- Fiquei sabendo, meu bom amigo, fiquei sabendo.
- De quê? Do que foi que ficou sabendo?
- Como se não bastasse você ter ganhado o cargo de sargento da tropa, sei que você queria esse cargo por causa dela.
- Está certo, eu adimito...
- Como você acha que os outros soldados, da mesma patente que ela, vão reagir ao saberem?
- Eu não disse que o que eu sinto será concretizado.
- Eu sei, mas você vai sonhar e não vai tentar?
- Eu não sei. Conte-me, como foi que você descobriu?
- Percebi pela maneira que você a olhava. Você queria ser superior a ela, eu pude sentir. Ou isso... ou você queria algum destaque para que ela soubesse da sua existência.
- Vou ficar com a segunda opção, ok?
- Certo. Se você diz...
- Já que não é segredo pra você, eu queria dizer algo.
- Pois diga. [acendendo um cigarro]
- Não vejo a hora dessa guerra acabar. Queria poder me declarar a ela, levá-la para casa e ter filhos gordinhos com ela.
- Hahahaha... é um grande cara-de-pau! Mas insisto na pergunta: e se a corporação descobrir que é ela o seu... objeto de afeição?
- Dane-se toda a corporação. O mundo inteiro está tentando reagir a essa praga de invasão... não há nação, não há raça, não há religião...todos somos um, enquanto eles estão mais fortemente armados do que nós. E em maior número. Eu queria ser feliz, pelo menos antes do fim do mundo.
- Você já teve contato com ela após a promoção?
- Sim... ela me chamou de "cravo".
- Ela estava sendo irônica?
- Acho que estava sendo brincalhona. Eu sorri.
- E depois?
- Conversamos um pouco. Eu tive muita vontade de revelar a ela o que eu sinto. Mas sei tão pouco sobre sua vida... não sei se devo.
- Bom, sargento, talvez se o senhor...
- Pare com isso! Sempre seremos amigos. E esta guerra tem que acabar!
[O alarme soa. É como um grito de uma mulher prestes ao sacrifício. Em sincronia com o alarme, a marcha dos soldados e os gritos de "um, dois, vai, vai, vai!"]
- Essa conversa fica para outra hora, sargento!
[Pegam então as armas, e começam a descer as escadarias da torre.]
- Sobreviva, meu amigo. Eu ainda desejo lhe narrar nosso primeiro jantar juntos.
- E como foi? Vai me contar?
- Ainda não o tivemos.
[O Sol vermelho se põe. Os amigos se separam, cada qual ao seu setor. O Som do alarme é abafado pelo som das armas.]
Parênteses:
(Será que eu continuo?)
Frase:
"Perder, ganhar, cair, levantar... amar é bem melhor que ver o amor passar!"
(Trecho da música "Preto e Branco", da banda Vera Loca)
olá
ResponderExcluirvisitei seu blog...
Rafa
Gostei do conto, e acho que uma continuação seria boa, embora continuações estraguem os inícios perfeitos, em geral. Nem sempre.
ResponderExcluirConheço essa frase de algum lugar. [?]