de "cravo".

- Ela estava sendo irônica?

- Acho que estava sendo brincalhona. Eu sorri.

- E depois?

- Conversamos um pouco. Eu tive muita vontade de revelar a ela o que eu sinto. Mas sei tão pouco sobre sua vida... não sei se devo.

- Bom, sargento, talvez se o senhor...

- Pare com isso! Sempre seremos amigos. E esta guerra tem que acabar!

[O alarme soa. É como um grito de uma mulher prestes ao sacrifício. Em sincronia com o alarme, a marcha dos soldados e os gritos de "um, dois, vai, vai, vai!"]

- Essa conversa fica para outra hora, sargento!

[Pegam então as armas, e começam a descer as escadarias da torre.]

- Sobreviva, meu amigo. Eu ainda desejo lhe narrar nosso primeiro jantar juntos.

- E como foi? Vai me contar?

- Ainda não o tivemos.

[O Sol vermelho se põe. Os amigos se separam, cada qual ao seu setor. O Som do alarme é abafado pelo som das armas.]


Parênteses:
(Será que eu continuo?)

Frase:
"Perder, ganhar, cair, levantar... amar é bem melhor que ver o amor passar!"
(Trecho da música "Preto e Branco", da banda Vera Loca)

2 comentários:

  1. Gostei do conto, e acho que uma continuação seria boa, embora continuações estraguem os inícios perfeitos, em geral. Nem sempre.
    Conheço essa frase de algum lugar. [?]

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